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Resseguro: Depois de dez anos, mercado conquista competitividade

Fonte: Valor Econômico
Por Denise Bueno

Passados dez anos da promulgação da abertura mercado brasileiro de resseguros, o resultado é comemorado por todos. Mesmo que faltem alguns ajustes nas regras, o Brasil já é considerado um mercado maduro e global. "Saímos de um ressegurador autorizado a vender resseguro, em 2007, para 123, dez anos depois. Dos 40 maiores grupos resseguradores mundiais, 38 operam regularmente no Brasil e ofertam capacidade e produtos aos clientes brasileiros", diz Paulo Pereira, presidente da Federação Nacional das Empresas de Resseguros (Fenaber).

O mercado local de resseguros movimentou receitas de R$ 10 bilhões em 2016. "Um crescimento real de 75% em relação aos números de 2007, elevando de 9,5% para 11,5% a proporção de cessão de resseguro sobre prêmios de seguros gerais", destaca Rodrigo Botti, diretor da resseguradora local Terra Brasis, que faz estudos trimestrais sobre o setor.

Desse valor, 77% foram repassados às 16 locais, estabelecidas no país, e o restante para grupos chamados de admitidos (30) e eventuais (77), que apenas mantêm um representante comercial no país.


Os seguradores, que são os clientes das resseguradoras, comemoram. "Todos passaram por um grande aprendizado com relação ao tratamento da informação, lançamentos e novos controles", afirma o diretor de resseguros corporativos da BB Mapfre, Fernando Zamboim, líder de cessão de prêmios de resseguro ao mercado.

Edson Franco, CEO da Zurich também elogia a abertura. "Em 2016 firmamos ótimas parcerias e melhoramos processos, com feedbacks positivos dos parceiros de negócios. Investimos muitos esforços em tecnologias e temos ainda grandes novidades a serem lançadas este ano", diz.

Já os resseguradores ainda se ajustam às regras definidas pela Superintendência de Seguros Privados (Susep) e também lutam para ganhar mercado com lucratividade. Apesar de todos os avanços, o lucro do setor é bem concentrado. Segundo os dados mais recentes, nos nove primeiros meses de 2016, as resseguradoras locais apresentaram lucro de R$ 663 milhões, 4,7% menor que os R$ 696 milhões no mesmo período de 2015. Nesse período até setembro, o IRB lucrou R$ 480 milhões e as demais resseguradoras, R$ 183 milhões.

"O IRB passou por um longo processo nos últimos anos e os números mostram uma estratégia vencedora, entregando aos acionistas e ao mercado um resultado recorde e serviços de excelente qualidade", afirma o presidente Tarcísio Godoy.


O lucro líquido do IRB foi de R$ 850 milhões em 2016, com avanço de 11,3% em relação ao ano anterior, e os prêmios emitidos somaram R$ 4,9 bilhões, alta de 13,6% no mesmo período de comparação, o que lhe confere 39% de market share do mercado local de resseguros. Muito se fala da oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) do IRB. Godoy limita-se a dizer que o IRB é uma empresa competitiva e está pronta para os desafios. "O IPO vai acontecer quando os acionistas decidirem." O governo tem 27,44% do capital do IRB, BB Seguros, 20,43%, Bradesco Seguros, 20,43%, e Itaú, 14,94%, entre os principais acionistas.

"Podemos dizer que a abertura ainda está em processo, considerando-se as exigências de percentuais mínimos de todos os contratos aos resseguradores locais. O fim dessas proteções está previsto para 2020", destaca Ângelo Colombo, CEO da Allianz Global Corporate & Specialty (AGCS).

Também há dúvidas sobre normas como a tributação do resseguro nas esferas de local, admitido e eventual. Independentemente, todas buscam se diferenciar nos produtos ofertados, ter taxas competitivas e ajudar suas clientes a subscrever riscos com apoio da tecnologia e de técnicos renomados mundialmente.

A especialização passou a dar o tom das negociações. As seguradoras de grandes bancos acabavam ganhando o seguro quando o banco era o financiador, porém repassavam todo o risco ao IRB. Como tinha o monopólio, o IRB sempre aceitava os contratos. Com a abertura, Itaú vendeu a carteira de grandes riscos para a Ace, atual Chubb, SulAmérica para a AXA e a Bradesco para a Swiss Re Corporate Solutions, entre outras transações. "Sem dúvida, a abertura foi benéfica para todos. Os bons riscos passaram a ter mais acesso a produtos e coberturas diferenciadas. "Os clientes com riscos excluídos, com baixa aceitação, passaram a investir mais em gerenciamento para ter um programa com boas condições de taxas", afirma.

A recessão econômica foi um baque para todos, justamente no período em que se consolidava uma nova forma de negócios. "O mercado todo observou um impacto considerável nas carteiras de seguros empresariais, além de energia, petróleo, gás, construção, entre outros impactados também pela Lava-Jato.

"Avaliamos que atingir as metas é desafiador. O segurador local precisa ser mais competitivo, subscrevendo negócios rentáveis, enquanto o ressegurador internacional procura atingir a rentabilidade necessária por meio do relacionamento de longo prazo", comenta Fernando Paes, diretor da Liberty International Underwriters (LIU), divisão de riscos especiais da Liberty Seguros.

A saída, desde o final de 2015, foi explorar o mercado internacional, como fizeram IRB, Terra Brasis, AGCS e Austral Re. No IRB, cerca de 25% do faturamento veio dos escritórios internacionais de Buenos Aires, Nova York e Londres. Na AGCS, que tem no Brasil o centro de resseguros para a América Latina, cerca de 10% provém de países vizinhos (Chile, Peru e Colômbia) em 2016. Na Austral Re, 9%.

A Terra Brasis vem gradativamente ampliando a atuação para outros países latino-americanos, como Colômbia, Peru, Equador e México, informa o diretor da empresa. A resseguradora também inovou ao emitir, em fevereiro, na bolsa das Bermudas, o primeiro ILS (Instrumento Ligado a Seguros) patrocinado por uma resseguradora brasileira. Atualmente a transferência de riscos de seguros para o mercado de capitais é uma das tecnologias de ponta sendo desenvolvidas pelo mercado (re) segurador mundial.

O otimismo para o crescimento do mercado de resseguros do Brasil é unânime entre as fontes, principalmente no segmento de agronegócios, longevidade e responsabilidade civil, destaca o CEO do IRB. Mundialmente, grandes riscos correspondem a menos de 25% do prêmio global de resseguro.

Cerca de 25% da carteira mundial de resseguro é relacionada a responsabilidade civil de automóvel, produto ainda não presente no mercado privado de seguro no Brasil. Outra boa parte do prêmio de resseguro mundial é relacionada a seguros de vida de acúmulo, outro produto pouco desenvolvido no Brasil. "Na medida em que estes e outros produtos de seguro forem desenvolvidos no Brasil, eles demandarão capacidade de resseguro local", aposta Botti.

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