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Viagem segura

Fonte: Valor Econômico

Por Karla Dutkievicz | Para o Valor, de São Paulo

 Se não tivesse seguro, Celestino, de férias nos EUA com a esposa Ana, teria gasto US$ 14 mil por atendimento em hospital

Se vai viajar ou viajou recentemente, responda. Qual era a cobertura do seu seguro de viagem? Se você quebrasse a perna numa pista de esqui, o seguro cobriria as despesas médicas e de traslado? E a assistência de viagem do seu cartão de crédito: precisa ser acionada? Vale para seus filhos? Ninguém deve se aborrecer se não conseguiu responder a uma ou a todas essas questões. Segundo executivos do setor, nem todos conseguiriam.

Eles dizem que muitos brasileiros ainda não dão a "importância devida" à assistência que irá acudi-los em uma emergência durante uma viagem. "O brasileiro sabe cuidar e comprar seguro para o seu carro. Quando viaja para o exterior, nem sabe os riscos que corre", diz Gabriel Rego, diretor comercial da Assist-Card.

Poucos brasileiros contratam esse tipo de seguro. Segundo estimativas de diferentes companhias do setor, apenas um em cada três turistas saem do Brasil com um seguro contratado. Mas há explicações para isso.

Uma delas é o fato de o brasileiro ainda estar se acostumando a viajar, especialmente ao exterior, aponta Fabiano Lima, diretor de vida e previdência da SulAmérica. Segundo dados compilados pelo Ministério do Turismo, o número de brasileiros que viajaram para outros países quadruplicou em dez anos. Em 2003, saíram do país pouco mais de 2,36 milhões de brasileiros. Em 2012, o número chegou a quase 8,2 milhões.

Além disso, acreditam os executivos, quem viaja a lazer não gasta horas pensando nos riscos de uma viagem. Quem fica pensando em doenças, acidentes ou em dor de barriga ao planejar as férias? "As pessoas não costumam viajar pensando nos riscos. Por isso, não conseguem medir a quais riscos estão expostas. Se eu tiver uma indisposição estomacal, o que eu faço? E se eu quebrar a perna?", argumenta Lima.




Há riscos, entretanto, difíceis de serem previstos. Para esses, nem os mais precavidos, como a executiva Ana Nubié, conseguem evitar. Ana e o marido, o consultor Silvio Celestino, passavam a virada do ano de 2012 para 2013 em Las Vegas, nos Estados Unidos. No dia 31 de dezembro, Celestino começou a passar mal. Sentia os mesmos sintomas que havia experimentado quando enfrentou uma embolia pulmonar. A embolia é um bloqueio de uma artéria nos pulmões. Sem diagnóstico e medicação, o quadro pode desencadear o infarto pulmonar. Nem é preciso dizer o quanto os dois ficaram assustados naquele início de manhã.

Ao ligar para a empresa de assistência de viagem que tinha contratado, Ana teve outro susto. A atendente explicou que retornaria em três horas com o endereço do centro médico que eles deveriam procurar, segundo Ana. "Ficamos esperando até que decidimos recorrer ao meu plano de saúde, que era internacional. Liguei e, em 15 minutos, eles retornaram com o nome do hospital aonde deveríarmos ir", conta Ana, diretora de estratégia da Moma Propaganda em São Paulo. Quando a companhia do seguro de viagem retornou a ligação, Celestino já estava praticamente saindo do hospital. Haviam se passado quase seis horas do pedido de socorro.

Cerca de seis meses depois de retornarem ao Brasil, Ana e Celestino tiveram mais um susto. Receberam uma cobrança de US$ 7 mil. O plano de saúde tinha pago US$ 7 mil dos US$ 14 mil devidos pelo atendimento de uma manhã no hospital em Las Vegas. Mais uma vez, Ana ligou novamente para a companhia de seguro de viagem para pedir reembolso. A empresa negou, argumentando que o casal não tinha ido ao local indicado. "Foi então que lembrei que eu tinha comprado as passagens com meu cartão de crédito e decidi recorrer ao serviço de assistência de viagem. Eles fizeram o reembolso integral", diz.

Ana usou o serviço do cartão de crédito, oferecido por muitas bandeiras. Ele é muito parecido com o seguro ou a assistência de viagem de companhias especializadas e seguradoras. Assim como a assistência de viagem de empresas especializadas, oferece seguro contra morte acidental, indicações médicas e jurídicas em caso de emergência, localização de bagagem perdida, reembolso de despesas médicas e de custos com convalescença em hotel, gastos com viagem de emergência de familiares, entre outros.

