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Demanda por previdência privada aumenta entre os mais jovens

Fonte: Valor Econômico
Por Adriana Carvalho

Alvo de protestos e de greves no último dia 15, a proposta de reforma da previdência aumentou a preocupação dos brasileiros com a aposentaria. Mas a PEC não é considerada fator determinante para o aumento de contratações dos planos privados e nem tem estimulado a criação de novos produtos para o público com menor renda.

Embora muitas instituições ofereçam alternativas com contribuições mensais baixas, na maioria delas o perfil dominante dos investidores ainda é de pessoas que podem aplicar mensalmente acima de R$ 300.

"O ano passado foi muito bom mas é difícil falar que foi por causa da proposta de reforma da previdência. A indústria vem crescendo nos últimos cinco anos principalmente pela mudança demográfica do país", avalia Paulo Valle, presidente da Brasilprev, que viu seu volume de ativos dobrar nos últimos três anos, chegando a R$ 200 bilhões este ano. A instituição oferece planos a partir de R$ 60, mas a demanda maior está nos planos com tíquete de R$ 400. "Temos preocupação em popularizar os planos e para isso temos investido em difundir a cultura previdenciária", explica.


Com foco em cooperativas de médicos e contribuintes com tíquete médio de R$ 1.000, a Seguros Unimed também tem produtos mais baratos, a partir de R$ 60. "Já é um valor bem acessível. Mas não podemos ter ilusão. Se investir muito menos que isso, o benefício será muito pequeno no futuro", diz Silas Devai Junior Superintendente de estratégia comercial vida, previdência e patrimoniais.

A Caixa Seguradora, que tem produtos de previdência com tíquete médio de R$ 300, registrou no ano passado crescimento de vendas de 49% sobre 2015, alcançando R$ 4,5 bilhões. Segundo Rosana Techima, diretora de previdência da instituição, a maior procura dos investidores foi estimulada pelo cenário de juros altos. "Além disso, vemos que o perfil dos investidores está mudando. Há quatro anos, a média dos que contratavam novos planos girava em torno de 55 anos, hoje está entre 35 e 40 anos", diz ela. Segundo Techima, desde 2012 o banco oferece planos a partir de R$ 35 com isenção de taxa de carregamento. Para atrair mais esses poupadores, ela diz que o banco vai investir em linguagem mais acessível na hora de vender os planos.

Também a SulAmérica oferece planos acessíveis a partir de R$ 50, embora seu tíquete médio seja dez vezes maior que isso. "A maior mudança que notamos desde a divulgação da PEC é que há mais clientes mais jovens procurando planos de previdência", afirma Marcelo Mello, vice-presidente de investimentos, vida e previdência.

Para Alfredo Lalia, diretor presidente da Zurich Santander, previdência privada é tradicionalmente um produto de tíquete alto e com baixa penetração no segmento massificado. "Já temos produtos a partir de R$ 50. Mas a não ser que tenha alguma surpresa na reforma, não vejo produtos muito diferentes surgindo", afirma.

Especialista em previdência, a professora do Instituto de Economia da UFRJ, Denise Gentil diz que não é a mudança de linguagem ou o aumento de divulgação que fará as pessoas com menor renda contratar planos de previdência privada. "Quem não tem renda não fará plano privado. Em 2015, quase 80% dos aposentados por idade havia contribuído com menos do que os 25 anos exigidos pela reforma. As pessoas não conseguem contribuir por tanto tempo e, portanto, não se aposentarão. Se não conseguem contribuir para o fundo público, não o farão para um fundo privado", diz a especialista. Segundo ela, reformas de previdência semelhantes foram implantadas sem sucesso em outros países como Portugal, Grécia, Espanha, Chile, Argentina. "Esses países voltaram atrás porque a pobreza e violência aumentaram demais. O FMI, a OCDE e o Banco Mundial publicaram vários artigos desde 2012 desaconselhando a fazer reformas de previdência que sejam destituidoras de direitos porque não funciona", pontua ela.

Já o presidente da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi), Edson Franco, diz que quando se compara o valor médio da renda brasileiro na ativa com o valor médio da aposentadoria pública percebe-se a relação é de quase 100%. "Sem entrar no mérito se o valor em si é alto ou baixo, percebe-se que esse modelo não é sustentável no longo prazo", opina ele. Ele diz que não foi a discussão da reforma que gerou impacto na procura de planos privados. "Esse é um segmento ainda jovem no país e que vem apresentando expansão nos últimos anos. O que notamos de mudança de 2015 para 2016 foi o aumento da participação dos planos individuais", diz ele. Com a recessão no ano passado e o aumento do desemprego, essa modalidade puxou o crescimento do setor com contribuições e prêmios que chegaram a R$ 98,03 bilhões, com aumento de 15,77% em relação a 2015.

Por esse motivo, as instituições tem se concentrado mais em atender tanto os investidores individuais quanto o de PMEs. "Nossa atuação com pessoa física é focada em média e alta renda. Em 2017, nosso objetivo é ampliar nossa presença no segmento de pequenas e médias empresas", diz Raphael de Carvalho, presidente da MetLife no Brasil.

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