Breaking News

Corrida pelo risco

Fonte: IstoÉ Dinheiro

Tokio Marine, Swiss Re, HDI Gerling e Fairfax perderam para a americana ACE a disputa pela carteira de grandes riscos do Itaú, mas não desistiram do Brasil

22/08/2014 20:00

  • // Por: Natália Flach

Imprimir:

José Ferrara, da Ttokio Marine: seguradora japonesa bateu a meta de R$ 3,2 bilhões em receita, dois anos antes do prazo
José Ferrara, da Ttokio Marine: seguradora japonesa bateu a meta de R$ 3,2 bilhões em receita, dois anos antes do prazo ( foto: Rogério Cassimiro)

Nem sempre a história é escrita apenas pelos vencedores. A disputa pela carteira de grandes riscos do Itaú, vendida para a seguradora americana ACE no dia 4 de julho por R$ 1,52 bilhão, foi o maior negócio privado no setor de seguros dos últimos anos. Todas as grandes empresas estrangeiras que almejavam uma fatia do mercado brasileiro disputaram esse negócio. As perdedoras dessa corrida começaram, então, uma maratona de crescimento orgânico, mas sem descartar o atalho de alguma aquisição. Entre elas estão a japonesa Tokio Marine, a suíça Swiss Re Corporate Solutions a canadense Fairfax, além da recém-criada HDI Gerling, de origem alemã.

Esse quadro revela quão competitivo está o mercado. Consequentemente, o preço do resseguro, que tem impacto direto sobre o valor do seguro, caiu drasticamente. “O problema é que se apostou muito na Copa e nos investimentos do PAC. Houve excesso de otimismo, algo infantil”, diz Claudio Contador, diretor acadêmico da Escola Superior Nacional de Seguros. “Mas as condições do resseguro tendem a melhorar nos próximos anos e o ambiente deve convergir para um mercado com preços mais condizentes com o risco assumido”, acrescenta. É nisso que a Tokio Marine aposta.

A seguradora detém atualmente 4,8% do mercado de grandes riscos e estabeleceu como meta dobrar a participação nos próximos cinco anos. “Assim que perdemos a carteira do Itaú, acionamos o plano B e estamos fortalecendo o nosso time de subscrição”, diz José Adalberto Ferrara, presidente da seguradora para o Brasil. Essa estratégia tem dado certo. Em 2011, a companhia estabeleceu a meta de atingir R$ 3,2 bilhões em receitas até 2016 em todas as áreas de negócio, mas deve alcançar esse objetivo em breve, com dois anos de antecedência.

“De 2015 a 2017, a expectativa é crescer a uma taxa anualizada de 15%”, afirma o executivo. Para crescer sem perder a qualidade, a Tokio Marine investe anualmente R$ 100 milhões em melhoria de processos e em tecnologia e vai abrir mais dez sucursais até 2015, ampliando a rede para 64 unidades. No entanto, Ferrara não descarta a hipótese de uma aquisição. “Se aparecer uma oportunidade de compra, estamos prontos.” Outra participante da corrida é a canadense Fairfax. Nos 12 meses findos em julho, a companhia, que começou a operar em 2010, faturou R$ 346 milhões.

“Nossa meta é chegar a R$ 500 milhões ate 2015 e, neste ano, vamos ter nosso primeiro lucro, de R$ 10 milhões”, afirma Jacques Bergman, que acaba de assumir a presidência da companhia para a América Latina. Para o ano que vem, a previsão é dobrar o resultado para R$ 20 milhões. Para isso, a Fairfax conta com o lançamento de um produto que, segundo Bruno Camargo, presidente para o Brasil, é inovador: um pacote de seguros para pessoas extremamente ricas. O produto vai assegurar mansões, joias, obras de arte, cavalos, aviões e iates.

A equipe do executivo está acertando parcerias com as áreas de private banking dos bancos e com as corretoras para distribuírem essa apólice para milionários. Outra fonte de lucro será a América Latina. “Vamos fazer parcerias com seguradoras na Colômbia, no Peru e no Chile. A ideia é comprar seguradoras nestes países e também no Brasil”, diz Bergman. “Estamos com conversas adiantadas com uma seguradora no País.” É por isso que a holding global mantém US$ 1 bilhão em caixa para conseguir fazer aquisições rapidamente. Esse é o mesmo mote da Swiss Re Corporate Solutions, que anunciou recentemente João Nogueira Batista como presidente.

O executivo assume o cargo de uma seguradora que alcançou R$ 260 milhões em prêmios emitidos no ano passado. “A expectativa é crescer em torno de 15% neste ano”, diz ele. Batista não é um securitário de carreira: foi diretor-financeiro da Petrobras e presidiu o grupo Bertin. Em 2013, a operação de Corporate Solutions representou 10,1% do total de prêmios ganhos pelo Grupo Swiss Re. O Brasil respondeu por 4% dessa fatia, e a participação da América Latina foi de 10%. A meta é atingir R$ 500 milhões até 2018. “Alguns produtos, como o seguro para o agronegócio, têm apresentado um retorno melhor”, diz Batista.

A carteira de seguros rurais representou 35% dos prêmios emitidos em 2013. Encontrar nichos de mercado pouco explorados é a estratégia da LIU, divisão de riscos especiais da americana Liberty Seguros. No momento, a apólice mais promissora é a de responsabilidade ambiental, que deve se tornar uma carteira de US$ 20 milhões, diz o executivo chileno Ronald Bolaños, que assumiu a presidência em outubro do ano passado. “Acabamos de contratar um novo diretor para a América Latina, o colombiano Alex Montoya, o que mostra o compromisso da companhia em ampliar os negócios na região”, afirma o executivo, em seu português com forte sotaque.

“Estamos vendo várias possibilidades de compra.” De janeiro a agosto, a companhia já cumpriu com 80% das metas para o ano, pois muitas empresas anteciparam a contratação de seguros para os primeiros meses do ano, marcado por Copa e eleições. Outra que perdeu a disputa para a ACE foi a HDI Gerling, que começou a estruturar suas operações há um ano. “Participamos, mas não levamos”, diz o presidente Guillermo León. A matriz, a HDI Seguros, já atuava na área de riscos industriais, atendendo clientes internacionais. Por isso, a subsidiária começa a operar com uma carteira de R$ 200 milhões.

“Percebemos que faltava uma operação voltada para clientes locais. Apesar do momento econômico não estar tão propício, achamos que era importante ter uma unidade própria, até porque não é uma operação de curto prazo”, afirma León. A HDI Gerling tem um capital de R$ 40 milhões, que deverá ser suficiente para os próximos dois anos. A estratégia para crescer de 30% a 35% nos primeiros anos será oferecer seguros ainda pouco conhecidos, sem deixar de prestar atenção em eventuais oportunidades de compra. A pergunta de vários milhões de reais, porém, é se em um mercado com tantas seguradoras com apetite para comprar existe alguém disposto a vender – e por quanto. A expectativa delas é que outras companhias, como a britânica RSA, abandonem a corrida.

Nenhum comentário

Escreva aqui seu comentario