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Crise política pode adiar IPOs para 2016

Fonte: Valor Econômico

A turbulência política, o mercado ruim e algumas dúvidas sobre a modelagem das operações ameaçam jogar para o próximo ano os planos de oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) da Caixa Seguridade e, talvez, do IRB Brasil Re, dizem fontes a par do assunto.

Como as duas empresas têm participação estatal, o aumento da temperatura política nos últimos dias criou incertezas que podem dificultar o cronograma e o valor esperados para as operações, segundo esses interlocutores.

O cenário ideal continua sendo lançar as ofertas neste ano - o dinheiro captado ajudaria o governo do ponto de vista fiscal. A oferta do IRB é estimada em cerca de R$ 3 bilhões e a da Caixa Seguridade, em cerca de R$ 10 bilhões. As operações serão secundárias, com captação de recursos para os acionistas vendedores.

No entanto, há empecilhos que passam não só por questões técnicas inerentes às operações como também pelo ambiente econômico e político.

Duas fontes próximas ao assunto afirmam que a turbulência política aumentou o grau de incerteza das operações. De um lado, o governo precisa de recursos para fazer o ajuste fiscal, mas enfrenta resistências no Congresso. De outro, não está claro até onde a crise pode chegar. "O componente político é imponderável neste momento", afirma um banqueiro de investimento.

Do ponto de vista técnico, a oferta da Caixa Seguridade - holding de participações da Caixa Econômica Federal na área de seguros - esbarra numa questão relativa ao modelo de negócios. Um dos investimentos da companhia é na Caixa Seguros, controlada pelo grupo francês CNP Assurances. A seguradora tem o direito de exclusividade para vender seus produtos na rede da Caixa até 2021. Estava em discussão a prorrogação desse acordo e quanto os franceses deveriam pagar por isso. O Valor apurou que essas conversas fracassaram.

Segundo uma fonte de mercado, a falta de um acordo afeta os riscos e a avaliação da Caixa Seguridade, o que por sua vez pode tornar a oferta mais difícil e menos atrativa. Soma-se a isso um cenário político e econômico mais complicado que o de algumas semanas atrás.

A Caixa Seguridade tinha planos de protocolar seu pedido de oferta na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) cerca de um mês atrás, o que não aconteceu.

No caso do IRB, a operação também já deveria ter sido arquivada na CVM. O plano, agora, é fazê-lo até o fim deste mês, o que deixaria tempo hábil para levar a empresa à bolsa por volta de novembro. "Mas com o mercado do jeito que está não sai nada", diz uma fonte a par do assunto.

Outra questão, segundo esse interlocutor, é que os acionistas vendedores - União, Banco do Brasil, Bradesco, Itaú e fundos de pensão - estariam pedindo um preço considerado alto para o cenário atual.

Segundo o Valor apurou, a ideia dos vendedores é de se desfazer de, no máximo, 40% de sua participação na resseguradora. Hoje, os cinco acionistas do bloco de controle da companhia detém 93,15% do IRB. O modelo da oferta prevê que todos continuem com ações da resseguradora por pelo menos 36 meses após a oferta. Os 6,85% restantes do capital do IRB estão nas mãos de outras seguradoras e funcionários.

Os sócios também bateram martelo que a oferta de ações do IRB será apenas secundária, como já esperado pelo mercado.

Em paralelo a essas duas operações, também estão no radar os planos de IPO da BR Distribuidora, cujos preparativos tiveram início há duas semanas, e da rede de farmácias Pague Menos.

A operação da Pague Menos ainda não tem tamanho e formato definidos, mas pode chegar a cerca de US$ 300 milhões. A ideia é levar a empresa à bolsa em outubro. A operação é capitaneada pelos bancos Credit Suisse e Itaú BBA.

Valor apurou que, na leitura da companhia e dos coordenadores, a oferta da rede de farmácias tem chances de emplacar, a despeito da volatilidade do mercado, por se tratar de uma ação defensiva e de um setor que ainda mantém boas perspectivas de crescimento. Anteontem, analistas do Credit Suisse elevaram o preço-alvo das ações da Raia Drogasil de R$ 23 para R$ 50. Os papéis fecharam cotados ontem a R$ 41,75 na BM&FBovespa.

Não é a primeira vez que a Pague Menos, rede de origem cearense, tenta chegar à bolsa. O registro de companhia aberta foi pedido à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) em 2011. Desde então, a companhia ensaiou algumas vezes a operação, mas esbarrou em um mercado mais difícil e em questões de governança corporativa e processos contra o controlador, Francisco Deusmar Queirós.

Em meio às turbulências, somente uma empresa abriu o capital na bolsa neste ano. Em junho, a FPC Par Corretora de Seguros, controlada pela Caixa, fez uma oferta secundária que movimentou R$ 602,8 milhões. A operação atraiu demanda de cerca de R$ 5 bilhões.(Colaboraram Felipe Marques e Simone Cavalcanti)



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