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Independente e rentável

Fonte Valor Econômico

Por Luciana Seabra | De São Paulo

Em um investimento de longo prazo como a previdência, 11 pontos percentuais adicionais de retorno são um prato cheio. Foi essa a diferença de rentabilidade obtida pelas carteiras de gestoras independentes em relação às das casas tradicionais nos últimos cinco anos. Enquanto os fundos de previdência de gestores ligados a bancos renderam 43%, na média, os de independentes ganharam 54% no período encerrado em abril. No acumulado deste ano - bastante desafiador para os gestores - os tradicionais entregaram 0,1% de retorno, bem abaixo do 0,7% dos independentes. Os dados são de um estudo realizado pelas consultorias NetQuant e Towers Watson a pedido do Valor com 730 fundos abertos de previdência.

Os fundos de gestores independentes ainda são uma parte muito pequena do mercado, com apenas 1,4% do patrimônio aplicado em previdência. O valor, entretanto, cresce com velocidade. Dobrou nos últimos dois anos e chegou a R$ 4,1 bilhões em abril. Há cinco anos eram somente R$ 530 milhões. Com o diferencial de retorno, os independentes tendem a ganhar espaço, afirma Marcelo Nazareth, sócio-diretor da NetQuant, ainda que não cheguem aos níveis de patrimônio dos fundos geridos por bancos, à frente na distribuição. "Uma rede de varejo, com a capilaridade das agências, é uma força superpoderosa", diz Nazareth.




Os gestores independentes não podem distribuir os próprios fundos ao investidor, por determinação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Alguns têm braços de distribuição para fazê-lo, mas não chegam a alcançar a capilaridade dos bancos. Para criar um fundo de previdência eles precisam se associar a uma seguradora, que pode distribuir o fundo. O problema é que ali concorrem com as carteiras caseiras. "Como têm seus próprios produtos, os distribuidores têm pouco interesse em mobilizar a força de venda para fundos de outras gestoras", diz Luciano Sobral, gestor da Fram Capital.

Ou seja, cabe ao investidor vasculhar as prateleiras em busca dos independentes que geram bons retornos. Eles estão lá, mas dificilmente serão entregues de bandeja. Para os investidores persistentes, o retorno é potencializado pelo custo, já que em geral os planos dos independentes não cobram taxa de carregamento, que com frequência incide sobre as contribuições nos tradicionais.

Dois fundos de previdência da Fram - um exclusivo e outro aberto - estão entre as carteiras de independentes mais rentáveis nos últimos cinco anos, com ganhos de cerca de 80%. Na carteira aberta a investidores, é possível ter até 30% alocados em renda variável, mas a regra é reagir ao preço. Ativos baratos entram na carteira e os caros saem. "Como o passivo é de longo prazo, temos mais liberdade para aplicar as nossas convicções", afirma Sobral. A Fram administra cerca de R$ 200 milhões em carteiras de previdência.

A gestão ativa, sem qualquer apego a índices e com agilidade para troca de ativos, é o que garante o desempenho diferenciado dos gestores independentes. A maior exposição à renda variável, com ações selecionadas, também pesa. Metade dos recursos aplicados em gestores independentes está em fundos com mandato para aplicar até 49% em renda variável, o limite permitido em previdência. Nos fundos tradicionais, apenas 8% do patrimônio está investido nessas carteiras. Os fundos independentes com mandato para chegar ao limite em ações renderam em média 56% nos últimos cinco anos, enquanto o Ibovespa caiu 14%.

Não é, entretanto, somente na renda variável que os independentes se destacam. O fundo de maior retorno nos últimos cinco anos é da Credit Suisse Hedging Griffo (CSHG), que dobrou os recursos aplicados por meio de uma estratégia em renda fixa. Desde 2008, a carteira aplica em papéis que pagam juro real. É o caso das NTN-Bs, títulos públicos que rendem uma taxa prefixada mais inflação. Na época, era possível encontrar papéis com juro real de 10%. "Vimos que tinha ali uma oportunidade muito grande", diz Ricardo Valente, gestor de renda fixa da CSHG. Os fundos de previdência da casa reúnem patrimônio de R$ 365 milhões.

Não foi somente a CSHG que se aproveitou da queda de juros para ganhar com títulos pré, principalmente no ano passado. Grande parte dos administradores de carteiras de previdência ganhou com o movimento. O diferencial, diz Valente, está na gestão ativa dos prazos dos papéis. A gestora busca se movimentar entre vencimentos curtos e longos com agilidade e se aproveitar de imperfeições da curva que projeta as estimativas do mercado para os juros.

Com os juros mais baixos, a tendência é que os diferenciais da gestão ativa saltem ainda mais aos olhos. "Quando o retorno era de IPCA mais 10%, qualquer um que comprava papel longo conseguia surfar com excepcionais rentabilidades. Agora que não tem mais tanta gordura, será exigida mais habilidade do gestor", diz Valente.

Em 2013, o segundo fundo de previdência mais rentável até abril é também de uma gestora independente, a Nest Investimentos. A carteira, criada há oito meses, ganha 4,6% no ano. "Vimos uma oportunidade de replicar o que já fazíamos em nossa carteira de ações em um fundo de previdência", diz o sócio Felipe Prata. A casa repetiu somente a parte comprada - hoje nos setores financeiro e de bens de capital - já que as regras de previdência não permitem fazer posições "vendidas", que apostam na queda do valor do papel. Também teve que obedecer o limite de 49% em ações, deixando o restante dos recursos em renda fixa, atrelada ao Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI).

Aos poucos, considera Prata, os investidores vão perceber que os fundos de gestores independentes têm retornos melhores. No curto prazo, isso vai se refletir em um crescimento da portabilidade. "Ela não tem custos e é fácil de fazer, ainda que o investidor tenha que pedir ao gerente, que vai tentar segurá-lo de qualquer forma no banco", diz. No longo prazo, espera Prata, os próprios bancos terão que começar a distribuir os fundos de gestores independentes, até pela demanda dos clientes. Nesse caso, serão remunerados por meio dos rebates, uma parcela da taxa de administração paga no fundo.

É bom lembrar que o investidor não perde segurança ao aplicar sua previdência em um fundo de gestor independente. "Nossa maior dificuldade com novos clientes é convencê-los de que o dinheiro não transita pela conta do gestor", afirma Rogério Braga, gestor da Quantitas. Como no mercado de fundos não previdenciários, se houver qualquer problema com o gestor, caberá aos reguladores nomear um novo, sem prejuízos ao investidor.

A Quantitas é dona de dois dos fundos de previdência mais rentáveis em cinco anos segundo o levantamento. Na casa, o diferencial de retorno vem da gestão ativa em títulos de crédito privado. A gestora busca não se expor em papéis de alto risco, mas faz uma alocação dinâmica. No início de 2012, por exemplo, aproveitou taxas elevadas oferecidas por bancos para comprar papéis. Agora que as taxas estão mais baixas, a casa tem mantido mais dinheiro em caixa. "O que os gestores tradicionais muitas vezes fazem é comprar ativos e deixá-los até o vencimento. O que a gente faz é tentar enxergar oportunidades de trocar um emissor por outro", diz Braga.

Como no mundo dos independentes as marcas não são tão conhecidas quanto as dos bancos, o investidor também poderia ficar inseguro sobre qual alocador escolher. A boa notícia é que mesmo os piores independentes ganham dos tradicionais. Enquanto nos últimos cinco anos os dez fundos tradicionais de pior desempenho renderam 11%, os piores independentes ganharam, em média, 35%.

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