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Apetite moderado

Fonte: Valor Econômico

Por Felipe Datt | Para o Valor, de São Paulo

Habituado a entregar crescimentos médios anuais em torno de 15% nos últimos sete anos, o setor de seguros, previdência, capitalização e saúde suplementar experimenta um momento de expansão mais moderada. As razões para a perda de fôlego, que já deu os primeiros sinais em 2013, são diversas. As novas regras, que trouxeram volatilidade à rentabilidade dos fundos de previdência, uma economia estacionada, que reduziu o apetite de empresas e consumidores pela contratação de alguns produtos, e a queda na venda de automóveis, que arrefeceu a procura por seguros são alguns dos fatores que afetam, em 2014, o ritmo de crescimento das carteiras.

O cenário não tira o sono do mercado segurador. Tanto que, mais uma vez, a projeção é repetir o avanço de dois dígitos na arrecadação. Serão dois dígitos baixos, em linha com os 12% de 2013 mas, ainda assim, dois dígitos. "2014 é um ano desafiador. Mas, são poucos os segmentos na economia, se houver algum, que crescerão dois dígitos", diz Marco Antonio Rossi, presidente da Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais (CnSeg) e do Bradesco Seguros.
 
 
 
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"Foi um ano mexido, em todos os aspectos", completa o presidente da SulAmérica, Gabriel Portella, que cita as incertezas com o novo ciclo eleitoral, que levaram muitas empresas a congelar ou adiar investimentos e contratações, como fator adicional que impactou o ramo. "Nosso mercado continua sendo um reflexo da atividade econômica. Mas a diversidade é a beleza desse mercado. Enquanto os automóveis foram impactados pela queda nas vendas, o setor de saúde, por exemplo, acabou impulsionado pelos fortes reajustes de preços dos planos. Vejo os reflexos negativos como passageiros e continuo sendo leitor do copo meio cheio. Acredito no grande potencial de crescimento do mercado nos próximos anos", diz.

Após projetar avanço de 15,6% nas receitas em 2014, sobre os R$ 285,66 bilhões arrecadados no ano passado, a CnSeg reduziu as expectativas e agora prevê uma alta de 11,1%. A revisão está parcialmente ligada ao desempenho de um segmento com peso importante nesse mercado: a previdência complementar aberta. As aplicações nos planos VGBL, carro-chefe do segmento, que cresceram 37% em 2012, despencaram no ano passado, com avanço de apenas 4%, desempenho que se repetiu nos primeiros seis meses deste ano. O escorregão da previdência teve o ápice em julho de 2013, quando os gestores dos fundos se depararam com uma situação inédita em cinco anos: os saques superaram as aplicações.

Ainda que fosse esperado um impacto na rentabilidade das aplicações com as novas regras que obrigavam o alongamento do prazo médio das carteiras, o que pegou o segmento desprevenido foi a velocidade do novo ciclo de aperto monetário. A abertura da curva de juros, com a volta da Selic à casa dos dois dígitos, trouxe um cenário turbulento aos fundos de renda fixa. A grande volatilidade nas aplicações se estendeu mais do que o esperado, mas já começa a dar sinais de que seus dias estão contados.

A rota agora é de recuperação, como apontam os indicadores de julho, que mostram que a captação líquida (diferença entre arrecadação e resgates) ficou positiva em R$ 2,2 bilhões. "Nossa expectativa é que todo o segundo semestre tenha esse desempenho. Sem contar que novembro e dezembro são os meses em que o mercado mais capta, proporcionalmente, ao ano inteiro. Acredito que, por essas razões, a previdência crescerá 10% no acumulado do ano ante 2013", projeta o presidente da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi), Osvaldo Nascimento.

Se por um lado a previdência se recupera, no segmento de seguros algumas carteiras importantes mostram sinais de perda de fôlego em 2014. Uma delas é a de pessoas, que após registrar crescimento na receita em prêmios de 22% (2011), 14% (2012) e 18% (2013), quando arrecadou R$ 25,9 bilhões, segundo a consultoria Siscorp, avançou apenas 1% de janeiro a agosto deste ano. O desempenho dessa carteira, que inclui seguros de vida, acidentes pessoais, auxílio-funeral e prestamista, está intimamente ligado à manutenção de dois indicadores: emprego e renda. Embora as estatísticas de emprego se mantenham relativamente estáveis, o momento de baixo crescimento da economia, inflação e juros altos acabam impactando negativamente a contratação de muitos desses produtos.

No caso do seguro de vida, o grosso da venda no Brasil ocorre na modalidade coletiva, ofertado pelas empresas como mecanismo de atração e retenção de talentos. A queda de 2,29% na arrecadação desse seguro de janeiro a julho reflete, de certa maneira, o menor ímpeto na geração de novas vagas por parte das empresas.

Outro exemplo emblemático de como a economia afeta o segmento acontece com o seguro prestamista. Depois de registrar avanços de até 30% em arrecadação nos últimos anos, essa proteção, que cobre o risco de calote do tomador de crédito em caso de morte ou invalidez, avançou apenas 5,87% até julho, segundo a Fenaprevi. "Os bancos apertam a concessão de crédito e o consumidor financia e compra menos", resume Francisco Galiza, diretor da consultoria Rating de Seguros.

Os resultados de janeiro a agosto são piores do que os verificados no ano passado em outras importantes carteiras. Os seguros patrimoniais, após avançarem 14% em receita em 2013, verificam alta de 9% de janeiro a agosto deste ano. "Existem dois segmentos, o seguro habitacional e o rural, que acabaram puxando um pouco para cima o crescimento da carteira de seguros este ano", diz Flávio Faggion, sócio-diretor da Siscorp.

Maior carteira do segmento de seguros, o ramo de automóveis reflete o momento ruim da indústria automotiva brasileira. As vendas de veículos recuaram 9,51% nos primeiros oito meses de 2014, ante igual período do ano passado, segundo a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). A queda na produção, segundo a Anfavea, a associação dos fabricantes de veículos, foi ainda maior: 18% de janeiro a agosto, ante igual período de 2013.

Com a venda menor de carros, a busca por seguros também diminui. Mas o avanço de apenas 7% na receita em prêmios na carteira de automóveis de janeiro a agosto também se deve a outros fatores, explica o diretor-geral da Porto Seguro, Luiz Pomarole.

O aumento da sinistralidade contribuiu para o reajuste de 5% a 8% nos preços dos seguros de alguns modelos em algumas praças, o que traz um fator adicional de dificuldade nas contratações. Desde o final de 2013 o segmento sofre com o aumento do índice de sinistros em São Paulo e no Rio de Janeiro, e também em capitais como Recife, Porto Alegre e Belo Horizonte, pressionando os preços. "Não tenho dúvidas de que esse ciclo de crescimento das vendas voltará", finaliza.
 

 

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