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Medidas preventivas

Fonte: Valor Econômico

Por Felipe Datt | Para o Valor, de São Paulo

A primeira versão da "Pesquisa Global sobre Gestão de Riscos" da Aon, em 2007, detectou que os danos materiais à sede das empresas lideravam a lista dos riscos que mais tiravam o sono do empresariado. Dez anos depois, as prioridades mudaram radicalmente. No documento mais recente dessa corretora e gestora de riscos, de fevereiro de 2017, o dano à reputação e à marca, o ambiente econômico volátil, a responsabilidade civil dos colaboradores e o receio de sofrer um ataque cibernético entraram no rol dos principais riscos que mais incomodam os executivos.


"Hoje, o dano físico nem aparece entre os dez principais da pesquisa", afirma Marcelo Homburger, vice-presidente de relacionamento da Aon Brasil. Com pequenas variações, as "dores" dos executivos são as mesmas globalmente, nos EUA, Europa ou Brasil, e estão cada vez mais sofisticadas.


Parte integrante da pesquisa que reuniu 1.843 executivos globalmente, o Brasil exemplifica esse cenário de novos riscos que entraram no radar. Três anos de recessão, crise política sem precedentes, a intensificação da Lava-Jato, a aprovação da Lei 12.846/13 (Lei Anticorrupção) e a possibilidade de penalizar dirigentes por atos lesivos contra o poder público deixaram as empresas mais expostas e trouxeram à mesa dos conselhos uma infinidade de riscos que, ainda que rondassem os negócios há dez anos, não eram tão presentes como hoje em dia.


O cenário de maiores incertezas tirou as empresas da zona de conforto ao tornar mais evidente a necessidade de um melhor tratamento da gestão de riscos. Ainda que essa maturidade esteja restrita às grandes empresas e multinacionais, cresce a demanda junto a seguradoras e corretoras para que atuem cada vez mais próximas das companhias em um trabalho de consultoria para ajudá-las a mapear, mitigar e responder aos riscos de diferentes naturezas, com suas áreas de gerenciamento de riscos.

"O foco mais importante do trabalho é que as empresas conheçam os seus riscos. Muitas sequer sabem que estão expostas a determinadas situações", diz o líder de energy e construction da Willis Towers Watson, James Hodge.

A confecção de medidas preventivas e responsivas a eventuais incidentes é o foco de atuação do mercado segurador, seja por meio do desenho de políticas de mitigação ou da indicação de seguros que darão à empresa a garantia de que, se os riscos se materializarem em sinistros, haverá amparo para manter a operação sustentável.

Ainda que nem todos os riscos corporativos sejam seguráveis - conforme cálculos da Marsh, apenas 30% dos riscos são passíveis de cobertura de seguros -, a proliferação de "novos" imprevistos tem levado as seguradoras a cada vez mais desenvolver produtos ou sofisticar apólices que protejam as empresas de episódios de inadimplência, má gestão dos executivos, ataques cibernéticos e recall de produtos - os exemplos são diversos.

Há três anos, a AIG Brasil lançou um seguro voltado para operações de fusão e aquisição (M&A, na sigla em inglês), que ampara o comprador na cobertura de eventuais prejuízos resultantes da infração às garantias dadas pelo vendedor, indenizando o "passivo oculto" não identificado no processo de diligência. Em 2015, o Grupo Liberty lançou uma proteção específica para o recall de produtos. Dados da Secretaria Nacional do Consumidor do Ministério da Justiça e Segurança Pública (Senacon) revelam que, em 2016, mais de 9,6 milhões de produtos retornaram às fábricas no Brasil, o maior número desde o início da série histórica, em 2003.

Outros produtos, embora mais antigos no mercado, ganharam destaque apenas nos últimos anos, em um cenário desafiador. O maior exemplo é o directors and officers (D&O, na sigla em inglês), modalidade de seguro de responsabilidade civil contratado pelas empresas para proteger o patrimônio de diretores e administradores em casos de reclamações e ações judiciais por prejuízos causados a terceiros decorrentes de má gestão.

"Há a favor dessa popularização um dado estrutural que é a crescente judicialização da vida cotidiana em todo o mundo, com a responsabilização de diversos altos gestores", avalia Robert Bittar, presidente da Escola Nacional de Seguros.

Introduzido no Brasil no final da década de 90, o D&O avançou com mais força apenas em anos recentes. Conforme dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep), a arrecadação da carteira cresceu 152,23% de 2010 a 2016, quando os prêmios somaram R$ 372,8 milhões.

Com órgãos reguladores como a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e o Banco Central com demandas administrativas cada vez mais severas, e com a recessão pressionando os executivos em suas tomadas de decisão, induzindo a erros que podem ser contestados judicialmente por acionistas, o seguro se tornou um item valioso também em cestas de benefícios. Pesquisa da consultoria Page Executive mostra que 63% dos presidentes e diretores-executivos de companhias no Brasil possuem o seguro.

"Hoje, o próprio executivo exige esse tipo de seguro para assumir um posto de liderança em alguma empresa. É um fator que pesa no crescimento do D&O", diz Fernando Santoro, superintendente comercial da MDS Insure Brasil.

Os principais contratantes ainda são empresas de capital aberto e instituições financeiras, além de subsidiárias de multinacionais. Nos últimos anos, entretanto, aponta o diretor de 'financial lines & energy' da Chubb, Rafael Domingues, é "notório" o crescimento da contratação do seguro por empresas de menor porte. "São comuns os casos de terceiros que buscam responsabilizar executivos por atos de sua gestão", diz.

Outro produto que desembarcou no final da década de 90 no Brasil, mas que começou a ser contratado com mais força apenas nos últimos anos, é o seguro de crédito. O produto, contratado pela empresa vendedora de bens e serviços, desde que exista uma fatura e que a negociação ocorra a prazo para outra empresa, tem como foco evitar que um episódio de inadimplência ou insolvência do cliente comprometa o fluxo de caixa. Conforme a Susep, a carteira cresceu 112,60% de 2010 a 2016, somando R$ 290,2 milhões em prêmios em 2016.

O seguro contra riscos cibernéticos também surge com grande potencial de crescimento nos próximos anos no Brasil. Ataques de hackers a bancos de dados, malwares e ransomwares como o WannaCry - que levou à paralisação da produção da japonesa Honda em junho -, já são a nona maior preocupação dos empresários brasileiros, conforme a pesquisa da Aon.

Na América do Norte, o cybercrime é a preocupação número um. Conforme Homburger, da Aon Brasil, o seguro cibernético já movimenta US$ 3 bilhões em prêmios nos EUA, com previsão de quintuplicar esses valores em cinco anos.

"No Brasil, o mercado ainda é pequeno e o volume de prêmios não ultrapassa R$ 20 milhões. Mas vai crescer", diz. Por aqui, a procura pelo seguro avança em segmentos como o hospitalar, telecom, aviação e energia. Além da contratação do seguro, a demanda por consultorias especializadas no diagnóstico de vulnerabilidades dos sistemas corporativos também tende a crescer. Em 2016, a Aon adquiriu a americana Stroz Friedberg, da área de gestão de riscos cibernéticos, e a atuação deve se expandir ao Brasil.

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