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A hora do seguro

Fonte: Exame

Por Natália FLACH

O escritório do executivo Marco Antônio de Simas Castro, presidente da resseguradora britânica Lloyd’s, foi contemplado com uma das vistas mais valorizadas do Rio de Janeiro. De sua mesa descortina-se a Marina da Glória, uma das joias da Baía de Guanabara. No entanto, o que faz os seus olhos brilharem mesmo é um cenário bem menos esplendoroso, o dos canteiros de obras. “O Brasil é a maior história de sucesso da Lloyds, mas ainda representa muito pouco nos negócios da companhia”, diz Castro. “O potencial de crescimento é muito grande.” Por isso, a Lloyd’s estuda ampliar sua atuação no País, atualmente restrita ao ramo de resseguros, e abrir uma seguradora.

A hora não poderia ser mais oportuna. Uma pesquisa mundial com 588 CEOs e CFOs feita pela Lloyd’s revela que as deficiências brasileiras na infraestrutura são o terceiro maior fator de risco para quem pretende atuar no País, atrás apenas dos altos impostos e da possibilidade da perda de clientes e do cancelamento de encomendas. Em 2008, esse problema figurava na 28ª posição da lista de aflições. Ruim para alguns, ótimo para outros. Para as seguradoras, por exemplo, o crescimento desse temor na mente dos empresários representa um prognóstico de bons negócios. “O País tem um déficit de seguros que chega a quase US$ 13 bilhões”, diz Castro.

Por isso, os leilões de concessões de aeroportos, ferrovias e rodovias, que só agora começam a sair do papel, representam um potencial de R$ 47 bilhões em apólices, que podem gerar prêmios de R$ 250 milhões em seguro-garantia (que protege o contratante no caso de a empresa contratada não entregar a obra) e de R$ 370 milhões em seguro-engenharia (que protege todos contra riscos geológicos, entre outros). Desse total, 70% devem ser ressegurados, e, assim como a Lloyd’s, nomes como JMalucelli, BB Mapfre, Allianz e Munich Re estão de olho nesse mercado. Apesar do potencial, alguns pontos precisam passar por uma análise de risco antes que as seguradoras se lancem à disputa pelo mercado.

Uma das preocupações são os elevados deságios obtidos nos leilões de licitação. No duelo pela concorrência da rodovia BR-050, que liga um trecho de Minas Gerais a Goiás, o valor oferecido pelo consórcio vencedor ficou 42,38% abaixo do teto estabelecido pelo governo. Bom para o motorista, que vai pagar menos pedágio, mas um risco adicional de que o vencedor não tenha capacidade financeira de cumprir todas as cláusulas do contrato, como os itens de segurança e conservação. “O deságio pode ser um bom sinal, um indicador de que as empresas vencedoras conseguiram sinergias para lucrar cobrando menos”, diz Tânia Amaral Heydenreich, chefe do departamento de análise de riscos financeiros da alemã Munich Re. “No entanto, se as empresas não conseguirem demonstrar a viabilidade financeira de seus projetos, o risco de não cumprimento aumenta.”

Com impacto no preço dos seguros, portanto. Segundo Tânia, isso ocorre tanto no seguro-garantia quanto no seguro-engenharia, uma vez que pode existir uma pressão por técnicas e soluções de engenharia menos convencionais. De acordo com Edson Toguchi, diretor de grandes riscos da Allianz, o interesse pelas grandes obras de infraestrutura provocou também um avanço no número de novas seguradoras. “Até agora, apenas oito seguradoras cuidavam de grandes riscos, mas a infraestrutura trouxe muitos novatos a esse mercado”, afirma. A incerteza com os recém-chegados não é o único fator a acender luzes de alerta nas seguradoras. Outros velhos conhecidos também levantam preocupações. Até o ano passado, as companhias do empresário Eike Batista seriam candidatas naturais a participar dos leilões.

No entanto, a situação delicada do Mundo X mudou esse quadro e a palavra de ordem agora é reestruturação. “A situação da companhia acendeu a luz amarela não apenas no mercado de seguros, mas também no mercado de capitais e nos sistemas de controles”, diz Ives Cézar Fülber, diretor de gestão de riscos do BB Mapfre. Gustavo Henrich, vice-presidente da JMalucelli, acrescenta que a possibilidade de a OGX entrar em recuperação judicial ainda não trouxe reflexos para a formação de preços de garantias. “É natural, porém, que o mercado esteja acompanhando o desenrolar desse processo.” Tânia assina embaixo. “Devido à forte concorrência, as condições contratuais e a análise de riscos estavam mais flexíveis, e acontecimentos relevantes, como esse, tendem a reverter esse ciclo.”

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