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EUA vivem 2ª onda de boom de ‘insurtechs’

Fonte: Valor Econômico 

O setor de seguros no maior mercado do mundo vive um momento de reinvenção da inovação. Passado o efeito “Jetsons”, em que a euforia com as novas tecnologias frequentemente conduzia a uma visão de futuro idealizada, em detrimento das necessidades do mundo real, o segmento das insurtechs nos Estados Unidos está em uma segunda onda. 

Na maior feira de tecnologia para seguros do mundo, a ITC Insuretech Connect, que reuniu na semana passada participantes de mais de 60 países nos EUA, especialistas questionaram a lentidão com a qual a indústria tem migrado para uma visão mais centrada no cliente, que use a tecnologia a favor dos consumidores. 

“A indústria está se movendo, mas provavelmente não rápido o bastante”, afirma Glen Shapiro, presidente da seguradora Allstate Personal Lines. “Temos estado relativamente estáticos em comparação com setores como financeiro e de bancos”, acrescenta. 

Shapiro comenta que há 30 anos, quando os processos eram basicamente manuais, uma seguradora americana levava de cinco a sete dias para pagar uma indenização. Hoje, apesar de todo o avanço de automação e digitalização operacional, o tempo ainda é o mesmo. 

O especialista faz uma comparação com a indústria bancária, na qual duas décadas atrás as pessoas recebiam o pagamento em cheque e usavam o documento de papel para pagar contas. Hoje, os pagamentos são feitos por meio de smartphones, ou seja, “o dinheiro flui por todo lugar e para qualquer lugar”. 

O executivo explica que os cinco dias até o pagamento da indenização poderiam, na verdade, ser reduzido para duas horas com as tecnologias já existentes. Shapiro cita o exemplo da primeira análise dos danos. “O consumidor pode tirar fotos do próprio carro para a companhia fazer a estimativa, não precisa enviar um profissional até o carro para fotografar, algo que gasta um dia inteiro”, diz. 

O aprendizado de máquina pode ser usado para acelerar ainda mais o processo de avaliação do que fazer, inclusive, com a definição se houve perda total ou o veículo pode ser reparado. 

“A tecnologia de seguros precisa realmente entregar o que se espera”, afirma Jay Gelb, diretor de seguros do Barclays. Para o executivo, “muitas marcas importantes estão muito atrás de companhias de outros setores em termos de capacidades tecnológicas”.

Na análise de Mark Purowitz, chefe de seguros e insurtech da Deloitte, “primeiro tivemos o ‘hype’ da transformação, em que as startups queriam mudar tudo, agora entramos em um novo ‘hype’, e nos movemos para a evolução”.

“Acho que o foco de tentar criar uma disrupção na indústria não funcionou do jeito que todos imaginavam”, acrescenta Michael Larocco, CEO da State Auto Insurance. Para o especialista, muitas insurtechs tinham a proposta de mudar tudo para todos, mas não foram bem-sucedidas em criar inovações com aplicações práticas. 

De fato, nas apresentações sobre as tendências do setor nos EUA durante o ITC, saíram de cena menções a tecnologias que ainda são uma promessa, como o mapeamento genético para prevenir doenças ou a telemetria de pessoas, que ainda depende de uma massificação de soluções como roupas conectadas e relógios inteligentes. E, no lugar, a ênfase recaiu sobre soluções práticas e que já têm sido testadas pelas insurtechs com sucesso, como automação de processos, seguros em um clique, indenizações instantâneas, uso de inteligência artificial e aprendizado de máquina para acelerar e escalar atendimento aos clientes e modelos preditivos de análise de dados. 

Segundo especialistas, a visão de insurtechs como competidoras das empresas tradicionais tem evoluído para outra mais voltada à ideia de parcerias. “Muitos empreendedores que começam agora uma companhia não pensam mais em competir, mas como conseguir colaborar com a indústria”, diz Sean Park, fundador e executivo-chefe da firma de venture capital Anthemis Group. 

Para Purowitz, da Deloitte, trata-se de uma segunda onda de insurtechs. “A realidade agora é que a maioria das startups tem sido lançada para dar suporte em lugar de tomar o lugar dos incumbentes.”

A Deloitte divulgou no evento uma pesquisa com o balanço de investimento em insurtechs nos EUA. O ano de 2019 caminha para um novo recorde em termos de aportes em startups de seguros, de acordo com a consultoria. Apenas no primeiro semestre deste ano já foram investidos US$ 2,2 bilhões em companhias iniciantes de tecnologia aplicada a seguros. 

O resultado de metade do ano já representa a quarta melhor marca da história. O valor está US$ 400 milhões abaixo de todo o volume de 2018. “As insurtechs estão no rumo de eclipsar o recorde de investimento no segmento visto em 2015, de US$ 3 bilhões”, aponta o relatório. 

Conforme o consultor, nesse segundo ciclo, a própria indústria como um todo deveria se mover junta para acelerar e amadurecer um ecossistema de insurtechs. “O problema é que muitas empresas tradicionais enxergam as startups como mais uma vendedora de software.” 

De acordo com Purowitz, “muitos seguradores ainda estão focados em apenas melhorar sistemas legados e seus atuais modelos de negócios em lugar de aplicar recursos em inovações de verdade”. Mas deveriam aproveitar a oportunidade de parcerias para efetivamente mudar a maneira de pensar o negócio e criar a transformação que o consumidor digitalizado vai passar a exigir cada vez mais, considera. 

O repórter viajou a convite da CQCS Insurtech & Inovação

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