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Proteção à agricultura avança apesar dos obstáculos

Fonte: Valor Econômico

Por Denise Bueno | Para o Valor, de São Paulo
 
                 André Pessoa, sócio da Agroconsult: "Sempre é possível gerenciar riscos".

O Brasil ainda está longe de ter um mercado de seguros voltado para a agricultura quando comparado aos Estados Unidos. Mas é fato que tem avançado a passos largos. Em 2005, apenas 849 apólices foram comercializadas, garantindo uma área de 68 mil hectares, o que envolveu R$ 8 milhões pagos pelos agricultores para garantias de perdas de até R$ 126 milhões. Em 2013, oito anos depois, 101.850 apólices garantiram 9,9 milhões de hectares com direito a indenizações de R$ 16,8 milhões.

Esse crescimento é consequência do Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR), que avançou de R$ 2,3 milhões para R$ 557,8 milhões naquele período. Em 2014, o prometido pelo governo foi R$ 700 milhões, 75% acima do valor da safra anterior. Na proposta orçamentária da União para 2015, estão previstos R$ 700 milhões para o próximo ano agrícola, destinados às operações de subvenção do seguro rural. Tema relevante em todos os programas políticos apresentados pelos candidatos à presidência da República. No entanto, apenas R$ 400 milhões foram liberados até outubro.

Apesar de grandes avanços desde sua retomada em 2003, o programa ainda apresenta inúmeros problemas. O principal citado pelos seguradores, resseguradores e consultores especializados é a falta de previsibilidade do cumprimento orçamentário. "A imprevisibilidade do fluxo financeiro aos demais elos da cadeia geram ao mercado segurador e ressegurador questionamentos quanto à execução e continuidade do próprio PSR", diz Miguel Fonseca de Almeida, gerente da área Agrícola e Riscos Empresariais do IRB Brasil Re, maior ressegurador local do país.

Em outubro, a presidente Dilma Rousseff, encaminhou ao Congresso um Projeto de Lei (PL), em vez de uma medida provisória, para aprovação da liberação dos R$ 310 milhões que faltam para completar o subsídio rural previsto no orçamento de 2014. "Eles precisam desse recurso e é vital que a votação do PL pelos parlamentares entre no regime de urgência", afirma Joaquim Cesar Neto, vice-presidente da Comissão Rural da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg). O desafio da FenSeg está em tentar convencer os governos federal e estaduais, bem como os municípios, a aumentar o subsídio. Uma outra alternativa é reduzir os percentuais de 40% a 60%, por conta de não ter tanto recurso e assim abranger um número maior de produtores.

Além da previsibilidade, André Pessoa, sócio da Agroconsult, afirma que é preciso ter humildade de reconhecer que nem todos os riscos podem ser efetivamente eliminados. "Acredito que sempre é possível gerenciar riscos. O primeiro passo, no entanto, é saber avaliar quais são os riscos e sua intensidade e depois ter a humildade de reconhecer que nem todos eles podem ser efetivamente eliminados."

Para identificar riscos é preciso melhorar a qualidade de dados para todas as regiões. "Os Estados Unidos, por exemplo, possuem um órgão oficial de pesquisa dedicado exclusivamente ao seguro. É preciso gerar estatísticas e banco de dados que considerem a diversidade nacional", afirma Bruno Freire, diretor executivo da Austral Re. "A ausência de dados confiáveis de cada produtor também é um desafio. Nos EUA, são usadas as declarações de Importo de Renda de cada produtor, mas no Brasil é mais difícil esse recursos".

José Cullen, diretor de Seguros Rurais da Swiss Re Corporate Solutions para o Brasil e América do Sul, aposta na inovação para conquistar os produtores brasileiros. Há dez anos se dedicando ao seguro agrícola no Brasil, a seguradora suíça já trouxe a inovação do seguro de receita agrícola, que cobre prejuízos causados pelo risco climático e oscilações para baixo do preço futuro da produção. Hoje menos de 10% do volume de vendas é gerado por esse produto que representa 80% nos Estados Unidos. Cullen afirma que o grupo acredita que em cinco anos o seguro de receita estará bem desenvolvido no Brasil diante da forte demanda dos produtores, principalmente do Centro Oeste e do Sul, que pressionam o governo por políticas de subsídios mais perenes. "Os que já contrataram o seguro de receita não querem mais voltar ao produto antigo, que não cobre perdas com oscilações de preço no mercado futuro", afirma.

Para manter o seguro rural rentável, a estratégia é investir no gerenciamento de risco, em profissionais qualificados e na diversidade geográfica e de culturas, afirmam Glaucio Toyama, diretor técnico de seguros rurais do Grupo BB e Mapfre. Segundo Luiz Antonio Digiovani, superintendente de operações de seguros rurais da seguradora líder no segmento de seguro agrícola, cerca de 20% das vendas hoje provém do seguro de receita agrícola.

Além de produtos inovadores, é preciso ter preço acessível. O seguro de receita agrícola é o objeto de desejo dos produtores. "Estamos negociando com a Susep para que as apólices emitidas em reais, possam contemplar a variação cambial para coberturas para perdas geradas pelo clima", afirma Toyama.
 

 

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