Wiz minimiza impacto de fim de exclusividade com Caixa

Fonte: Valor Econômico 

A corretora de seguros Wiz, que tem 70% de sua receita atrelada à venda de apólices no balcão da Caixa Econômica Federal, minimiza o impacto do vencimento, em fevereiro de 2021, do contrato de exclusividade que tem com o banco. A companhia aposta que vai vencer a nova concorrência a ser aberta pela Caixa para prestar o serviço de corretagem de seguros e, mesmo que isso não ocorra, já trabalha com cenários alternativos, buscando a diversificação das fontes de receita.

"Não enxergamos esse processo como tão traumático como o próprio mercado enxerga: é natural que a Wiz tenha a melhor proposta entre os possíveis competidores", diz Heverton Peixoto, presidente da corretora, em entrevista ao Valor. "Vamos ter uma proposta agressiva, mas que não vai significar perda de valor para os nossos acionistas."

Sob a gestão de Pedro Guimarães, a Caixa está revendo todas as parcerias de seguros para abrir o capital dessa unidade de negócios no segundo semestre. Há concorrências abertas para escolha de seguradoras para explorar seu balcão, mas nada ainda sinalizado a respeito de uma concorrência para a corretagem.

Nesse contexto, a Caixa renegociou o contrato que possui com a seguradora francesa CNP Assurances, estendendo o prazo de 2021 para 2041 e limitando o acordo aos produtos de vida, prestamista e previdência. Recentemente, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) abriu processo contra a CNP por não ter renegociado a extensão do contrato da corretora Wiz, da qual é controladora - questionada, a empresa não comentou o caso.

A Wiz foi criada no início da década de 1970 pela Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae) e pertencia a ela até 2012. Naquele ano, a Caixa Seguradora e o fundo GP Investimentos assumiram o negócio e realizaram a abertura de capital em 2015. Hoje, a Caixa Seguros Holding tem 25% do negócio, a Integra Participações, da Fenae, detém 26%, e o restante está em circulação no mercado.

Além de acionista, a Caixa é a maior fonte de receita para a Wiz. Mas, com a estratégia de diversificação de negócios, a relevância do banco caiu de mais de 90% há cinco anos, para 70% neste ano. A Wiz quer se posicionar como uma "gestora de canais de distribuição de produtos financeiros e de seguridade" e, para isso, entrou nos negócios de consórcio e prestação de serviços para seguradoras.

A mais recente aposta, no entanto, foi a compra em maio de 40% da Inter Digital Corretora, do banco digital Inter, por R$ 114 milhões, para distribuição de apólices na plataforma. "Estudamos parcerias com outras instituições financeiras que precisam profissionalizar a venda de seguros em seus balcões", diz Peixoto.

Segundo o executivo, a empresa pode montar força de venda, estruturar o modelo de remuneração, fazer a cobrança de metas para a comercialização de produtos de seguros e financeiros. A ideia é atender tanto bancos médios quanto "fintechs" e carteiras digitais. "Temos menos apetite para parcerias operacionais. Acreditamos que parcerias envolvendo capital alinham melhor o interesse", afirma Peixoto. "Temos um volume considerável de caixa todos os anos, e nenhuma alavancagem."

Embora otimista sobre manter o contrato com a Caixa, a Wiz enxerga um cenário desafiador para esse acordo. O banco estatal decidiu acabar com a taxa de corretagem no seguro habitacional, que representa perto de 22% das receitas desse negócio. O motivo é que, antes, era preciso remunerar a equipe comercial pelo esforço de venda, mas agora não é mais necessário porque a modalidade é obrigatória.

"A partir de 2021, considerando o patamar de comissionamento atual, e excluindo a corretagem para o seguro habitacional, a empresa que assumir o contrato de corretagem de seguros para a Caixa deve ter prejuízo pelos primeiros três a quatro anos de operação, de um contrato de dez anos", calcula Peixoto.

O executivo afirma que, mesmo que perca a concorrência do balcão da Caixa, existe a possibilidade de prestar serviços ao vencedor, tendo em vista toda a estrutura já montada para atender o banco.