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Caixões reciclados são rotina

Fonte: Correio Braziliense

Dono da funerária Santo Antônio, Baltazar Batista da Silva também denuncia as fraudes em auxílios-funerais. Ele, inclusive, decidiu encaminhar documentos ao Ministério Público Federal para formalizar uma investigação sobre as irregularidades no setor. “Atendemos os clientes que querem usar nossos serviços, mas, na hora de acionar a assistência do seguro, os perdemos. Até urnas de segunda mão são utilizadas pelas empresas que fazem parte do esquema, como forma de economizar no funeral e embolsar mais dinheiro da cobertura”, conta.

O presidente da Associação Brasileira de Empresas e Diretores do Setor Funerário (Abredif), Lourival Antonio Panhozzi, garante que esses golpes vêm sendo praticados desde 1994, sem que nada seja feito para coibi-los. “O setor vive dois problemas distintos. O mais grave deles é o esquema das plataformas, que fazem a intermediação dos auxílios-funerais. Mas também existem assistências funeral que as redes de varejo embutem na compra de uma geladeira, por exemplo, e que ninguém usa porque nem sabe que contratou ou porque vence em apenas um ou dois anos, durante a vigência da garantia estendida”, diz.

Na avaliação de Panhozzi, muitas vezes o cliente tem um auxílio-funeral dentro de um seguro normal contratado com empresas bastante conhecidas no mercado. “Só que as seguradoras não tratam direto com as funerárias. Quando acionadas, passam o serviço para uma plataforma — que são as empresas de assistência. Elas, por sua vez, escolhem uma funerária que participa do esquema. Assim, o seguradora paga o benefício de R$ 5 mil e o funeral oferecido custa R$ 2 mil, com nota de R$ 5 mil. Os R$ 3 mil restantes ficam pelo caminho”, alerta.

O presidente da Abredif cita um exemplo recente: ao ser contratado para o serviço funerário de um casal, ligou para a intermediária e foi informado de que cada um tinha o benefício de R$ 3 mil, mas que para ele prestar o serviço teria de pagar 10% do total como propina.

“Depois, descobrimos que a cobertura do casal era de R$ 5 mil para cada um. Além dos R$ 600 de ‘pedágio’ que eu teria que pagar por um trabalho que já era meu, o valor total seria subtraído em R$ 4 mil”, revela Panhozzi. Ele diz, ainda, que os clientes segurados não têm o direito de escolher a funerária porque são redirecionados pela intermediária a alguma empresa que faça parte do esquema.

Papa-defunto

 Para o deputado Armando Vergílio (PSD-GO), que presidiu a Superintendência de Seguros Privados (Susep), órgão que regula o fiscaliza o setor, os golpes decorrem de uma grande guerra que existe entre o mercado regulamentado e o não regulamentado de seguros.

“As seguradoras têm uma base estrutural, e o sistema não regulamentado tem muitas empresas boas e idôneas, familiares inclusive, mas também algumas que não cumprem os contratos”, explica Vergílio. Ele argumenta que as funerárias reclamantes gostariam de participar do rol daquelas contratadas pelas seguradoras, de forma a dar maior transparência ao sistema e conter os desvios que beneficiam um grupo restrito

 No mercado segurador, o mecanismo de utilizar uma terceirizada para contratar os serviços é normal. Assim como no seguro de carros as empresas acionam prestadoras de serviços de guinchos, por exemplo, também no caso do auxílio funeral, as assistências funcionam como intermediárias e possuem funerárias credenciadas. “Nós acreditamos que, talvez, as seguradoras não saibam o que acontece porque elas repassam o benefício total.
 
 O problema é que há alguém dentro das empresas que têm esquemas com determinadas plataformas e funerárias para reduzir a cobertura e ficar com parte do valor”, alega Lourival Panhozzi, que já tentou denunciar o caso à Susep mais de um vez e sempre é informado de que a reclamação deve partir de consumidores prejudicados.
 
 Procurada pelo Correio, a Susep, cuja missão é proteger os consumidores,  diz que a figura do intermediário nos auxílios- funerais, não sendo corretor de seguros, é desconhecida. E admite que, se as denúncias procederem, configuram irregularidades. “Se essa prática se confirmar, é crime”, afirma.
 A autarquia ainda alerta para a existência de planos piratas comercializados pelas próprias funerárias, alvo de “intenso combate” pelo órgão, juntamente com o Ministério Público, a Receita Federal e a Polícia Federal. (SK)
 
 

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