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Previdência tem momento de maior incerteza desde 2008

Fonte Extra

RIO — Com o rendimento pressionado pelo aumento de juros e queda das ações na Bolsa de Valores, os fundos de previdência privada sofreram saques líquidos de R$ 672 milhões em julho e depósitos de apenas R$ 46 milhões em agosto, o pior desempenho em cinco anos do setor, de acordo com levantamento da Mongeral Aegon, a pedido do GLOBO, em dados de 727 fundos do mercado. Os clientes de planos de previdência privada — os chamados PGBL (Plano Gerador de Benefícios Livres) e VGBL (Vida Gerador de Benefícios Livres) — sacaram recursos preocupados com os efeitos do baixo retorno sobre seus projetos de aposentadoria. E os próximos dias prometem mais volatilidade, já que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) decide na quarta-feira os rumos da política monetária americana, com a possível redução do programa de recompra de títulos públicos. Especialistas recomendam não sacar os recursos e dizem que o melhor é esperar o fim da instabilidade.

Segundo o levantamento, os fundos de previdência de renda fixa tiveram retorno de apenas 2,18% no ano, quase a metade do ganho da poupança, que rendeu 4,09% no período. O fraco desempenho está ligado ao comportamento dos títulos públicos prefixados e atrelado à inflação que os fundos têm nas carteiras. Quando os juros básicos da economia sobem, os ganhos desses títulos encolhem ou podem mesmo ficar negativos.

Plano com ação no vermelho

Já os fundos de previdência que aplicam parte do patrimônio em ações têm perdas de 0,34% (fundos com até 15% de ações na carteira) a 5,76% (com até 49% de ações) no acumulado do ano até agosto, efeito do recuo na Bolsa. Os fundos previdência multimercados — que permitem aos gestores aplicar o dinheiro em diferentes ativos, como títulos públicos, ações e câmbio, por exemplo — têm uma rentabilidade negativa de 0,21%.

Segundo Cláudio Pires, diretor da Mongeral Aegon Investimentos, os clientes das seguradoras sacam seus recursos na medida que percebem que a rentabilidade está baixa:

— É um cliente acostumado ao que chamamos de performance reloginho. Podemos ter mais turbulência de curto prazo com a reunião do Fed. Temos recomendado aos nossos clientes não sacarem, não saírem no momento de baixa.

A publicitária Roberta Clark, por exemplo, tem planos de previdência para ela, o marido e a filha. Ela diz que mudou três vezes de planos nos últimos anos e que, agora, evita acompanhar diariamente o retorno do dinheiro aplicado.

— Quando você faz previdência, tem que ter na cabeça que vai ter meses bons e outros que não vão ser tão bons. E não ficar doente com isso. É importante pensar a longo prazo — diz Roberta.

A professora Myrian Lund, da Fundação Getulio Vargas (FGV), diz que não vale a pena sacar dos planos por vários motivos, como o Imposto de Renda (IR), que chega a 35% pela tabela regressiva para aplicações de menos de dois anos, ou para não perder regras combinadas no momento da adesão, como a chamada tábua atuarial, que projeta as expectativas de vida.

— Se a esperança de vida aumenta, a renda mensal diminui, já que a pessoa tende a viver por mais tempo. As tábuas antigas são melhores para isso, e perdê-las sacando o dinheiro pode ser ruim — diz Myrian.

Mas os clientes dos planos de previdência têm adotado a portabilidade de planos, de uma seguradora para outra. Isso também pode levar à perda da tábua atuarial. Segundo a Superintendência de Seguros Privados (Susep), a portabilidade de PGBL e VGBL somou R$ 3,7 bilhões de janeiro a julho deste ano, frente a R$ 3,2 bilhões do ano passado.

Novos produtos

Para oferecer alternativas dentro da previdência e evitar a saída dos clientes, as empresas do setor têm lançado novos produtos. A Icatu Seguros lançou dois fundos de previdência multimercados: como o Ibiúna Previdência e o Brasil Plural Previdência.

— Existem clientes sacando recursos para investir em outros produtos, como fundos imobiliários. Mas temos conseguido mostrar que isso não vale a pena e dado alternativas — diz Sérgio Prates, superintendente de produtos de Previdência da Icatu Seguros.

Na Brasilprev, ligado ao Banco do Brasil (BB), a educação financeira tem sido a aposta para manter os clientes, diz Altair César de Jesus, superintendente de investimentos:

— O que está acontecendo no mercado não é natural, mas quando se está bem estruturado e se vende projetos de longo prazo, se você conseguir mostrar isso aos clientes, ele fica.

Regras dos planos

PGBL: Plano Gerador de Benefício Livre. Permite deduzir o valor das contribuições da base de cálculo do Imposto de Renda (IR), com limite de 12% da renda bruta anual. É indicado para quem faz a declaração completa do IR. Quando sacar o benefício, o IR é cobrado sobre o total resgatado.

VGBL: Vida Geradora de Benefício Livre. O investidor é tributado apenas sobre o ganho de capital e no resgate do plano. É mais indicado para quem faz a declaração simplificada do IR.

Taxa de carregamento: É cobrada sobre aplicações ou resgates para ressarcir a seguradora de custos com o gerenciamento plano.

Taxa de administração: É cobrada pelo administrador e remunera atividades como compra e venda de papéis para a carteira do investidor. Ela pode cair com o aumento das reservas e o maior prazo da aplicação.

Portabilidade: Os clientes insatisfeitos com taxas ou rendimento podem se beneficiar da portabilidade, em que o titular migra o montante acumulado para outra instituição.


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