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Seguro será ajustado a perfil e comportamento, diz Marsh

Fonte: Valor Econômico 

Por Sérgio Tauhata | De São Paulo

A tecnologia vai causar uma transformação fundamental na centenária indústria de seguros. Em um setor no qual o modelo de negócios baseia-se em dados, estatísticas e projeções, a possibilidade de monitorar comportamentos e eventos, ou seja, riscos em tempo real, vai levar o mundo das seguradoras a uma revolução, afirmou John Drzik, presidente da Marsh Global Risk and Digital, divisão da Marsh and MacLennan que coordena e fomenta estratégias digitais da corretora global e das consultorias do grupo Mercer, Oliver Wyman e Guy Carpenter.

Em entrevista ao Valor, durante passagem por São Paulo em evento sobre inovação no setor segurador, na semana passada, o executivo afirmou que os produtos vão se tornar dinâmicos e preventivos, abandonando a passividade usual das apólices.

"Prevenir um acidente é o melhor resultado para todos", ponderou. Segundo Drzik, a telemetria possibilitada por sensores, presentes nos smartphones, nos dispositivos inteligentes "vestíveis", como smartwatches e outras fontes, vão permitir às companhias ajustar preços de acordo com o perfil e o comportamento do usuário. Conforme o especialista, o conceito de proteção vai continuar predominante nos próximos anos, mas a indústria e os produtos vão se tornar cada vez mais proativos em relação a ofertas de serviços e de ações para evitar acidentes, antecipar-se a questões ligadas ao bem-estar e a reforçar a cibersegurança.

Nesse cenário, as pessoas serão municiadas de informações sobre os riscos pessoais e as probabilidades de um evento de saúde ou um acidente ocorrer a tempo de corrigir o rumo e evitar o problema. "Talvez você mude ou talvez não e as seguradoras, sabendo que você tem as informações, mas não está fazendo nada sobre isso, podem optar por cobrar um valor mais alto pela proteção." Ou reduzir o preço de uma cobertura, caso o risco monitorado diminua. Veja a seguir os principais trechos da entrevista.

Valor: A indústria de seguros está mudando para um modelo mais proativo do que passivo?

John Drzik: A indústria de seguros está se tornando mais preditiva, ou seja, continua vendendo proteção, mas a atuação do setor começa a se tornar cada vez mais sobre prevenção. Os mesmos dados, junto com inteligência artificial e o 'analytics' [análise de dados], podem ajudar você a prevenir um acidente a ter ações antes que ocorra um problema. Ninguém quer um acidente de carro, assim sendo, você pode usar telemetria para ajudar a se tornar um melhor motorista, buscar um caminho mais seguro, ou até mesmo para ajudar efetivamente a dirigir, quando, por exemplo, está chovendo e há pouca visibilidade ou a estrada está em más condições. Prevenir um acidente é o melhor resultado para todos. Nesse cenário, os preços de subscrição das apólices vão ser muito mais ajustados. Então, sim [a indústria vai se tornar mais preditiva], porque certamente o melhor é prevenir qualquer dano de ocorrer, sejam acidentes de carro, danos à propriedade ou eventos em construção.

"Monitoramento de riscos em tempo real vai permitir às seguradoras se antecipar aos acidentes e outros eventos"

Valor: Então, o foco da indústria vai se voltar mais para a prevenção do que para a proteção?

