Redução da Selic Aumenta os Desafios das Seguradoras em 2020
“Isso acaba impactando fortemente o resultado financeiro. Mas é importante destacar que continuamos prevendo crescimento na seguradora”, disse o presidente do Bradesco em teleconferência.
A mais baixa taxa de juros da história do Brasil. É neste cenário que as seguradoras iniciam 2020, o que representa um grande desafio para as companhias de seguros. Em uma decisão unânime, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) cortou de 4,5% para 4,25% ao ano a meta para os juros básicos (Selic) na primeira reunião realizada no ano no dia 5 de fevereiro, com viés de estabilidade. Mas no Brasil, tudo pode acontecer.
Boa parte do lucro proveniente da receita financeira obtida com a aplicação das reservas técnicas, que já superam R$ 1,3 trilhão. Até bem pouco tempo atrás, praticamente 90% do portfolio de investimento estava aplicado em títulos do governo. Do ano passado pra cá, os gestores passaram a diversificar, com a permissão da regulação do setor, e os resultado aparecem já na safra dos balanços financeiros que começam a ser publicados.
Segundo Celso Damadi, vice-presidente de Finanças, Controladoria, Investimento e Planejamento da Porto Seguro, o resultado financeiro da Porto Seguro alcançou R$ 269,7 milhões, queda de 9,3%. Apesar da redução, o executivo citou que os resultado vieram dentro do esperado beneficiado por uma sinistralidade abaixo da média histórica e uma taxa básica de juro mais alta, proporcionando uma rentabilidade melhor ao negócio.
Na Bradesco Seguros a mesma situação. O grupo divulgou lucro líquido de R$ 7,5 bilhões em 2019, expansão de 16,6% em relação ao obtido em 2018. Segundo o grupo, o resultado foi beneficiado pelo crescimento de 12,7% no ganho operacional e pela alta de 10,9% do resultado financeiro. Aqui fica claro a importância do ganho financeiro para a número um do ranking de lucro do setor. As projeções para o resultado com seguros estimam um crescimento entre 4% e 8%.
Octavio Lazari, presidente do banco, disse em entrevista ontem que a manutenção das projeções de crescimento para 2020 acontecem ante um cenário de redução da taxa básica de juros e Selic em patamares historicamente baixos. “Isso acaba impactando fortemente o resultado financeiro. Mas é importante destacar que continuamos prevendo crescimento na seguradora”, disse o executivo em teleconferência.
Na opinião do chefe de investimentos da Zurich Brasil, John Liu, “o ambiente de inflação controlada, com os dados de janeiro comportados, somado às expectativas de inflação ancoradas e abaixo da meta de inflação, permitiram ao Copom reduzir a taxa Selic a 4,25%, novo patamar mínimo histórico. Este estímulo monetário adicional irá contribuir para a consecução do cenário benigno de crescimento projetado para 2020.”
“As seguradoras vão continuar a diversificar a gestão das reservas, não só porque a Selic caiu novamente, mas porque a expectativa é de estabilidade nas taxas de juros. Para a sociedade, a queda de juros é benéfica por reduzir os custos dos financiamentos e, juntamente com a inflação baixa, preservar o poder de consumo da população, inclusive em seguros”, afirma Patrícia Pereira, Estrategista da MAG Investimentos.
A queda da taxa de juros é boa para o país, para o consumidor e para as seguradoras também, pois elas dependem do crescimento da economia para vender mais. Por outro lado, afeta o resultado financeiro que vinha sendo beneficiado pela taxa em alta e requer neste momento de nova estratégia. Com a Selic agora neste patamar de baixa histórica, a diversificação da carteira de investimentos será vital para manter a rentabilidade das operações.
O caminho tradicional em cenários de juros baixos é aumentar o conservadorismo na subscrição de riscos para manter a sinistralidade em níveis controlados. No entanto, os riscos existem e as catástrofes naturais chegam sem esperar, como as chuvas que assolaram os estados do Espírito Santo e Minas Gerais no início deste ano.
A busca pela produtividade, com queda dos custos administrativos, é tão importante como o controle dos riscos assumidos. “Temos capacidade para crescer sem aumentar custo neste ano, com um ganho de produtividade interessante”, afirmou Damadi em entrevista ao blog Sonho Seguro.
Com custos e riscos no radar dos executivos financeiros e administrativos, a área comercial terá que se esforçar para aumentar as vendas. E no final, quem ganha com este cenário de juros baixos é o consumidor, que continuará determinado as regras de produtividade e de rentabilidade das seguradoras. Se o produto não for bom, ele não compra. Se for caro, também não. A saída é proporcionar boas experiencias ao consumidor digital para se manter no jogo de um mercado com imenso potencial de crescimento.
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