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Setor de seguros da Flórida será posto à prova com Irma

Fonte: Valor Econômico
Por Leslie Scism | Dow Jones Newswires

O furacão Irma colocará à prova o mercado de seguros da Flórida, onde as grandes seguradoras reduziram sua presença e foram substituídas por pequenas empresas e uma instituição estadual.

O mercado de seguros da Flórida quase veio abaixo em 2006, após algumas das tempestades mais onerosas da história dos EUA - além da Katrina, houve Charley, Frances, Ivan, Jeanne, Rita e Wilma em 2004 e 2005. Na esteira dos fenômenos, muitas grandes seguradoras residenciais reduziram a venda de apólices no Estado, frustradas por órgãos reguladores e por parlamentares que se rebelaram contra os grandes aumentos das taxas, segundo elas, essenciais.

O que se seguiu foi um caminho tortuoso. Inicialmente, o governo estadual empregou sua instituição Citizens Property Insurance para preencher o vácuo, e ela se tornou a maior seguradora do Estado, com quase 1,5 milhões de apólices em 2011. A partir desse momento, cerca de 50 seguradoras residenciais de pequeno e médio porte passaram a desempenhar um papel cada vez maior. Elas se apoderaram de tantos negócios que a lista das 20 maiores da Flórida por participação no mercado de seguros de imóveis residenciais está cheia de nomes de empresas das quais a maioria das pessoas de outros Estados nunca ouviu falar. Essa transformação ocorreu durante um intervalo de 12 anos sem furacões, o que contribui para o aprimoramento da Citizens. Mas o período também foi longo o suficiente para que o novo sistema nunca passasse por um teste na vida real.


"A verdade é que um furacão de categoria 4 ou 5, em uma área densamente povoada, é um teste de estresse importante de tudo [porque] a destruição é quase inimaginável", disse Joseph Petrelli, presidente da Demotech, uma empresa de classificação de risco especializada no mercado da Flórida.

Nos limites da Flórida, boa parte do foco nos últimos anos se centrou na construção de um colchão de capital na Citizens. Após se beneficiar da ausência de furacões e elevar gradualmente o valor dos prêmios, a Citizens tem condições de pagar US$ 9,9 bilhões em indenização, que é o dinheiro imediatamente disponível para esse fim, disse um porta-voz da empresa.

Uma organização irmã, o Florida Hurricane Catastrophe Fund, tem cerca de US$ 17 bilhões, segundo o porta-voz.

John Rollins, executivo da Cabrillo Coastal General Insurance Agency, de Gainesville, que era o diretor de risco da Citizens até o início deste ano, disse que a Citizens e o Catastrophe Fund "foram reabastecidos por uma combinação de sorte meteorológica e planejamento prudente".

A Citizens ainda tem cerca de 443 mil detentores de apólices atualmente na Flórida.

As empresas menores são, cada vez mais, as que acrescentam clientes. Algumas são "startups" de capital aberto e muitas têm bases de capital pequenas. Um total de 56 delas registrou um superávit - ativos menos passivos - de US$ 3,9 bilhões em dados de março, em relação ao superávit de US$ 1,8 bilhão computado por 48 empresas em 2010, segundo a Demotech.

As regras vigentes no Estado exigem que essas empresas comprem resseguro, a título de respaldo, ao qual outras seguradoras estão sujeitas para pagar alguns pedidos de indenização. O Estado faz então um "teste de estresse de catástrofe natural para simular o impacto de tempestades catastróficas e a capacidade de resposta das empresas", disse Karen Kees, porta-voz do Departamento de Regulamentação de Seguros da Flórida.

Esses contratos de resseguro ajudaram na ascensão de empresas de menor porte. Desde a crise financeira e do período de taxas de juros ultrabaixas, fundos de pensão, fundos soberanos e outros grandes investidores ávidos por retornos injetaram dezenas de bilhões de dólares no mercado de resseguros para diversificar seus investimentos. Isso levou a uma queda acentuada dos preços dos resseguros imobiliários contra catástrofes naturais, e agora essas empresas menores da Flórida conseguem se reabastecer de mais resseguros a preços mais baixos.

"Haverá prejuízo, haverá muito desgosto" se o Irma efetivamente atingir a Flórida, disse Paresh Patel, fundador e executivo-chefe da seguradora residencial HCI Group , de Tampa. Mas "isso acontecerá no melhor ambiente que se poderia, razoavelmente, esperar" para o mercado de seguros do Estado, disse Patel. Entre as resseguradoras da HCI está uma empresa que pertence ao fundo de investimentos Berkshire Hathaway.

Além das empresas menores, os habitantes da Flórida também poderão receber dinheiro para obras de reconstrução e de reparos através de um grupo de unidades "filhotes" de empresas maiores. Elas foram criadas para isolar sua divisão de proprietários de residências da Flórida das do resto do país.

As afiliadas regionais da Allstate, atualmente chamadas Castle Key Insurance, tinham mais de 500 mil apólices em vigor em 2006. Atualmente, têm cerca de 200 mil apólices, principalmente em áreas de menor risco do Estado. A Nationwide Mutual Insurance conta com apenas 30 mil detentores de apólices. Um porta-voz da Allstate disse que não prevê expansão para a Castle Key neste ano.

Quando a Flórida reconstruiu seu mercado de seguros, sofreu reveses. Algumas empresas pequenas faliram. Isso ocorreu não devido aos pedidos de cobertura causados pelos furacões, e sim devido à grande quantidade de pedidos de indenização por formação de crateras subterrâneas, que não eram cobertos pelo resseguro contra catástrofes naturais.

Além disso, as autoridades reguladoras da Flórida reconheceram que os valores dos prêmios da Citizens estavam bem inferiores ao custo do risco assumido pelas seguradoras ao longo do extenso litoral do Estado, e que precisavam ser elevados. O prolongado período de ausência de furacões deu tempo para que o Estado elevasse gradualmente as taxas.

Kevin McCarty, fundador da Celtic Global Consulting, disse que "o hiato dos furacões" foi decisivo para superar os problemas do Estado. As tempestades "poderiam ter mudado o curso desta história, onde estamos agora."

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