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Acidentados no exterior relatam descaso de seguradoras de viagem

Fonte Fantástico

No caso de dona Maísa, que estava no balão que caiu na Turquia e que precisou de avião UTI para voltar ao Brasil, o seguro não arcou com o custo.

Cada vez mais o brasileiro viaja ao exterior, mas nem sempre os turistas sabem o que estão contratando quando compram um plano de assistência de saúde para a viagem.

Os correspondentes Rodrigo Alvarez e Marcos Uchoa mostram casos de acidentes com brasileiros que dizem ter tido dificuldade para conseguir tratamento adequado. E esclarecem as dúvidas mais comuns dos consumidores.

A cidade de Kayseri tem uma das montanhas mais bonitas da Turquia, mas jamais esteve nos planos de dona Maísa. Quando ela resolveu sair do Rio para uma viagem com as amigas, o sonho era voar de balão pela Capadócia. E elas foram.

Só que o balão que caiu no mês passado, e três amigas da Dona Maísa morreram. Ela ficou uma semana na UTI e passou por cinco cirurgias,.

“Esse foi o pior lado, foi o lado que ficou encostado na parede do balão”, mostra Maísa Ildefonso, vítima do acidente.

O serviço de assistência de viagem dela é da empresa Coris, com cobertura de € 30 mil, quase R$ 86 mil para a chamada "repatriação sanitária", a volta ao Brasil.

Fantástico: Alguma vez vocês pensaram que € 30 mil podia ser pouco?
Dona Maísa: Nunca pensamos porque a agência dizia isso.

Fantástico: O que é que eles diziam?
Dona Maísa: Que era comum viajar para a Europa por € 30 mil.

Pela condição médica, Dona Maísa não pode enfrentar um voo comum. Depois do acidente, a empresa informou que o avião-UTI até o Brasil custaria US$ 100 mil, ou R$ 214 mil. Ou seja, os R$ 86 mil contratados não cobririam nem a metade do custo.

“Eu e meu irmão começamos a falar assim: não, a gente vai pagar esse avião. A gente tira tudo que a gente tem, vende, e paga o avião”, declara Cláudia Ildefonso, filha de dona Maísa.

Só que, pouco depois, o preço aumentou. “Houve um erro na cotação. A cotação, 100 mil. Eram euros, não eram dólares”, conta Cláudia.

Era o triplo do que cobre o serviço de assistência.

Depois disso, a representante da empresa mandou um outro email para a filha de dona Maísa pedindo desculpas pelo erro na cotação do avião-UTI e oferecendo uma alternativa: ela poderia ser repatriada ao Brasil usando apenas € 30 mil previstos em contrato e sem pagar um único centavo a mais por isso. Dona Maísa viajaria acompanhada de médico, de enfermeira e ainda com os equipamentos considerados necessários. Só que esse mesmo email tinha uma ressalva.

O voo seria em um avião comercial, e não um avião-UTI. Justamente o que disse ser perigoso dois dias antes. Foi quando o advogado contratado por dona Maísa na Turquia telefonou para o hospital.

“Agora, nesse momento, ele acabou de ligar avisando que o avião vai chegar aqui na segunda-feira. E a gente vai viajar na terça-feira de manhã”, diz Cláudia.

Assim, dona Maísa voa para o Brasil na terça-feira (18) em uma UTI aérea, paga pela seguradora das empresas envolvidas no acidente. Em nota, a empresa Coris afirmou que os serviços adquiridos têm limite de coberturas, e que as coberturas estão sendo executadas.

Se tudo ocorrer como planejado, quase um mês depois do acidente Dona Maísa vai deixar o pesadelo a mais de 10 mil quilômetros de casa para realizar um novo sonho: “Eu queria tanto comer um feijãozinho preto, com pirezinho de batata e uma carne moída. Uma saudade imensa”, diz.

Você viu no Fantástico o reencontro de Wagner e Rosana, uma semana depois do acidente com balão na Turquia.

“Eu não vi quando o balão caiu, não vi”, disse Wagner.
“Você desmaiou em cima do meu pé”, declarou Rosana.

Na última terça-feira (11) eles voltaram ao Brasil, e foram direto para o hospital.

Wagner e Rosana tinham contratado um serviço de saúde para viagem à Turquia, sem saber o que contrataram.

Fantástico: O senhor leu a apólice?
Wagner: Não.

O valor da assistência era como o de dona Maísa: € 30 mil, mais de R$ 60 mil. Muito dinheiro, mas... “Em três dias que eu estava na UTI, os € 30 mil já tinham acabado”, conta Wagner.

Na queda do balão, Wagner e Rosana tiveram fraturas nas vértebras e precisaram de várias cirurgias.