Para usufruir do serviço de assistência oferecido por uma bandeira internacional, basta comprar as passagens com o cartão de crédito

O preço varia de acordo com as coberturas contratadas. Na Assist-Card, por exemplo, a assistência mais vendida é a Classic e custa US$ 11 por dia. Dá direito a uma cobertura global de US$ 50 mil, podendo ser até US$ 50 mil para assistência médica e até US$ 500 para emergências odontológicas. Por US$ 7 a mais por dia, o montante global de cobertura sobe para US$ 1 milhão, assim como a assistência médica. "Nesse produto, que custa US$ 18 por dia, a assistência médica para doenças preexistentes é de até US$ 2,5 mil. No Classic, é de até US$ 300", diz Rego, da Assist-Card

Alguns pontos, contudo, diferem a assistência oferecida pelos cartões do seguro que pode ser contratado pelo viajante. O primeiro é o preço. O turista não paga ao cartão pelo serviço. É um dos benefícios inerentes. Também não precisa avisar a central de atendimento que vai viajar. Se embarcar para um país signatário do Tratado de Schengen, é oportuno pedir à central de atendimento uma cópia do certificado. "Para usufruir desse benefício, basta comprar a passagem com o cartão de crédito. Caso pague o bilhete aéreo com milhas, é só pagar todas as taxas de embarque com aquele cartão", explica Rogério Signorini, diretor executivo de produtos da Visa do Brasil. Dependentes de titulares do cartão também ficam segurados. As coberturas variam de acordo com a categoria: Black, na Mastercard, e Infinite, na Visa, oferecem os benefícios maiores.

Outra diferença é a impossibilidade de incrementar o valor da cobertura ou quaisquer serviços oferecidos pelo pacote de assistência de viagem da empresa de cartão de crédito. Para fazer isso, só trocando de cartão, processo que o cliente faz junto ao banco emissor do plástico comprovando, geralmente, uma renda maior.

Na Mastercard, por exemplo, quem tem o cartão Platinum conta com uma cobertura de até US$ 25 mil ou 30 mil euros para os países sob o Tratado de Schengen em viagens de até 31 dias consecutivos. Quem tem o Black está coberto por até 60 dias consecutivos no valor máximo de US$ 150 mil. O seguro contra morte acidental em transporte comum (aviões, ônibus, barcos não alugados) dobra no Black em comparação ao Platinum e chega a US$ 1 milhão. "O Black é um cartão direcionado a um público de mais alta renda", diz Marcelo Tangioni, vice-presidente de produtos da MasterCard Brasil e Cone Sul. Nos cartões da bandeira, normalmente, ficam segurados tanto o titular quanto os dependentes de menos de 23 anos.




Seja a assistência proporcionada pelo cartão ou a comprada em uma seguradora, o turista é obrigado a viajar segurado para determinados destinos. Pelo Tratado de Schengen, 26 países da Comunidade Europeia exigem que o estrangeiro tenha uma cobertura mínima de 30 mil euros (veja a lista dos países no quadro). No início deste ano, a Venezuela passou a exigir a cobertura de um valor mínimo de US$ 10 mil. Cuba exige o mesmo valor, e a Austrália pede que o turista contrate uma assistência de viagem, mas não estipula um valor mínimo.

Quanto menor a cobertura, menor o custo do seguro. Nos sites de muitas empresas, é possível fazer a cotação indicando dados como o tempo de permanência e país de destino. Os sites de vendas de seguros on-line, como o www.minutoseguro.com.br, e especializados, como o www.seguroviagem.org, também permitem cotações.

Além de cumprir a exigência dos países, é importante observar outras recomendações, segundo o executivo da Sul América. "É preciso averiguar qual produto atende às necessidades do consumidor", diz. No caso de viagem para a prática de esportes, por exemplo, o consumidor precisa checar se existem condições estipuladas na cobertura do produto que excluam a garantia de atendimento para determinados tipos de acidentes. No caso do esqui na SulAmérica, o seguro é válido apenas para quem vai praticar o esporte por lazer e em pistas regulamentadas.

Para as pessoas que têm alguma doença preexistente, pode ser interessante avaliar a contratação de planos específicos. Várias empresas oferecem coberturas especiais. Na GTA, companhia especializada em assistência e seguro de viagem, são seis planos. "Apenas a partir da contratação desses planos o segurado terá direito a 30% do valor da cobertura para tratar a enfermidade em questão considerada preexistente", diz Gelson Popazoglo, diretor comercial da GTA.

O valor da cobertura para despesas médicas também deve ser estudado. No exemplo de Ana, as poucas horas que seu marido passou no hospital em Las Vegas custaram um total de US$ 17 mil. Há exatamente um ano no acidente ocorrido num voo de balão na Capadócia, na Turquia, o atendimento médico-hospitalar prestado aos turistas extrapolou o valor do seguro de viagem, dada a gravidade do acidente. "É importante buscar informações sobre a empresa em que o seguro será adquirido e sobre o produto a ser contratado. No caso do acidente na Capadócia, na Turquia, o produto contratado não tinha cobertura suficiente para o atendimento", diz Lima.

No segundo semestre do ano passado, outro acontecimento colocou em evidência os seguros de viagem. De férias em Cuzco, no Peru, a jovem Natalia Duffles foi diagnosticada com tumor no cérebro, depois de sentir fortes dores de cabeça. Natalia tinha viajado com a assistência do cartão de crédito, que transferiu a responsabilidade para uma empresa de assistência, a qual não autorizou o traslado imediato da jovem do Peru para o Rio. "Com a demora no transporte, seu estado de saúde piorou, e ela precisou ser operada lá em Cuzco mesmo. Felizmente, o procedimento foi perfeito", diz Narbara Duffles, irmã de Natália. "Somente depois que o caso foi parar na mídia, é que a empresa aceitou fazer o traslado", acrescenta.

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