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Planos futuros

Fonte: Valor Econômico

Alta resiliência. Assim pode ser definida a indústria da previdência complementar este ano. Nem as crises política e econômica têm assustado e sido suficientemente fortes para afugentar este tipo de investidor. Por mais que os índices de desemprego tenham aumentado e o de renda e pagamento de bônus diminuído, o avanço de 48,5 % nas captações líquidas, comparado com igual período do ano passado, com um total de R$ 30,72 bilhões de janeiro a agosto, surpreende até os especialistas.

Com esse bolo que não para de crescer, a carteira total de investimentos, que atingiu R$ 496,8 bilhões, irá superar a barreira do meio trilhão até o final de 2015. Isso porque os últimos meses do ano costumam ser a safra boa do setor. "Minha previsão é fechar 2015 com pelo menos R$ 55 bilhões em captação líquida, o que representa um acréscimo de 45% em relação a 2014", aposta Osvaldo Nascimento, presidente da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi).

O resultado é considerado ainda mais surpreendente diante da alta volatilidade nos mercados nos últimos meses, que sacudiu também essa indústria no ano de 2013 e parte de 2014, quando provocou mais estragos do que agora, com fuga de investimentos. "As seguradoras investiram muito em educação financeira e comunicação direta com o investidor, que hoje está mais maduro e consciente. O 'suitability' está sendo levado a sério", diz Nascimento. As pessoas, no entanto, continuam bem conservadoras no tipo de aplicação escolhida. Quase 90% das carteiras previdenciárias estão recheadas de títulos de renda fixa como CDIs, NTN-Bs e crédito privado.

O juro alto ajuda a explicar parte dessa preferência, já que alguns títulos do governo mais longos, as NTN-Bs 2030, 40 e 50, chegam a remunerar IPCA mais 7,5%. "Hoje temos o dobro dos juros de 2013 e, como as pessoas fazem aportes periódicos, diluem as oscilações da taxa de juros", diz Miguel Cícero Terra Lima, presidente da Brasilprev. Sozinha, a Brasilprev contribuiu com mais da metade da captação líquida do mercado este ano, com R$ 16 bilhões até agosto.

Outra explicação para a corrida rumo à aposentadoria complementar vem das incertezas em relação a uma possível reforma da Previdência Social mais dura do que a prevista no programa 85/95 - onde a soma da idade com o tempo de contribuição de mulheres e homens teriam que totalizar 85 e 95 anos, respectivamente, o que gera intranquilidade ainda maior para os que contribuem com o sistema oficial. "A reforma é necessária e tem que ser mais severa do que a 85/95. O país precisa desta pauta. O sistema de repartição simples não se sustenta mais", diz Terra Lima, que administra uma carteira total de R$ 137,3 bilhões em recursos.

Mas até a resiliência tem limites. Dois movimentos novos começam a preocupar. Um é que a volatilidade aumentou nos meses de setembro e outubro. O que fez muitos investidores migrarem de carteira dentro da própria previdência. "Saindo de fundos de renda fixa mais voláteis para outros mais conservadores", avalia Cláudio Sanches, diretor de investimentos e previdência do Itaú Unibanco, que fechou até setembro com captação líquida de R$ 5,4 bilhões no ano e reservas de R$ 116,1 bilhões até agosto. "O mercado tinha cerca de R$ 20 bilhões nos fundos com títulos mais longos, o que caiu nos últimos dois meses para R$ 5 bilhões", calcula Sanches. O que, na opinião dele, é um equívoco pois esses títulos estão pagando mais do que o CDI.

Ao investidor tem sido oferecido ainda papéis de crédito privado, as debêntures, o que alguns especialistas veem com certa reticência. "O meu alerta vai para a maior exposição ao risco de crédito. Os títulos de crédito privado são menos voláteis, mas embutem mais risco do que os títulos públicos", diz Marcelo Nazareth, sócio da consultoria NetQuant, que analisa mensalmente 1.102 fundos de previdência e classifica o desempenho das seguradoras. Desde a aprovação da lei da portabilidade, em 2001, o investidor se sente mais à vontade para fazer esses movimentos de troca de carteira ou entre instituições financeiras, sem que a operação seja tributada ou sofra alguma perda financeira. O único ônus, nesse caso, será o da escolha errada.

Há também certa preocupação do mercado de que o aumento do desemprego, inflação elevada e pagamento de bônus possam piorar nos próximos meses, já que muitas empresas estão apresentando resultados líquidos negativos ou mais magros do que em anos anteriores, o que pode afetar o desempenho dos negócios no final de 2015. Não a ponto de diminuir a importância do período, mas de desacelerar um pouco o forte aquecimento dos nove primeiros meses do ano.

"A quantidade de participantes deve diminuir um pouco. E já percebemos aumento de resgate nos planos empresariais por conta do desemprego", afirma Lúcio Flávio Condurú, presidente da Bradesco Vida e Previdência. A seguradora, a maior do mercado em reserva acumulada, com R$ 155 bilhões até setembro, vem se ressentindo da alta volatilidade do mercado e operou no vermelho até setembro com R$ 1,45 bilhão em captação líquida negativa, segundo dados na NetQuant, que só considera os fundos PGBL e VGBL em sua pesquisa. "Notamos algumas pessoas resgatando para ajudar nas emergências familiares", afirma Luciano Snel, presidente da Icatu Seguros, que possui R$ 8,8 bilhões em reserva e R$ 519 milhões em captação líquida no ano, e que observa que a volatilidade deste ano é diferente da de 2013 e tem mais a ver com a crise política e econômica. "Setembro, no entanto, se mostrou um mês muito bom para a Icatu", afirma.

O que pode turbinar as arrecadações futuras diz respeito ao Projeto de Lei (PL) 10, já aprovado na Câmara dos Deputados, que propõe a criação do VGBL Saúde e o reparo de distorções tributárias existentes no VGBL Empresarial. "O cliente que usar os recursos acumulados no VGBL em despesas com a saúde terá isenção total de impostos", afirma Alfredo Lalia, diretor-presidente do HSBC Seguros no Brasil.



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