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Empresas vão às compras e fazem parcerias para maximizar lucros

Fonte: Valor Econômico 

Claudio Belli/Valor
Edson Franco, da Zurich: parceria para distribuir seguros massificados com a Havan deve gerar R$ 2,4 bilhões em prêmios nos próximos cinco anos

O mercado segurador está em um momento crucial de mudanças, com desafios e oportunidades para todos. O fraco crescimento das vendas nos últimos anos, o aumento de danos por catástrofes, as baixas taxas de juros, a saturação de alguns mercados e a competição acirrada desencadearam uma onda de aquisições entre seguradoras, que impactaram também os corretores de seguros.

"Esse movimento de consolidação, que ganhou força no ano passado, será crescente em 2019", aposta Fernando Mattar, sócio-líder de fusões e aquisições em serviços financeiros da KPMG no Brasil. Em 2018, foram 17 negociações locais de compra e venda. De 1999 a 2018, 295, segundo dados da KPMG. Uma das maiores negociações foi a aquisição pela suíça ACE da americana Chubb, por US$ 28,3 bilhões, em 2015.

De 2018 para cá, os negócios são os mais variados possíveis. Seguradoras ligadas a bancos assumiram um perfil de "bancassurance" e venderam carteiras de grandes riscos para seguradoras especializadas, como o Itaú, para a Chubb e o Bradesco, que fez uma joint venture com o grupo Swiss Re. A SulAmérica também optou por essa estratégia e vendeu a carteira para a Axa.

Os bancos oficiais Caixa e Banco do Brasil reformulam sua atuação em seguros e são considerados "a cereja do bolo" para as seguradoras independentes que atuam no varejo. A Caixa Econômica Federal renegociou a joint venture com a francesa CNP Assurances no ano passado. O desejo do novo presidente, Pedro Guimarães, é que o processo de abertura da Caixa Seguridade aconteça em setembro. O objetivo é atrair sócios para uma sociedade em nichos como seguro habitacional, automóvel, rural, residencial, patrimonial e consórcio.

O Banco do Brasil criou a holding BB Seguridade, considerado um dos mais bem sucedidos IPOs do setor. Vem pincelando alterações nos últimos dois anos em sua estrutura de parceiros. Em novembro passado foi anunciada a conclusão do processo de reestruturação acionária com a espanhola Mapfre. As empresas agora são sócias no canal de distribuição banco nos negócios de vida, prestamista, habitacional, rural e massificados, até 2031. "Os acionistas ficaram muito satisfeitos com o acordo com o BB. Temos várias iniciativas digitais para colocarmos na rede do banco produtos inovadores", diz o CEO da Mapfre Regional Brasil, Fernando Pérez-Serrabona, ressaltando que a matriz definiu Brasil e Estados Unidos como os principais mercados fora da Espanha.

Do lado do BB, o que se sabe nos bastidores do setor é que o banco busca parceiras para outros nichos em seguros e tem interesse em vender a participação que tem no IRB Brasil Re. O ressegurador, por sinal, fez uma das principais ofertas neste ano para venda de cerca de 27 mil ações ordinárias do Fundo de Investimento Caixa FGEDUC Multimercado (FI-FGEDUC), movimentando cerca de R$ 2,52 bilhões com demanda total de 3,5 vezes. Desde o IPO, em 2017, quando levantou R$ 2 bilhões, as ações do IRB mais que triplicaram, saindo de R$ 27 para R$ 90 em março.

O grupo global Zurich, assim como a Mapfre, tem o Brasil como um dos principais países em sua estratégia de investimento. "Estamos atentos ao que está acontecendo e tendo oportunidade alinhada às diretrizes do grupo, em foco e retorno, temos interesse em avaliar", diz Edson Franco, CEO da Zurich no Brasil. Em março, a suíça anunciou uma parceria estratégica com a varejista catarinense Havan, do empresário Luciano Hang, para distribuir seguros massificados em sua rede de lojas, assim como já faz com Via Varejo e FastShop. A parceria estima gerar R$ 2,4 bilhões em prêmios de seguros pelos próximos cinco anos. Em fevereiro do ano passado, a Zurich divulgou a aquisição da QBE na América Latina, envolvendo Brasil, Argentina, Colômbia, Equador e México, por US$ 409 milhões. Em 2011, a Zurich fechou um acordo com o grupo espanhol Santander para formar uma parceria estratégica no Brasil, Chile, México, Argentina e Uruguai. No Brasil, a negociação envolveu os segmentos de previdência, vida e crédito.

O Santander também fez uma joint venture em 2018 com a alemã HDI para criar uma seguradora digital em automóvel, com estreia prevista para o segundo semestre deste ano, informa Murilo Riedel, CEO da HDI, que tem 90% de suas vendas provenientes do seguro auto. A seguradora aproveitou um momento de crise para ser hoje uma das mais digitais do setor. "Fomos duramente afetados nos últimos anos por mudanças como o fim da parceria com o HSBC, a redução da taxa de juros que remunera nossos ativos e a drástica queda nas vendas de carros zero. De 2016 para cá entramos num processo de inovação e hoje colhemos os frutos", diz Riedel.

Uma das ações foi trazer seguradora especializada para vender para clientes de auto do grupo, como a Icatu, que passará a ofertar no segundo semestre produtos de previdência para base de corretores e clientes da seguradora alemã.

Neste formato de otimizar a especialização por nichos, a Porto Seguro anunciou duas parcerias. Assume, assim que os órgãos reguladores aprovarem, algumas carteiras de riscos financeiros da AIG e da Travelers. "Estamos com apetite para comprar, mas somente o que tiver sinergia com a nossa marca, serviços e estratégia", afirma Marcelo Picanço, diretor geral da Porto Seguros. "A Porto Seguro está sempre atenta às movimentações, tendências e oportunidades dos mercados em que atua", reforça o CEO Roberto Santos.

Segundo Márcio Coriolano, presidente da Confederação das Seguradoras (CNseg), há espaço no mercado para muitos negócios. Os três maiores grupos representam mais de 50% do que é arrecadado. Os dez maiores, 80%. "Nos seguros de danos e responsabilidades, em 2008 os cinco maiores grupos eram responsáveis por 62% dos prêmios. Em 2018, por pouco mais de 52%."

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