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Caixa Seguridade pode levantar R$ 10 bi na bolsa

Fonte: Valor Econômico

A Caixa Econômica Federal pode levantar até R$ 10,3 bilhões na abertura de capital da sua unidade de seguros, a Caixa Seguridade, num movimento para atender a diretriz do novo governo de privatizar suas áreas de negócio, algo enfatizado no discurso de posse do presidente, Pedro Guimarães, no início do mês. A oferta inicial de ações (IPO) tem o potencial de alavancar a fatia do banco no mercado de seguros, hoje bem inferior à que tem no mercado de crédito, mas a operação pode esbarrar numa reestruturação que está em curso na empresa.

Segundo o chefe de renda variável da casa de análises Eleven Financial Research, Carlos Daltozo, que participou da primeira tentativa de IPO do negócio, em 2015, como analista do Banco do Brasil Investimentos, o valor de mercado da empresa varia de R$ 17 bilhões a R$ 21 bilhões. A conta considera o mesmo múltiplo da BB Seguridade, estimado para este ano em 14 vezes o preço/lucro, e um avanço de 9% no lucro líquido da Caixa Seguridade em 2019.

A subsidiária de seguros da Caixa foi criada em 2015, para unificar as operações de seguros, capitalização, previdência, consórcio e corretagem. De janeiro a setembro de 2018, a empresa faturou R$ 1 bilhão em prêmios, 7,8% a mais do que no mesmo período de 2017.

Com o IPO, a Caixa perde participação em um negócio com rentabilidade elevada e que traz diversidade de serviços, algo que as instituições financeiras estão procurando após restringir o crédito na crise, mas manterá uma empresa com potencial de crescer maior. A adoção de uma melhor governança exigida na abertura de mercado, por exemplo, é um dos fatores que podem desencadear um maior crescimento da operação, segundo analistas.

A Caixa Seguridade é a quarta maior seguradora do país, com participação de 10,2% no mercado. A fatia é inferior à que a Caixa tem no mercado de crédito, de 22%, na maior diferença entre os cinco grandes bancos do país.

O Banco do Brasil, que fez o IPO da BB Seguridade em 2013, captando à época R$ 11,47 bilhões, tem uma fatia de 22% no mercado de seguros e no de crédito. O Bradesco é o único que tem uma participação maior em seguros, de 19%, do que em crédito, de 16%. No Itaú, a participação é de 12% em seguros e de 19% em crédito. O Santander tem uma fatia de 12% no mercado de crédito e de 6% no de seguros.

Uma dificuldade na abertura de capital da Caixa Seguridade é que ela tem de firmar parcerias com seguradoras para a venda de produtos antes de realizar o IPO. Na primeira tentativa de ir a mercado, esse foi um dos fatores que a prejudicaram. À época, a empresa foi avaliada em R$ 12 bilhões. Com essa reestruturação à frente, os analistas estão prevendo que a operação ocorra só no segundo semestre.

Essas parcerias é que poderão fazer a empresa levantar R$ 10,3 bilhões com o IPO. Essa cifra considera a oferta de 49% do capital, no valor máximo de R$ 21 bilhões. "A Caixa Seguridade ainda não terminou sua reestruturação. Ela precisa escolher quais são os parceiros para seus diferentes negócios, antes do IPO, ou pode gerar um desconto em seu valor por parte do investidor", diz Daltozo.

A Caixa Seguridade separou as parcerias em cinco áreas: vida, previdência e prestamista; habitacional e consórcio; auto e ramos elementares; odontologia; e capitalização. No fim do ano passado, 14 empresas tinham interesse nessas parcerias.

A mais avançada é a "joint-venture" com a seguradora francesa CNP Assurances, que já era parceira do banco em seguros. Em 2015, a Caixa começou uma renovação antecipada do contrato, que terminaria em 2021. Em agosto do ano passado, foi assinado um acordo entre as partes, no valor de R$ 4,6 bilhões, válido até 2041.

As condições trazem mais valor à Caixa Seguridade: o escopo de atuação da CNP foi reduzido de todas as modalidades para apenas os seguros de vida e prestamista e aos produtos de previdência, linhas que representam 60% dos prêmios da Caixa Seguridade, abrindo possibilidade para a diversificação dos parceiros. Na joint venture, a Caixa terá participação de 60% e a CNP, de 40%. Na parceria que está em vigor, a fatia do banco brasileiro é de 48%, ante 51% da seguradora.

A operação dependia apenas da aprovação de órgãos reguladores, mas o novo presidente da Caixa pediu a revisão dos termos. A CNP tem o dinheiro para pagar à vista. O contrato com o banco brasileiro representa de 20% a 30% da receita global da empresa. Consultada no exterior, a CNP não respondeu à reportagem.

Segundo o Valor apurou, o contrato com a CNP foi firmado considerando que seria oferecido ao mercado uma fatia de 30% da Caixa Seguridade. Uma fonte que acompanha o caso diz que, caso o banco perca o controle do negócio de seguros no IPO, o contrato será revisado. Consultada, a Caixa disse que não iria se manifestar sobre o tema.

Os recursos do IPO teriam um impacto bem tímido para a oferta de crédito da Caixa, que tem reduzido o estoque das operações. Em setembro, o saldo foi de R$ 694 bilhões, 2,6% inferior ao mesmo mês de 2017. Numa análise preliminar, o diretor sênior responsável por instituições financeiras da Fitch Ratings, Claudio Gallina, calcula que poderia haver um avanço de R$ 5 a R$ 10 bilhões da carteira, considerando um possível aumento de capital. "Não é um crescimento relevante, e é preciso ter demanda e apetite de risco do banco para que o avanço no crédito aconteça."

O mais provável é que a Caixa use os recursos do IPO para integrar a devolução de R$ 40 bilhões que o novo presidente disse que fará para o Tesouro Nacional em quatro anos. Segundo os analistas, a Caixa tem condições de fazer a devolução, pois a sua estrutura de capital foi recuperada, após anos de expansão da carteira de crédito apoiada pelo governo federal.

Em setembro, o índice de Basileia estava em 19,8%, sendo que no mesmo mês de 2017, era de 15,2%, e o mínimo exigido é de 11,5%. O índice de capital principal, que era de 9,5%, subiu a 13,3%, entre setembro de 2017 e de 2018, sendo que o mínimo requerido é de 8%. "A posição de capital da Caixa é confortável, então se precisar devolver uma parte, o banco conseguiria sem grandes problemas. Há um ano, eu diria o contrário", diz Esin Celasun, diretora para instituições financeiras e seguros da Fitch.

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