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Mineradoras pagam até 30% mais por seguro após Brumadinho

Fonte: Valor Econômico 

Uma sequência de acidentes na atividade de mineração em todo o mundo, entre eles o rompimento de barragem da Vale em Brumadinho, Minas Gerais, elevou em até 30% o preço de seguros para o setor. Enquanto algumas seguradoras estão mais reticentes em fechar contratos, outras simplesmente desistiram de atender as mineradoras.

"O setor de mineração historicamente dá prejuízo para as seguradoras em todo o mundo. Quando a seguradora ganha dinheiro, é obra do acaso, por isso muitas saíram desse negócio", diz Nery Silva, chefe para seguros corporate e comerciais na América Latina da Generali, uma seguradora italiana que decidiu não trabalhar com as mineradoras.

Em 2018, foi alta a frequência em todo mundo de perdas severas para as seguradoras no setor de mineração. Cinco eventos - de falha em barragens de rejeitos a enchentes em minas subterrâneas - causaram US$ 647 milhões de perdas patrimoniais, sem contar o dano ao ambiente ou a terceiros, segundo estudo da corretora Marsh obtido com exclusividade pelo Valor.

No Brasil, desde o rompimento da barragem da mineradora Samarco em Mariana, Minas Gerais, no ano de 2015, o apetite das seguradoras já vinha minguando. Na ocasião, foram despejados 62 milhões de metros cúbicos de rejeitos sobre o distrito de Bento Rodrigues, deixando 18 mortos.

As seguradoras ficaram ainda mais restritivas após o episódio recente de Brumadinho, em janeiro deste ano, que deixou mais de 200 mortos e mais de 90 desaparecidos. As estimativas iniciais das seguradoras mostram que as perdas com o episódio foram de US$ 4,5 bilhões, acima dos US$ 4 bilhões que haviam sido identificados em Mariana.

Contribui para a restrição a dificuldade em transferir o risco no mercado internacional, o que acaba resultando em um preço maior a se pagar. "Como a sinistralidade tem aumentado, as resseguradoras têm repassado aumento de taxas entre 10% e 30% aos clientes", afirma Wellington Zanardi, diretor de mineração da corretora Marsh Brasil.

De acordo com o executivo, apenas em casos isolados, de empresas que não tiveram sinistros e com contratos de longo prazo, o preço tem se mantido.

O caso do seguro de responsabilidade civil, especificamente, é mais difícil, uma vez que os acidentes na mineração resultam em grande volume de indenização a terceiros. Para fechar a apólice, as empresas têm se comprometido a arcar com uma alta franquia, antes de ter acesso ao dinheiro das seguradoras.

Dificilmente as empresas terão redução dessas franquias ou aumento da cobertura neste momento, a não ser que não tenha um histórico de sinistros. Além disso, as conversas têm de ser iniciadas com muita antecedência, conforme disse Zanardi.

Segundo o Valor apurou, a mineradora Anglo American, que está renegociando seu contrato de seguros neste momento, teve de arcar com uma alta franquia. "Nesse caso, a empresa conseguiu conter o aumento do prêmio", disse uma fonte que participa da negociação e preferiu não ser identificada. Gerdau e Usiminas também fizeram as tratativas de suas apólices recentemente, num contexto mais difícil. Nenhuma empresa respondeu à reportagem.

O mercado de seguros não está restritivo apenas com as mineradoras. Outros setores que trabalham com barragens, como o de energia, por exemplo, também estão com mais dificuldades em negociar as apólices.

"O laudo de estabilidade de barragem já era solicitado, mas terá mais importância daqui em diante, e haverá uma exigência maior de tecnologias para medir as condições das estruturas", afirma Ariel Couto, presidente da corretora MDS.

De acordo com Marcelo Blanquier, diretor de mineração e metais da corretora Jardine Lloyd Thompson, "conta-se na mão as grandes companhias que têm mostrado mais disposição para cobrir o risco das barragens". Caso, segundo o executivo, da Chubb, Swiss Re e Mapfre, dependendo do grau de informações sobre a barragem. Ele falou ao Valor no início de março em Toronto, num dos principais eventos globais de mineração, o Prospectors & Developers Association of Canada.

De acordo com Blanquier, para aceitar os riscos de barragens, as seguradoras e resseguradoras sempre demandam informações detalhadas sobre a construção, a manutenção e operação, mas nem sempre obtêm todos os dados que consideram suficientes.

Por conta disso é que as seguradoras acabam cobrindo valores menores ou cobrando mais no contrato. "Tem ainda muito espaço para melhorar a participação dos seguros nesses setores, com a ajuda da atividade de gerenciamento de risco", destaca Blanquier.

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