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É fundamental que o governo passe a trabalhar em conjunto com as seguradoras em busca de soluções que reduzam o impacto do envelhecimento

Fonte: Sonho Seguro - Denise Bueno

Uma combinação entre aumento da expectativa média de vida e recuo expressivo da taxa de natalidade vem fazendo com que a população brasileira entre em um processo acelerado de envelhecimento. O fenômeno, já registrado em grande parte da Europa, Japão e mesmo em países vizinhos como Argentina e Uruguai, ocorre numa velocidade muito maior por aqui, o que representa enormes desafios nos campos econômico, social e da saúde. A conclusão é dos especialistas convidados no 8º Fórum internacional de seguros para jornalistas, organizado pela Allianz Seguros, e realizado nesta quinta-feira, 24.

Michael Heise, economista-chefe do Grupo Allianz, Marcelo Caetano, economista e pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), André Portela, especialista em Economia Social, Economia do Trabalho e coordenador do Centro de Microeconomia da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP) participaram do debate e concordam que o maior desafio é criar agenda público-privada que sustente o crescimento e o ganho de produtividade da economia no futuro breve.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre 2001 e 2011, o percentual de habitantes do país com 60 anos ou mais saltou de 9% para 12%. Em números absolutos, isso significa que, em uma década, o contingente de idosos subiu de 15,5 milhões para 23,5 milhões. E o movimento continuará ganhando intensidade nas próximas décadas. De acordo com as projeções do Global AgeWatch Index, em 2050, 29% da população brasileira terá pelo menos 60 anos.

Caetano avalia que a rapidez com que vem acontecendo a inversão da pirâmide demográfica torna o fenômeno brasileiro mais complexo, uma vez que a renda per capita não acompanhou o mesmo ritmo do avanço da idade da população. “Enquanto países como Itália, Holanda e França levaram mais de 40 anos para ver a população com mais de 60 anos dobrar de 10% para 20%, o Brasil não terá esse tempo todo e ainda conservará níveis de renda de país médio quando isso acontecer”, compara.

O ranking do Banco Mundial mostra que, enquanto os países da Zona do Euro têm Renda per capita anual de US$ 30 mil, a brasileira é de cerca de apenas US$ 10 mil. “Melhorar esse quadro exige crescimento e adoção de políticas públicas, temas que terão de entrar na agenda econômica dos países da América Latina já nas próximas décadas”, completa.

O economista do IPEA destaca, entretanto, que, sozinho, o Estado não terá como dar conta de custos tão expressivos. “Principalmente nas áreas de saúde e previdência, será preciso que existam complementações público-privadas, até para que as contas do governo não sofram uma pressão ainda maior com a alocação de gastos para a população”.

Para que as possibilidades de cooperação entre Estado e iniciativa privada se concretizem, contudo, é importante fazer com que a discussão sobre o tema – hoje em estágio inicial – ganhe outra dinâmica. “É fundamental dar esse primeiro passo para que o governo passe a trabalhar em conjunto com as seguradoras em busca de soluções que reduzam o impacto do envelhecimento populacional”, afirma Ingo Dietz, diretor executivo da Allianz Seguros, responsável pelas áreas de Relações Institucionais, Sustentabilidade e Global Automotive.

Do ponto de vista do mercado de trabalho, encontrar formas para diminuir os impactos que a maior longevidade representará terá de passar, necessariamente, pelo aumento da produtividade do trabalhador brasileiro. “Com uma parcela menor de pessoas aptas a trabalhar, renda de país médio e estrutura etária de nação rica, o aumento da produtividade no Brasil tem de ser brutal para garantir o crescimento econômico nas próximas décadas”, projeta Portela, da FGV-SP.

Além dessa tarefa obrigatória, o acadêmico recomenda que o governo retome, o quanto antes, a agenda de reformas trabalhistas e previdenciárias. “As reformas, assim como a adoção de uma política de abertura e incentivo à imigração qualificada, são maneiras de mitigar a carga que a rápida inversão de nossa pirâmide etária representa.”

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