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IRB faz um ano de bolsa e vira líder na América Latina

Fonte: Valor Econômico

Por Sérgio Tauhata | Valor

SÃO PAULO  -  O resultado do segundo trimestre do IRB Brasil Re, divulgado no começo do mês, surpreendeu até mesmo analistas mais otimistas, acostumados aos desempenhos positivos recentes. Isso porque a empresa, líder da área de resseguros no país, ampliou ainda mais a participação no mercado local de 43% para 46%, ou seja, seis vezes o tamanho da segunda colocada, a Zurich Re.

Analistas da BB DTVM classificaram os resultados como um “presente perfeito” para os investidores exatamente no momento em que o grupo completa um ano como companhia listada na bolsa brasileira. O avanço em termos de fatia de mercado também carimbou a conquista do posto de maior resseguradora da América Latina em prêmios emitidos, meta que o próprio IRB já vislumbrava desde o último trimestre do ano passado.

Não bastasse o crescimento da participação doméstica, o IRB ainda ampliou a contribuição dos prêmios emitidos no exterior de 32,4% no primeiro semestre de 2017 para 38,1% no mesmo período deste ano. O montante atingiu R$ 1,269 bilhão nos seis primeiros meses de 2018. Na metade inicial do ano, o IRB registrou R$ 3,331 bilhões em prêmios totais, um crescimento de 16,7% na comparação anual.

O retorno sobre patrimônio líquido (ROE) atingiu 30% no final do semestre. Levantamento da Willis Re, da Willis Tower Watson, mostra o IRB como resseguradora mais rentável do planeta. Na segunda posição, a Reinsurance Group of America (RGA) apresentou ROE de 20,2% no mesmo período.

Nada mau para uma empresa que nasceu como um monopólio estatal em 1939 e apenas 68 anos depois passou a encarar a concorrência com a abertura do mercado brasileiro em 2007. Desde a privatização do grupo em outubro de 2013, o IRB só ampliou seu tamanho na indústria de resseguros local. Em 2014, logo após ter deixado de ser estatal, a fatia alcançava 31%. Três anos mais tarde, a participação subiu para 36%. Neste ano atingiu 46%.

O potencial de crescimento pode ter passado despercebido para grande parte dos investidores à época da abertura de capital, mas não para o faro da Berkshire Hathaway, de Warren Buffett. A firma americana de investimentos teria mantido tratativas para adquirir participação na empresa brasileira no ano passado, segundo notícias publicadas em veículos internacionais. Se a conversa ainda continua, o IRB não confirma, mas também não nega. Ao ser questionada sobre a continuidade negociação, a companhia afirmou ao Valor apenas preferir não comentar questões societárias.

Com a abertura de capital (IPO) da empresa em 27 julho de 2017, o bloco de acionistas controladores ficou dividido entre Bradesco e Banco do Brasil, com uma fatia de 15,2% cada, seguidos pelo governo, que tem 11,7%, pelo Itaú Unibanco, com 11,1%, e pelos 7,4% detidos pelo fundo de participação em empresas (FIP) Caixa Barcelona, com cinco cotistas entre os quais a Previ, o fundo de pensão dos funcionários do BB, a Funcef, de servidores da Caixa, e a Petros, de empregados da Petrobras. O “free float”, ou seja, a parcela negociada na B3 alcança 39,4%. Desde o IPO até 29 de agosto, a ação apresenta ganho nominal de 115%.

“A livre concorrência, a abertura de mercado e a privatização foram as melhores coisas que poderiam ter acontecido ao IRB”, afirma o presidente da resseguradora, José Carlos Cardoso, em entrevista ao Valor. “Não creio que um mercado demasiadamente protegido possa crescer de maneira saudável. Sempre fui a favor da livre competição e que vença o melhor e a empresa melhor preparada.”

De acordo com o executivo, “o mercado de resseguros está cada dia mais globalizado e um pouco do trabalho que temos feito na empresa é trazer os produtos existentes em economias desenvolvidas e adaptá-los para nossa realidade”. O IRB, afirma Cardoso, prioriza hoje a expansão internacional para a América Latina. “E por que América Latina? Há muita similaridade de riscos entre os mercados e essa também tem sido a razão pela qual temos conseguido essa expansão [em prêmios emitidos no exterior]”.

Apesar do bom desempenho da companhia no ano, o crescimento do mercado de resseguros no Brasil permanece travado devido às incertezas políticas. Depois das eleições, porém, independentemente de quem vença o pleito presidencial, a história será outra, avalia o presidente do IRB. “O setor pode deslanchar” após o fim do risco eleitoral.

“Uma base importante do mercado de resseguros é a de grandes obras, ou seja, os grandes riscos. Obviamente estamos falando de infraestrutura e nos últimos anos o Brasil simplesmente parou”, afirma. Para Cardoso, com o fim da incerteza relacionada à eleição, vários setores vão retomar investimentos. O executivo cita a área de óleo e gás na qual “já vemos iniciativas concretas de recuperação”.

O presidente do IRB aponta ainda o potencial de expansão para o seguro de vida, com a melhora da atividade. “Quem contrata seguro de vida são as empresas e, se o crescimento econômico acelerar, as pessoas jurídicas vão voltar a contratar e, com isso, a massa de segurados aumenta e gera mais resseguro.” De acordo com Cardoso, “o mercado de seguros e resseguros é uma ‘proxy’ da atividade econômica”.

O crescimento na América Latina credenciou o IRB a ser o representante brasileiro na organização do primeiro fórum de seguros e resseguros do G-20, grupo das 20 maiores economias do mundo, que acontece entre 25 e 26 de setembro na Argentina. “É a primeira vez na história do G-20 que o mercado de seguros e resseguros terá espaço próprio, então é um momento histórico”, diz.

Para Cardoso, a oportunidade ganha importância também não apenas como divulgação da região para o mundo, mas para aproximar reguladores dos países latino-americanos e abrir conversas com objetivo de criar regras comuns para o mercado de seguros. Conforme o presidente do IRB, “no momento que você tem os reguladores sentando e há essa conversa você abre esse canal de comunicação para permitir que produtos existentes aqui possam ser utilizados, por exemplo, na Argentina e vice-versa sem tanta burocracia, sem tanta demora na aprovação”.

Em termos de tamanho, o mercado brasileiro é mais desenvolvido do que o argentino e seria possível exportar produtos ao país vizinho. “Temos seguros de vida especiais, de previdência e produtos agro paramétricos inexistentes na Argentina, poderíamos também ajudar seguradoras de lá a desenvolver novos produtos.”

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