Breaking News

Seguro é insuficiente para indenizar vítimas de acidente

Fonte: Valor Econômico

Por Fernanda Pires | De Santos
 
Juarez Câmara, dono da academia atingida: "Nem o PSB, nem os donos do avião, nem a seguradora [se manifestou]".

Dezessete dias após o acidente aéreo que matou o presidenciável Eduardo Campos (PSB) e mais seis pessoas em Santos (SP), as vítimas da tragédia se preparam para outra bomba. Em meio ao imbróglio sobre a propriedade do avião, o único seguro da aeronave confirmado até agora será insuficiente para cobrir os danos estimados.

O limite máximo de indenização é de R$ 979,3 mil, montante que terá de ser dividido entre as famílias dos mortos e pessoas em terra. Desse total, R$ 221 mil devem ser distribuídos entre os lesados em solo e R$ 55,9 mil por vítima a bordo.

Somente a academia de ginástica, uma das edificações mais atingidas, demandaria cerca de R$ 1,5 milhão para reabrir o espaço, calcula o proprietário.

O seguro obrigatório, conhecido como Reta, funciona como o Dpvat dos carros. Especialistas entendem que deve se contratar uma cobertura complementar ao Reta contra desastres aéreos.

Na última semana, pelo menos dez famílias de Santos fecharam com o escritório Malatesta Pereira e Arruda Sampaio Advogados, especializado em acidentes aéreos, para reivindicar ressarcimento. Por enquanto elas estão fazendo o inventário do que perderam.

Cada família entrará com uma ação individual por danos morais e patrimoniais. O advogado Luiz Roberto Sampaio afirma que seria leviano cravar um valor global das indenizações, que devem variar caso a caso. Mas aposta em "mais de R$ 10 milhões e menos de R$ 100 milhões", se somados os valores a serem reivindicados pelas famílias das vítimas fatais e pelos proprietários das edificações atingidas.

Nos próximos dias, Sampaio irá interpelar o PSB e o comitê de campanha para saber a que título o Cessna Citation 560 XL, prefixo PR-AFA, estava voando e quem era o responsável pela viagem. "Que estava em nome da AF Andrade eu já sei, agora, como foi parar no PSB? Existem casos em que o avião está em nome de uma empresa mas está comprometido com terceiros e pode estar voando para quartos, como parece ser o caso", diz.

A proprietária do avião é a Cessna Finance Export Corporation, mas o jato estava arrendado ao grupo AF Andrade Empreendimentos e Participações, responsável também pela operação da aeronave. A empresa está em recuperação judicial, com dívidas de R$ 341 milhões. Há uma suspeita de que empresas-fantasmas teriam comprado o jato do grupo. A Polícia Federal investiga se a aeronave foi sublocada à campanha do PSB de forma clandestina.

O PSB não havia declarado o uso da aeronave e, consequentemente, os seus gastos à Justiça eleitoral. Em nota divulgada nesta semana, a legenda disse que prestaria contas apenas no fim do processo eleitoral sobre a utilização do jatinho.

"Como a AF Andrade está em recuperação judicial e os potenciais compradores têm nome de laranjas, concentraria a ação exclusivamente no PSB. Mesmo que não haja contrato comprovando, está claríssimo que era o PSB que usava o jato", diz o advogado Christian Smera, especializado em sinistros em meios de transporte.

Segundo ele, um acidente desses tem potencial de gerar no mínimo R$ 40 milhões em ações civis reparatórias às famílias das vítimas fatais e às pessoas que tiveram danos em solo.

"Uma questão burocrática não pode se sobrepor ao direito legítimo dos lesados de serem ressarcidos pelos prejuízos. Se o valor da indenização é coberto pela apólice é outra história", diz o diretor do Centro de Informação, Defesa e Orientação ao Consumidor (Cidoc) em Santos, Rafael Quaresma.

"Ficamos com a roupa do corpo. Primeiro alugamos um apartamento para morar, agora estamos fazendo o inventário do que tínhamos", diz a professora Cláudia Quirino. Uma das turbinas do jato invadiu sua casa, que foi quase consumida pelo fogo. Por pouco, diz, o equipamento não atingiu a filha, de nove anos.

O empresário Juarez Câmara perdeu o ganha-pão. A sua academia de ginástica foi atingida pelos destroços da aeronave e pelo fogo. Além da parte estrutural, perdeu esteiras, o equipamento hidráulico recém-comprado, e os vidros que revestiam parte do imóvel. Ele reclama que até agora ninguém se manifestou. "Nem o partido PSB, nem os donos do avião, nem a seguradora. Precisou a PF entrar no caso para descobrir quem é quem. O que é isso? Morreu gente". Na terça-feira ele e outros moradores receberam a visita do advogado Antônio Campos, irmão do ex-governador Eduardo. "Ele veio prestar solidariedade, conheceu o que restou da academia. Estava muito emocionado. Não falou em ressarcimento". Campos também esteve no Ministério Público Federal, que abriu inquérito para apurar as circunstâncias do acidente.
 

 

Nenhum comentário

Escreva aqui seu comentario