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Médicos e engenheiros buscam seguro para evitar prejuízos com erros

Fonte:  Folha Online

por REINALDO CHAVES

Errar no trabalho pode custar caro. Um médico pode fazer um diagnóstico errado e ser processado ou um engenheiro errar nos cálculos de uma ponte, o que força a realização de reformas.

Para reduzir esse prejuízo, existe seguro. Ou seja, paga-se com antecedência para, caso aconteça algum problema, acionar a seguradora para que ela arque com os custos. Nos primeiros nove meses do ano passado, os profissionais que buscaram esse tipo de serviço desembolsaram desembolsaram, juntos, R$ 153 milhões. É um aumento de 34,4% em relação ao mesmo período de 2012. Os dados são da CNSeg (Confederação Nacional de Empresas de Seguros).

O nome oficial do serviço é seguro de responsabilidade civil profissional (nesse mercado, referem-se a ele pela sigla RCP). Walter Polido, da Escola Nacional de Seguros, diz que o motivo desse aumento de demanda é o fortalecimento das leis de defesa do consumidor. “Os consumidores têm mais consciência dos deveres de prestadores de serviço. E isso torna os profissionais mais expostos.”

Médicos, cirurgiões, dentistas, advogados, engenheiros e contadores são os que mais buscam esse serviço. Segundo Polido, os profissionais relutam a dizer que são segurados, já que, culturalmente, no Brasil os profissionais que usam essa proteção são considerados menos qualificados.

O anestesista Enis Donizetti Silva, 54, diz que, apesar de alguns médicos buscarem esse tipo de sistema aqui, não se compara com o nível de demanda nos EUA, “uma sociedade muito mais judicializada”. Ele diz que ele mesmo não tem seguro, pois a empresa na qual trabalha prestando serviços a hospitais tem um índice de “ocorrências” (ou seja, problemas com pacientes) muito baixo para compensar o custo.

Para calcular o risco de cada uma dessas atividades, as seguradoras levam em conta o número de ocorrências de falhas de cada segmento, o tipo de trabalho e a exposição a riscos.

As seguradoras pagam os reparos pelos erros dos profissionais, incluindo indenizações, e também os custos com advogados em casos de ações na Justiça.

Um exemplo: um contador erra ao calcular o tributo que uma empresa deve pagar. Essa companhia, consequentemente, estará sujeita a multa. Caso o contador esteja segurado, o valor será desembolsado pela seguradora.

O sócio da consultoria Trevisan Vagner Rodrigues, 58, adota há quatro anos o serviço. “Com o emaranhado de leis, estamos sujeitos a erros técnicos. Os nossos próprios clientes já pedem a precaução do seguro para evitar prejuízos financeiros.”

Para Lucio Anacleto, sócio da consultoria KPMG, o uso desse tipo de produto é recomendado a vários profissionais que possuem atividades complexas, mas ele afirma que seu custo é alto.

Além disso, a chance média de um segurado ter que efetivamente usar o serviço é de 30%. O número está bem abaixo, por exemplo, da proteção contra roubo de cargas, cuja porcentagem de sinistros chega a 70% nas áreas mais violentas, de acordo com o mercado.

“A postura ideal é utilizar o seguro para imprevistos, mas ao mesmo tempo ter uma boa política de mitigação de riscos. Apenas transferir o custo de erros para o seguro é insustentável e vai minando a credibilidade do profissional”, diz Anacleto.

Na corretora Marsh Brasil, a demanda por esse tipo de produto cresceu em média 30% no ano passado. Mauro Leite, diretor da empresa, afirma que a carteira desse tipo de apólice é uma das que mais ganham mercado por causa das transformações do setor de serviços.

“À medida que uma economia amadurece, o setor de serviços cresce. É isso o que ocorre no país há alguns anos e deve continuar”, afirma.

Leite diz que o preço das apólices varia de 1% a 4% do valor segurado, mas atingem até 10% em casos como projetos para grandes obras.

As agências de turismo também usam muito essa modalidade. Mario Gasparini, 50, é diretor da Ifaseg, empresa de prevenção de riscos que faz o planejamento de grandes agências.

Ele conta que o setor está muito exposto porque as empresas respondem por falhas de seus fornecedores. “Um atraso de voo, um atendimento médico com falhas: a agência pode ser responsabilizada por tudo isso. Por isso, a apólice é indicada.”

Para diminuir o valor que a agência precisa pagar à seguradora, ele diz, é preciso reduzir os riscos da operação dela. Por exemplo: saber se o atendimento ao cliente é adequado, se os equipamentos que serão utilizados na viagem são modernos etc.

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