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Seguradoras revisam atuação no Rio com aumento da criminalidade

Fonte: Valor Econômico
Por Daniela Meibak | De São Paulo

O aumento da criminalidade no Rio de Janeiro levou as seguradoras a reavaliarem a atuação no Estado, com alta de preços e mais restrição para aceitar os riscos. Os dois principais produtos afetados foram o seguro de automóveis e o de transporte de cargas.

Pesquisa realizada pela corretora de seguros Bidu a pedido do Valor mostrou que os preços médios do seguro auto na cidade do Rio tiveram um aumento de 74,8% nos últimos dois anos, passando de R$ 1.905,12 no início de 2016 para R$ 3.728,33 no começo deste ano. O bairro com maior aumento no preço foi Botafogo, com alta de 165,29%, para R$ 3.874,00.

Para o levantamento, que mediu a evolução dos preços em 20 bairros cariocas, a corretora usou como parâmetro o perfil de um homem de 40 anos, casado e dono de um Gol, o carro mais vendido até outubro do ano passado, segundo dados da Fenabrave.

"Desde 2016, começamos a ver uma mudança na precificação e na avaliação que as seguradoras passaram a fazer. A inflação influenciou, mas o maior componente foi a sinistralidade", afirma Marcella Ewerton, responsável pelo marketing da Bidu. Nesse período de dois anos, a inflação acumulada medida pelo IPCA ficou em 9,42%.

Como o cenário de risco mudou muito, as seguradoras de veículos responderam de maneira conservadora e, em alguns casos, chegaram a dobrar os preços de 2016 para 2017, segundo a Bidu. Ao longo do ano passado, contudo, foi possível entender melhor a situação local e ajustar novamente a carteira, o que levou, inclusive, a uma queda de 10,7% dos preços neste ano. Marcella explica que a questão do aumento da criminalidade ainda não foi endereçada, mas as seguradoras passaram a entender melhor quais os riscos envolvidos.

Para ter ideia da piora, dados do Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro mostram que o volume de veículos roubados ou furtados subiu 20% no ano passado, para 70 mil unidades. A expansão veio depois de uma alta de 21,8% entre 2015 e 2016. O avanço da criminalidade levou o governo federal a decretar, em meados de fevereiro, intervenção na segurança pública no Estado.

Diante desse cenário, a SulAmérica, uma das principais seguradoras de automóveis do Estado, revisou seus processos internos de avaliação de risco, mudou premissas e o sistema de cotação, segundo o presidente Gabriel Portella. A revisão dos preços passou a ser diária, de acordo com o risco da localidade. "Buscamos a precificação correta para refletir a realidade do Rio de Janeiro. De fato, lá a taxa é mais alta que a média", afirma.

A SulAmérica também tem buscado aumentar a participação em outras regiões do Brasil em que não tinha grande presença. Com isso, conseguiu reduzir o índice de sinistralidade de 66,9% em 2016 para 65,5% no ano passado.

Na Porto Seguro, o ano passado foi de recomposição de margem operacional, para equilibrar a queda no resultado financeiro. Na publicação do balanço do quarto trimestre, o diretor de relações com investidores, Marcelo Picanço, contou que a melhora veio de aumento de preço, e não de expansão de mercado. O executivo afirmou ainda que a empresa buscou aprimorar a disciplina de subscrição, avaliando melhor os riscos antes de aceitar novas apólices.

As transportadoras de cargas também sofrem com a situação e, por consequência, as seguradoras. Dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep) mostram que o volume de sinistros do ramo subiu 109,5% de 2016 para 2017, passando para R$ 134,5 milhões. José Adalberto Ferrara, presidente da Tokio Marine, diz que a seguradora sentiu o aumento da frequência dos sinistros e lembra que, nesse ramo, as despesas são mais altas no caso de um roubo.

"Temos investido no departamento de gestão de risco que analisa cada região e gera orientações para os clientes de como mitigar os riscos e ser mais eficientes no transporte", afirma o executivo. Segundo ele, a Tokio Marine não deixou de aceitar novas apólices por conta do aumento do risco, mas que o ajuste de preço é feito.

Pela estimativa de Venâncio Moura, diretor de segurança do Sindicato das Empresas de Transporte Rodoviário de Cargas e Logística do Rio de Janeiro (Sindicarga), cerca de 30% das empresas de transporte que atuam no Estado do Rio de Janeiro não conseguem contratar o seguro da carga. Para ele, o número tende a crescer, à medida que os contratos que vencem não são renovados. Esse é o caso principalmente das transportadoras que trabalham com alimentos, produto mais roubado.

Mesmo quando o risco é aceito, diz Moura, as exigências feitas deixam o processo muito mais caro. "Muitas seguradoras estão exigindo escolta, o que é muito caro para ser contratado. Além disso, para produtos de alto valor agregado, como celulares e computadores, Os ofícios envolvem indícios de crime identificados tanto em procedimentos administrativos sancionadores como no curso da atuação geral da autarquia. algumas exigem que o transporte seja feito em várias viagens para reduzir o potencial prejuízo."

O presidente da seguradora francesa Axa no Brasil, Philippe Jouvelot, não acredita que os preços tenham subido a ponto de inviabilizar a contratação por parte das transportadoras, embora não abra a taxa de ajuste aplicada pela sua instituição.

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