Drzik: O seguro vai continuar, primariamente, sendo um instrumento de transferência de riscos. Mas as proteções serão mais dinâmicas e preditivas. Tradicionalmente, os prêmios de seguros são determinados por uma base histórica que pode fornecer padrões de resultados possíveis. Mas dados em tempo real e novos fluxos de informações vão tornar essas projeções muito mais dinâmicas e precisas. A consequência direta é que os próprios produtos serão mais dinâmicos. Um exemplo simples é o modelo de seguro liga e desliga. Quando você dirige seu carro, por exemplo, você pagará pelo uso da proteção, mas quando não está dirigindo você não estará pagando. Ou seja, se não está dirigindo, não precisa do seguro, então não precisa pagar. Hoje se você precisa de um seguro do gênero, vou lhe vender uma apólice anual. Um segundo tipo e mais sofisticado de produto será aquele conectado a um fluxo de dados que permitirá à companhia modelar e ajustar os custos dinamicamente, segundo os riscos. A telemetria vai dizer, por exemplo, se você está dirigindo melhor e, com isso, dinamicamente, você vai ter um preço melhor. Chamamos isso de apólices conectadas. Você pode atuar de maneira preventiva também. Em casos de saúde, ou em outras situações, como, por exemplo, enviar sinais para o motorista incentivando a pessoa a deixar de dirigir de maneira insegura. Talvez você mude ou talvez não, mas certamente terá informações para saber dos riscos pessoais. Por princípio, as pessoas têm de ter as mesmas informações que as seguradoras e ter a chance de mudar seu comportamento. A mesma coisa vale para o segmento comercial. No caso de propriedades, por exemplo, os donos podem tomar ações para prevenir eventos. Então, em termos de tecnologia, o monitoramento ativo dos riscos será uma das primeiras [inovações] a acontecer. Sensores vão monitorar os riscos em tempo real, como falhas em equipamentos, superaquecimento de máquinas, vazamentos na estrutura de encanamento.

Valor: De onde virá esse fluxo de dados em tempo real?

Drzik: Esse novo fluxo de dados em tempo real pode vir da internet das coisas [IoT, na sigla em inglês] - há uma série de novos dispositivos, como os "wearables" [vestíveis], que podem ser um relógio, uma pulseira, uma roupa ou um cinto - e, evidentemente, sensores de telemetria para carros, além de imagens de drones, satélites e câmeras. Se houver um acidente, haverá sensores por todo lado e poderemos usar esses dados para prever os danos ou mesmo reconstituir o acidente. Essas acho que serão as fontes principais dos dados. Mas é claro teremos informações externas, como, por exemplo, de clima que poderão ser usadas para ajustar parâmetros de segurança na direção automotiva, por exemplo, no caso de pistas mais escorregadias, em carros autônomos ou prever riscos para navios. O fluxo de dados em tempo real permitirá ainda prevenir fraudes. Muitas dessas fontes de dados já estão por aí.

Valor: Cibersegurança é o principal risco global atualmente?

Drzik: Sim. Está no topo da lista da maioria do alto escalão das empresas. Está constantemente mudando, é como se você tivesse um adversário que se adapta ativamente. Se você monta suas defesas perfeitamente ajustadas para o cenário atual, basta os hackers mudarem as estratégias para você ter de mudar tudo de novo. As perdas totais com 'ataques ciber' no momento estão estimadas em mais de US$ 1 trilhão por ano. Em 2021, a estimativa é que essas perdas alcancem US$ 6 trilhões por ano. Esse é um grande número em termos de perdas, porque, se compararmos com as perdas em propriedades, no pior ano de furacões foi de US$ 350 bilhões. Por isso, quando as companhias investem na prevenção do risco ciber deveriam incluir no planejamento uma cobertura de seguro. Com isso, você consegue transferir o risco para um terceiro. A cibersegurança é a área de crescimento mais rápido da indústria de seguros atualmente. E vai se tornar a maior área do seguro globalmente nos próximos anos. Talvez até já seja.

Valor: As fontes alternativas de capital também fazem parte da transformação do setor?

Drzik: O maior bolso de capital do mundo está no mercado financeiro. Nós estimamos que existe um potencial de US$ 1 trilhão em capital alternativo para investimento em riscos de seguros. Mas hoje temos apenas US$ 80 bilhões alocados em instrumentos como "catbonds" [títulos securitizados com lastro em carteiras de seguros contra catástrofes] e outros. Na Marsh desenvolvemos um modelo quer permite a alocação direta no risco. Nesse formato, os clientes que contratam apólices têm a possibilidade de ter 10% da cobertura vindo do capital alternativo com preço melhor do que a média da indústria de seguros.

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