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Varejo aquecido estimula parcerias com seguradoras

Fonte: Valor Econômico

Seguradoras que vendem apólices pelas redes de varejo, em lojas físicas e virtuais, estão mais otimistas em 2019, prevendo que haverá uma retomada das vendas, após uma estagnação durante os anos de crise. Diante dessa expectativa, grandes varejistas estão revisando acordos e lançando novas concorrências para parcerias com seguradoras.

As linhas de produtos vendidos no varejo são chamadas de "seguros massificados", um mercado que estima-se alcançar perto de R$ 15 bilhões em prêmios emitidos todo ano, patamar que se mantém desde 2014, quando a crise econômica se acentuou no país. É difícil saber o valor exato porque os dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep) são divulgados por linhas de produto, sem separação pelo canal de venda, e alguns seguros massificados são vendidos também por corretores.

Na categoria dos seguros massificados, estão proteções como a quebra ou o furto de celular, um segmento que está ganhando espaço, bem como a garantia estendida e o pagamento de parcelas de compras em caso de desemprego, chamado de prestamista.

De acordo com dados da Susep, no caso da garantia estendida, o mercado chegou a alcançar R$ 3,1 bilhões em prêmios em 2014, mas caiu a R$ 2,5 bilhões em 2016. No ano passado, embora os números ainda não estejam fechados, as empresas que atuam no setor estimam que a emissão de prêmios tenha ficado em R$ 3 bilhões, para ultrapassar neste ano o patamar pré-crise.

O otimismo do mercado é baseado nos dados das vendas no varejo. De acordo com a consultoria Tendências, o indicador deve ter um crescimento de 2,6% em 2019. Incluindo a construção civil e os automóveis, no conceito de varejo ampliado, o avanço é de 3% nas vendas neste ano.

A americana Assurant, que desembarcou no país em 2002 para operar especialmente no ramo de seguros massificados, chegou a crescer a uma taxa de 30% ao ano antes de 2013, mas durante a crise passou ao ritmo de 5% a 10% ao ano. Por esse motivo, aproveitou para ganhar espaço no mercado à base de aquisições.

Em maio de 2017, comprou a carteira de varejo da seguradora americana AIG, elevando em 10% o volume de prêmios emitidos no Brasil. Em outubro do mesmo ano, adquiriu o americano The Warranty Group, por US$ 2,5 bilhões, e teve novo avanço nos prêmios emitidos, de 50%. No total, a empresa estima ter alcançado o patamar de R$ 1 bilhão em prêmios emitidos em 2018.

De acordo com Ricardo Fiuza, presidente da Assurant no Brasil, o cenário econômico, que jogou contra nos últimos anos, voltará a ajudar daqui para frente. "Há uma recuperação do emprego, os bancos estão revertendo as provisões para perdas, para conceder mais crédito, e a confiança do consumidor está voltando", disse Fiuza.

A empresa espera repetir neste ano o mesmo feito de 2018, quando cresceu 10%. O foco da Assurant, que está presente em 60% dos varejistas do país, será aproveitar a base de clientes para vender mais produtos, tendo em vista que as carteiras adquiridas estavam focadas em garantia estendida, mas a empresa tem produtos como seguros para celular e para cartão de crédito.

A Zurich, que é a líder do mercado, com uma participação de 39,4% na modalidade de garantia estendida, espera crescer entre 7% a 10% as vendas de seguros massificados neste ano. Desde as eleições, a empresa sente que o mercado aqueceu, com as varejistas procurando a companhia para participar de concorrências para formar parcerias.

"Varejistas que não tinham essa parceria anteriormente com seguradoras para vender seguros massificados passaram a se interessar. E as que já tinham estão fazendo contratos maiores", afirmou Michele Borba, diretora comercial da área de afinidades da Zurich. A seguradora está apostando especialmente no seguro para o celular, que protege contra roubo e furto, cuja procura está alta nos varejistas, principalmente entre o público mais jovem.

A francesa AXA, por sua vez, acredita que 2019 será um ano de ajustes, devido ao novo governo e às dúvidas quanto às medidas para o equilíbrio fiscal e, portanto, a melhora na economia real deve vir no segundo semestre, com 2020 sendo um ano de recuperação mais forte das vendas de seguros massificados.

"A tendência mais forte de consumo será a partir do segundo semestre de 2019, com 2020 mais robusto", diz Paulo Kudler, vice presidente de Vida e Afinidades da AXA. Nos próximos cinco anos, a empresa tem um planejamento de crescimento entre 12% e 18%, de maneira orgânica.

Num ambiente de expectativa de crescimento mais acelerado do mercado de seguros massificados, as seguradoras e as redes varejistas estão revendo seus contratos de parceria. A revisão considera a integração entre os diferentes canais de venda, com um cliente que compra on-line podendo adquirir o produto numa loja física.

Como exemplo, a Via Varejo, dona das marcas Casas Bahia, Extra e Ponto Frio, reorganizou seus contratos com a Assurant e com a Zurich. A Assurant tinha antes um contrato de garantia estendida para venda no e-commerce de todas as marcas da Via Varejo. No entanto, manteve a Extra.com e a Extra loja física.

Já a Zurich ficou responsável pelos demais canais e-commerce e físico da Via Varejo, no caso, as marcas Casas Bahia e do Ponto Frio, até janeiro de 2025. "Estamos contratando profissionais especializados, para sair do "segurês" ao oferecer seguros pelos canais digitais, em resposta à reorganização do varejo", disse Michele, da Zurich.

Segundo o Valor apurou, outra varejista que abriu concorrência para escolher uma seguradora foi a loja de departamento catarinense Havan, que está em 15 estados e tem 122 megalojas. Hoje, a varejista tem um contrato com a Axa. Apesar da boa performance do contrato, a varejista quer ver se consegue melhores condições no mercado. Segundo o Valor apurou, há uma dezena de seguradoras concorrendo no processo, entre elas a Zurich, a Assurant e a própria Axa. Consultadas, as empresas não confirmaram a informação. Estima-se que o contrato tem o potencial de render no mínimo R$ 500 milhões em prêmios por ano.

O mercado de seguros massificados é rentável para as seguradoras, embora algumas tenham de pagar pelo uso da rede das varejistas um valor de entrada que acaba pesando sobre o resultado nos primeiros anos. Dados da Susep mostram que, de janeiro a novembro do ano passado, das 12 maiores seguradoras da modalidade de garantia estendida, quatro estavam com margem negativa.

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