Brasil caminha para se tornar polo de resseguros na AL

Fonte: Valor Econômico

O Brasil está dando os primeiros passos para se tornar efetivamente um polo regional de resseguros na América Latina, a exemplo de Londres na Europa e de Miami para a América do Norte. Após o IRB, agora as resseguradoras do BTG Pactual e da Allianz (a AGCS) estão buscando registros nos países vizinhos para dar coberturas a riscos "hermanos" a partir do Brasil.

Outras duas resseguradoras brasileiras, Austral (da gestora Vinci Partners) e Terra Brasis (do Banco Brasil Plural) estudam operações no exterior, mas ainda não têm nada decidido.

Por conta de acordos comerciais com os vizinhos, é possível que uma resseguradora que tenha autorização para operar no Brasil atue também em outros países da América Latina apenas com um registro ou uma autorização simples do órgão regulador local. Dessa forma, o faturamento fica no balanço da operação brasileira.

A ideia é acompanhar as empresas brasileiras, principalmente as construtoras, que estão se internacionalizando e precisam de coberturas também para essas operações no exterior. Com o tempo, porém, as resseguradoras querem conquistar negócios locais.

A AGCS já obteve registro no Peru, Uruguai, Colômbia, Bolívia e Chile. A companhia obteve autorização no começo de 2013 para operar como resseguradora local no Brasil, modalidade que tem reserva de 40% do mercado e para a qual é preciso ter capital mínimo de R$ 60 milhões para operar.

Segundo Ângelo Colombo, presidente da AGCS Brasil que comanda o projeto, o plano é chegar a 2015 com uma receita de US$ 400 milhões na região, sendo o Brasil responsável por 50% dessa receita.

Já a BTG Pactual Resseguradora pretende atuar no Chile, Colômbia e Peru. A companhia está esperando apenas receber a classificação do rating da A.M. Best, agência americana especializada no mercado segurador, para pedir o registro nos órgãos reguladores desses países. A resseguradora do BTG já tem rating classificado pela Fitch em "BB+" na escala internacional, com perspectiva positiva.

Em alguns países, como o Chile, o órgão regulador exige que as resseguradoras tenham classificação grau de investimento dada por duas agências globais. O rating é importante pois a resseguradora representa um risco de crédito para a seguradora. Em grandes apólices, a seguradora mitiga o risco assumido transferindo parte dele (assim como parte do preço cobrado) para uma resseguradora. No caso de acionamento do seguro, cada uma paga a parte que lhe corresponde na indenização. Se a resseguradora quebrar ou não tiver condições financeiras de pagar a sua parte, quem tem que arcar com o prejuízo é a seguradora. A AGCS tem rating "BB+" pela Standard & Poor's e "A" pela A.M. Best.

O IRB começou a fazer negócios fora do país em 2011, quando abriu uma filial na Argentina. De lá para cá, aumentou bastante sua atuação na região e na África. "Em 2013 consolidamos essa estratégia e agora temos licença para operar em praticamente todos os países do México para baixo", diz Leonardo Paixão, presidente do IRB.

A companhia, que concluiu seu processo de desestatização no ano passado, tem registro para operar no Peru, México, Colômbia, Paraguai, Uruguai, Equador, Bolívia, Belize, Guatemala, República Dominicana, Costa Rica, Panamá e alguns países da África. Segundo Paixão, o IRB está em processo de registro em outros países da América do Sul, Central e no Caribe.

O IRB teve uma receita com prêmios de resseguros no exterior de R$ 194 milhões em 2013 até novembro, último dado disponível na Susep, órgão regulador do mercado. O valor é 30% maior do que o faturamento obtido lá fora em todo 2012 e quase quatro vezes o apurado em 2011, ano do pontapé da operação no exterior.

Além de diversificar o risco da economia brasileira, as resseguradoras estão de olho nas oportunidades com a expansão e os investimentos em infraestrutura dos países vizinhos. Guilherme Perondi, vice-presidente da AGCS Brasil, lembra que a Colômbia tem previsto mais de US$ 50 bilhões em investimentos só em ferrovias e portos para os próximos anos.