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Ataques recentes feitos por hackers dão sinal de alerta

Fonte: Valor Econômico

Por Carlos Vasconcellos | Para o Valor, do Rio


Flávio Sá, da AIG: "O mercado dos EUA deve chegar aos US$ 20 bilhões em prêmios de risco cibernético em 2020"


A última onda de ataques cibernéticos globais, em especial o avanço do vírus Wanna Cry no começo do ano, fez soar o alarme nas empresas brasileiras. Com isso, aumentou em 280% o número de consultas a corretoras especializadas e seguradoras para a contratação de apólices contra risco cibernético. O mercado ainda é muito pequeno no Brasil e os prêmios arrecadados não passam de poucos milhões de reais. Em sua maioria comprados por empresas multinacionais que precisam cumprir regras de compliance de suas matrizes. Mas o potencial de crescimento é grande.

"Nos Estados Unidos, os ataques cibernéticos causaram perdas de US$ 108 bilhões em 2015, e o volume de prêmios nesse segmento foi de US$ 3 bilhões", diz Angelo Colombo, presidente da AGCS Brasil, subsidiária de resseguros da alemã Allianz. "Aqui no Brasil, no mesmo período, estima-se que esse prejuízo foi de US$ 7,7 bilhões."

Essa demanda inexplorada atraiu a AGCS Brasil para o segmento. A empresa aguarda apenas a autorização da Susep para começar a vender suas apólices contra risco cibernético no país. Inicialmente, a seguradora destinará US$ 400 milhões para essas coberturas no Brasil. "É um volume adequado para uma fase de introdução", avalia Colombo. No mercado global, o limite máximo de cobertura para um único cliente até hoje foi de US$ 2 bilhões, garantido por um consórcio de seguradoras.


Por enquanto, o mercado brasileiro de risco cibernético se limita às seguradoras multinacionais. A AGCS será a quarta seguradora a operar nesse segmento no país. Antes dela, apenas AIG, XL Catlin e, mais recentemente, a Zurich, vendiam esse tipo de apólice no Brasil. "Esse mercado foi desenvolvido fora, não há modelagem para esse tipo de risco no Brasil", explica Colombo. "Por isso, as seguradoras brasileiras ainda estão fora desse nicho. Lançar uma apólice no escuro não é seguro, é aposta".

Flávio Sá, gerente de linhas financeiras da AIG Brasil acredita que o crescimento desse mercado será exponencial em todo o mundo. "O mercado dos Estados Unidos deve chegar aos US$ 20 bilhões em prêmios de risco cibernético em 2020", diz. Isso acontece porque as empresas enfrentam riscos que antes não havia. "As empresas são cada vez mais digitalizadas, dependentes da tecnologia, e temos avanços como a Internet das Coisas, que vai aumentar ainda mais essa exposição ao risco", diz.

No Brasil, Sá concorda que uma lei de proteção de dados poderia ajudar a impulsionar o segmento. "O nível de governança em relação à segurança de dados é muito baixo", avalia. Os projetos de lei em tramitação preveem a obrigação de as empresas comunicarem os ataques a seus bancos de dados. "Hoje, pode levar até seis meses para uma empresa descobrir que foi atacada, que dirá comunicar isso a seu cliente final". Mas ele é otimista. "O segmento de risco cibernético pode ficar mais importante para o setor do que o seguro de responsabilidade administrativa".

Já para Ana Albuquerque, gerente de linhas financeiras da corretora Willis Towers Watson, enquanto a legislação não mudar, a preocupação dos empresários brasileiros vai crescer e diminuir ao sabor das ondas de ciberataques. "A cultura de segurança de dados não está impregnada no Brasil, ela é apenas sazonal", diz. "Ela avança quando acontece um ataque rumoroso de nível global e depois é esquecida".

Ana observa que essa percepção da ameaça hacker é um pouco exagerada. Apesar de eles causarem grandes prejuízos, o risco na maioria das vezes está bem mais perto do que se pode imaginar. "Na verdade, mais de 40% dos ataques decorrem de erros ou fraudes causados por funcionários da própria empresa".

Apesar de tudo, a consciência do risco avança. "Hoje, 46% das empresas brasileiras com exposição ao mercado de capitais já fazem relatórios sobre segurança de informação e dados cibernéticos", diz. Por outro lado, isso quer dizer que 54% ainda não fazem. "Temos ainda muito espaço para crescer".

Com maior ou menor velocidade, todos apostam que o mercado brasileiro vai crescer. E um dia, quem sabe, o seguro de risco cibernético se torne tão corriqueiro como um seguro de automóveis. "Acho que o mercado pouco a pouco vai evoluir para isso, para coberturas fracionadas", prevê Colombo. "Você faz um seguro de celular e uma parcela do prêmio é usada para proteger os dados do seu smartphone".

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