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Revisão de planos

Fonte: Valor Econômico

Por Roseli Loturco | Para o Valor, de São Paulo

Se for analisada a última década do mercado de previdência aberta no país, 2013 aparece como o pior ano em termos de retiradas. A indústria ainda não havia experimentado a captação líquida negativa, ocorrida em julho, quando houve mais saídas do que entradas de recursos novos em carteira, o que culminou em um resultado nada agradável: - R$ 380.888.290,88, segundo dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep). "Foi o único mês da série histórica, desde 95, em que a captação líquida foi negativa. Nós também sentimos e registramos menos R$ 50 milhões na carteira em julho. Mas isso já foi superado. O Bradesco deve crescer 15% em previdência este ano e seguimos líderes absolutos", afirma o presidente da Bradesco Vida e Previdência, Lúcio Flávio Condurú de Oliveira, que detém 32,28% das reservas desses fundos no país.
 
 

De lá para cá, o que se vê é uma recuperação mais forte e estruturada. No acumulado até setembro são R$ 21,26 bilhões de saldo líquido. É bem menos do que o verificado em 2012, ano recorde, com R$ 42,69 bilhões de captações líquidas. Como os três últimos meses do ano costumam representar o melhor período da indústria, essa performance pode melhorar. O trimestre ligado ao Natal chega a engordar em 35% o total apurado do ano. "Vínhamos saltando na última década entre 25% e 30% ao ano. Em 2013, devemos avançar entre 18% e 19%. Nada mal, se considerarmos um PIB que não deve crescer mais do que 2,5%", avalia Osvaldo do Nascimento, presidente da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi).
 
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Para ele, as vendas desses produtos estão diretamente ligadas à economia e a renda. "Se a economia está volátil, afeta o humor do investidor. Não tem milagre."

Para o executivo, 2014 ainda reserva incertezas em relação às economias interna e externa (política de incentivos nos EUA e desaceleração da China), além da realização das eleições e da Copa do Mundo no Brasil, o que pode atrapalhar um pouco a retomada mais forte. "A partir de 2015, voltaremos a patamares anteriores."

Pelas projeções de Nascimento, os fundos de previdência devem atingir o seu primeiro trilhão de reais em 2017. Otimismo demais na avaliação de parceiros de mercado e bem distante dos atuais R$ 358,8 bilhões de reservas dos fundos. Para a Bradesco, esse número deve demorar um pouco mais para ser atingido. "Estamos mais próximos dos R$ 500 bilhões, previstos para 2016, do que do primeiro trilhão", diz Condurú.

Nem todos sentiram a crise tão intensamente. A BrasilPrev, ligada à BB Seguridade, e terceira colocada no ranking de maiores reservas, admite que houve maiores saques em julho, mas informa ter ficado longe do terreno negativo. "A carteira caiu de uma média de R$ 1 bilhão de captação líquida por mês para R$ 400 milhões. Mas conseguimos segurar as retiradas excessivas", afirma Miguel Cícero Terra Lima, presidente da BrasilPrev, que fechou os dez primeiros meses do ano com saldo de R$ 10,4 bilhões e crescimento de 5,5% ante mesmo período de 2012. "No ano, somos líderes em captação líquida, com 56,8% de market share, apesar de um 2013 não tão bom e de um investidor inseguro", garante Terra Lima.

A explicação para o recuo é simples. A curva de juros, que vinha caindo desde 2012, começou a subir a partir de maio e pegou as carteiras de renda fixa de previdência no meio do processo de alongamento de seus ativos - uma exigência do governo. O que provocou enorme volatilidade no mercado e rentabilidade negativa nos fundos - que já se reverteu. Isso porque eles são compostos predominantemente de títulos públicos do governo, que pagam inflação mais um percentual. "Tivemos que explicar ao investidor que a renda fixa não é tão fixa assim. Foi um trabalho árduo de educação financeira. Mostramos que o produto é imbatível no longo prazo e deve ser encarado desta forma e não comparado a aplicações de curto prazo", afirma Claudio Sanches, diretor de investimentos e previdência do Itaú Unibanco, que administra 24,04% do total de recursos aplicados nesses fundos no país.

Algumas seguradoras montaram uma verdadeira operação de guerra para esclarecer os fatos e convencer os investidores sobre a atratividade do produto. "Fizemos road show entre economistas e clientes qualificados pelo Brasil e orientamos nossos consultores a serem pró-ativos para que as pessoas não ficassem inseguras e realizassem prejuízo", afirma Terra Lima, da BrasilPrev.

Uma coisa é certa. Para que a rentabilidade das carteiras continue atraente daqui para frente será preciso cada vez mais diversificar ativos, dentro dos limites estabelecidos pela Susep (pelo menos 51% em renda fixa e até 49% em renda variável) e informar ao investidor que ele não conseguirá mais obter nos fundos de renda fixa os 12% de rentabilidade real, como no passado. "O cliente que quiser um ganho um pouco maior terá que ter mais predisposição a risco e diversificação das carteiras com ativos além das tradicionais NTN-Bs", considera Sanches. Ele que prevê para 2014 um crescimento de market share 10% acima do mercado.

Passado este momento mais crítico, o que se vê é a volta de um horizonte promissor para a previdência. No longo prazo, não há dúvida entre as seguradoras de que há fôlego para avançar. Isso porque dos 200 milhões de brasileiros, só 12, 6 milhões possuem contratos ativos de planos privados e 96.402 pessoas já usufruem dos benefícios (aposentadoria, pecúlio, pensão, renda por invalidez e renda a menores), ou seja, menos de 6,5% do total. O que demonstra uma margem potencial animadora. "Como vivemos em um ambiente de pleno emprego e as pessoas estão mais preocupadas com a aposentadoria, o mercado deve voltar com tudo", afirma Sanches.

Outros fatores ajudam a empurrar as vendas dos planos privados. Primeiro: o teto de pagamento mensal da previdência social não passa de R$ 4.157,05, o que, em uma idade mais avançada, com gastos maiores com a saúde, pode ser considerado insuficiente. Segundo: o aumento do déficit na aposentadoria pública que cresce ano a ano e pode bater R$ 43 bilhões em 2013.

O terceiro ponto tem a ver com prudência. Pesquisa do HSBC com 16 mil pessoas em 15 países mostra que 55% dos aposentados dizem ter menos dinheiro que esperavam. "Muitas pessoas se arrependem de não ter se programado, e hoje orientam os mais jovens da família", diz Alfredo Lalia, diretor do HSBC Seguros.
 
 

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