“O hospital entrou em contato com a turma do balão, meu filho entrou, eles falaram que iam assumir as despesas lá”, diz Wagner.

Os 23 de internação e procedimentos foram pagos pelas seguradoras das empresas dos balões envolvidos no acidente.

Já a empresa de assistência vai reembolsar a viagem dos filhos à Turquia e pagou a volta do casal em voo de primeira classe, a um custo que chega a R$ 40 mil.

“Seguro é uma coisa que a gente não quer usar. Mas é sempre bom ter”, diz Fabiano dos Santos, filho de Wagner e Rosana.

Dona Theresa, de 79 anos, também tinha. Mesmo assim o caso dela foi bem complicado.

No domingo passado (9), dona Theresa finalmente voltou ao Brasil. Foram 26 dias em três hospitais de dois países.

Ela fazia um cruzeiro na Rússia. Escorregou no navio e teve que ser hospitalizada.

Primeiro, foi para uma clínica em São Petersburgo. O diagnóstico: fratura na bacia. E o neto viajou do Brasil para ajudar.

“Quando eu cheguei lá, eu achei: ‘ela tem que operar logo aqui, que se ela operar aqui não vai ter o mesmo transtorno que vai ter quando voltar para o Brasil, ela já volta curada’. Aí falaram: 'não, a gente vai fazer a operação daqui a dois dias'. Isso, na primeira semana. A gente passou três dias sem ninguém aparecer no quarto, dando notícia nenhuma”, conta Simon Friedman, neto de dona Theresa.

Depois, Dona Theresa foi transferida para um hospital público que fica em outra cidade. Lá, os médicos disseram que ela tinha que colocar uma prótese.

“Me senti abandonada em um país que ninguém falava a minha língua, e que simplesmente não tomavam conhecimento se eu estava com dor, se eu não estava com dor”, conta dona Theresa.

A família não autorizou a cirurgia na bacia. Mas ela teve que fazer outra operação, de estabilização, para poder viajar.

Finalmente, por sugestão da empresa de assistência de viagem contratada por dona Theresa, ela foi transferida para um hospital em Paris, na França.

A filha Valéria se queixa das informações prestadas pela empresa: “Quando a empresa de seguro entrava em contato comigo, era assim: 'ela vai fazer a cirurgia'; ‘ela já fez a cirurgia, você não sabe’. 'Ah, ela vai ser transferida para fazer exame'; ‘não, ela já fez o exame’. Então, assim, em momento algum o tempo foi correto”, declara Valéria Zettel, filha de Dona Theresa.

Em nota, a empresa Axa, de assistência de viagem, afirma que a central de atendimento no Brasil manteve 97 contatos com a família, por telefone e email. A empresa diz também que todos os procedimentos adotados serviram para evitar riscos e complicações em uma paciente com condição de saúde frágil.

As despesas médicas e hospitalares no exterior foram cobertas pela assistência contratada por dona Theresa. A família diz que gastou R$ 25 mil com médicos no Brasil, que monitoraram o caso à distância e as viagens da filha e do neto para a Rússia e para a França. O reembolso ainda não foi solicitado.

No ano passado, nove milhões de passageiros saíram do Brasil para o exterior, 300 mil a mais do que em 2011.

Só que nem todo passageiro tira as dúvidas sobre o serviço de saúde na hora de viajar. Veja as dicas:

Uma coisa é a assistência de viagem, e outra coisa é o seguro-viagem. “A assistência à viagem te oferece uma rede credenciada. No caso do seguro, além de ter esse tipo de atendimento, você conta também com a opção de escolha da clínica que você deseja, e pode pedir reembolso ao chegar no Brasil”, explica Aline Coropos, da Federação Nacional de Previdência Privada.

Nem tudo pode ser coberto pelo seguro. “O seguro viagem não cobre, por exemplo, doenças pré-existentes”, diz Lauro Faria, professor da Escola Nacional de Seguros.

“Tem planos que não oferecem cobertura para esportes radicais, tem planos que não oferecem cobertura para gestantes”, diz Aline Coropos.

E o que não pode faltar? “Não pode faltar a cobertura de morte e invalidez por acidente. O resto são coberturas adicionais, que podem ser ou não acrescentadas”, alerta Lauro Faria.

Explique ao agente de viagens ou ao representante do plano tudo o que você pretende fazer no passeio. “Saber o que o indivíduo vai fazer na viagem é fundamental para o corretor ou especialista poder indicar a ele qual é o perfil de risco que ele tem”, declara Lauro Faria.

E, por fim, uma recomendação especial para a turma da terceira idade. Quem dá é o médico da dona Theresa: “Depois de uma certa idade, eu acho que a pessoa tem que pensar para onde vai, fazer um seguro bem feito, para que possa ter a certeza de que vai ser bem atendida para onde vai”, alerta o médico.

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