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Telemetria avança no mercado de seguros

Fonte: Valor Econômico - Denise Bueno

Com a velocidade que as pessoas mudam seus hábitos de vida e de trabalho, torna-se vital repensar o negócio de seguro. Com carros compartilhados e tecnologia que une mundo virtual e real, as seguradoras terão de estar mais conectadas com seus clientes e ir muito além de saber o CEP de pernoite do carro e idade do condutor para gerir a rentabilidade do negócio. “Estamos vivendo uma revolução de forma muito acelerada. E isso muda a forma de pensar o negócio ‘seguro’ daqui para frente”, diz José Melo, diretor de estratégia da Liberty Seguros, subsidiária de uma das maiores seguradoras de carro dos Estados Unidos.

À primeira vista, parece que o Brasil está atrasado no uso de telemetria. Enquanto nos EUA o grupo Liberty Mutual já tem cerca de 50% dos clientes adeptos ao uso da telemetria, que permite calcular o preço do seguro com base na forma como o motorista dirige (pay as you drive) ou onde, quanto e em que horário o carro circula (pay as you use), aqui ainda se utilizam dados como o perfil do motorista e CEP de pernoite do veículo. “Há três anos estamos desenvolvendo tecnologia apropriada para o Brasil, com equipamentos rodando em um grupo de motoristas, para entendermos o que o consumidor brasileiro prefere”, conta Melo, que promete novidades para breve.

O setor tem muitas iniciativas que visam a conectividade, que vão desde a instalação de modens dentro do veículo para captar dados como velocidade nas curvas, aceleração e frenagens, como o desenvolvimento de aplicativos para smartphones que captam os hábitos do trajeto do motoristas. “Com a gestão dessas informações, podemos enviar um guincho sem que o cliente precise ligar, pois saberemos que o veículo sofreu um acidente ou pane mecânica. Também, ao monitorá-lo, podemos alertá-lo caso entre uma região de alto índice de violência. Já em frotas de caminhões o uso da telemetria está consolidado e permite a cobrança de um preço justo de cada motorista”, informa Eduardo Dal Ri, presidente da comissão de automóvel da Federação das Seguradoras de Seguros Gerais (FenSeg) e diretor de automóveis da SulAmérica.

Praticamente todas as seguradoras do mercado têm projetos. A Generali acaba de comprar mundialmente 100% do controle da MyDrive Solutions, uma startup inglesa líder no uso de ferramentas de análise de dados e de perfil de estilos de condução. Esta operação permitirá à seguradora ofertar produtos sob medida para os clientes e com preços mais adequados aos motoristas de menor risco. Mas isso lá fora. Alexandre Fagundes, executivo responsável de marketing da Telemetics, conta que está em contato com várias seguradoras para desenvolver produtos diferenciados. “Temos certeza de que quando uma entrar, todas vão seguir”, aposta.

Ao que tudo indica, todos esses projetos secretos das seguradoras vão ser revelados quando as montadoras lançarem os modelos 2016. Alguns modelos de luxo terão sistemas que vão utilizar dados em nuvem para diagnosticar remotamente problemas mecânicos ou alertar proprietários e concessionários sobre manutenções programadas. Os dados também podem fornecer informações sobre uso do veículo e hábitos de direção dos proprietários para seguradoras.

“A nossa estratégia prioriza educação e conversas com montadoras de luxo que prometem surpreender seus clientes com os serviços de conectividade para 2016”, diz Bruno Garfinkel, diretor do produto Auto da Porto Seguro. Com mais de 5,1 milhões de clientes, é uma referência do mercado em prestação de serviços aos segurados. “O grupo Porto Seguro administra seguradoras, empresa de assistência 24 horas e a Conecta, que é a empresa de telefonia que mais tem crescido, o que nos torna um parceiro diferenciado para apoiar as montadoras em seus programas de serviços ao consumidor”, comenta o diretor da Porto.

Em relação a lançar o produto que cobra um preço mais justo do bom motorista, Garfinkel cita que o Brasil tem uma realidade diferente da dos Estados Unidos e países da Europa, onde o seguro de responsabilidade civil, usado para indenizar danos causados a terceiros, é praticamente contratado por todos os motoristas. “Já no Brasil, 70% das apólices vendidas cobrem apenas o casco. O risco de termos de pagar pelo conserto do carro do nosso segurado, mesmo vítima de um terceiro, é grande. O motorista pode até dirigir bem, mas mesmo transitando pouco, o risco de roubo é elevado em todo o país, o que torna o custo de reparo e o índice de roubo os principais parâmetros para a formação de preço do seguro no Brasil”, explica. Ou seja, há o custo Brasil envolvido também no custo da tecnologia. “Acreditamos na educação. Queremos reconhecer a prática da direção responsável e contribuir com a formação de uma ‘nova geração’ de motoristas, que priorize sempre a segurança e a gentileza no trânsito”, diz Garfinkel.

Com tal filosofia, a Porto Seguro lançou há um ano o seguro para jovens, um nicho até então desprezado pelas seguradoras em razão do risco de aliar falta de experiência com baladas e alta velocidade. Cerca de 20 mil jovens já fazem parte do programa, que concede 30% de desconto no seguro para aqueles que fizerem curso de direção segura e direção emocional, bem como se conectarem ao portal que funciona como uma auto escola 365 dias por ano. “Temos tido um bom resultado na carteira, que nos mostra que os jovens que fizeram o curso causam menos acidentes do que aqueles que ainda não aderiram ao programa”, conta Garfinkel.

Enquanto para veículos leves tudo segue em estudos, em caminhões o uso já é bem difundido. “A Sul América foi pioneira no uso da telemetria em frotas. O uso, desde 2006, traz vantagens para a companhia, como ter um preço justo para o caminhoneiro e também nos ajuda a prestar um serviço mais diferenciado ao sabermos on-line se aconteceu um acidente e enviarmos equipes prontamente”, diz Dal Ri. O diretor de operações da prestadora de serviços 24 horas Mondial, Jedey Miranda, afirma que o uso da telemetria é determinante para baixar custos, bem como ampliar a comodidade aos clientes.

Em saúde, o uso da telemetria também ainda está em estudos. “Acompanhamos atentamente os avanços desse tema, ainda mais agora com tanta tecnologia que monitora a saúde das pessoas”, conta Marcio Coriolano, presidente da Bradesco Saúde e Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde). Toda a tecnologia em estudo no Brasil leva em consideração que a legislação resguarda que os dados são do paciente e eles têm de autorizar o acesso por outras pessoas ou empresas. “Em saúde, algumas empresas investem para fazer uma melhor conexão do paciente com o médico, como o prontuário eletrônico no celular para que a pessoa tenha consigo tudo sobre a sua saúde aonde estiver. Também já está bem avançado o uso da telemetria na conexão entre hospitais e laboratórios com a rede credenciada de saúde”, informa Coriolano.


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