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Falta de peça prejudica seguro de carro

Fonte: Valor Econômico

O elevado ritmo de vendas de automóveis começa a trazer problemas para as seguradoras. Faltam peças e mão de obra para reposição, o que está alongando o tempo médio que os carros segurados permanecem nas oficinas e gerando reclamações dos clientes. A questão já foi levada pela Confederação Nacional das Empresas de Seguros (CNSeg) à Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), contou Neival de Freitas Rodrigues, diretor executivo da CNSeg. Segundo ele, os fabricantes se comprometeram a encontrar uma saída.

De acordo com as seguradoras estão faltando faróis, lanternas, para-choques, para-lamas e capôs, os itens mais demandados para reparos comuns. Mas também faltam componentes elétricos, eletrônicos e, principalmente, mão de obra especializada, o que leva os proprietários de automóveis avariados a dificuldades até mesmo para encontrar vaga para o carro na agenda das oficinas das redes conveniadas das seguradoras.

O setor automobilístico vem de dois anos e meio de "boom" de produção e vendas e mesmo com o fim do desconto do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) este ano, a produção continua alta. "As montadoras estão tendo que direcionar a produção de peças para a linha de montagem, então falta para reposição", analisa Fernando Cheade, superintendente executivo da Bradesco Seguros.

Com dois milhões de automóveis segurados em carteira, a Bradesco informa que registrou um aumento de 40% a 50% no prazo médio de reparo dos automóveis, dependendo do modelo e do tamanho da avaria. Segundo Cheade, faltam peças e mão de obra até mesmo para as revisões periódicas dos veículos novos, além dos sinistros. "Hoje eu não consigo garantir o carro pronto no prazo que antes eu conseguia", diz o diretor. A Bradesco tem uma rede de 2,6 mil oficinas referenciadas e em geral 5% da base segurada utiliza os serviços da seguradora para solução de colisões. "A solução não está na nossa mão", afirma.

Com 1,3 milhão de carros segurados, a Mapfre Brasil Seguros tem enfrentado problemas principalmente com carros importados, relata Jabis de Mendonça Alexandre, vice-presidente da área de automóveis da companhia. Segundo o executivo, faltam não só peças de chaparia (para-lamas, laterais, portas, guarnições), mas também módulos elétricos e eletrônicos. A falta de peças está criando dificuldades tanto para a seguradora quanto para o segurado.

Com as oficinas demorando mais para reparar os veículos, contratos com cobertura para carros reserva de 10 a 20 dias têm sido insuficientes. Mas como a seguradora só paga o prazo contratado na apólice, se o cliente precisa de mais dias de carro reserva tem que pagar do próprio bolso. "Temos parcerias com locadoras de automóveis para dar descontos sobre as diárias", diz Alexandre, acrescentando que os descontos geralmente são de 20%, mas em casos muito críticos a seguradora tem intercedido para conseguir percentuais maiores.

Alexandre relata que quando não encontra a peça em determinado local, a seguradora se encarrega de buscar em outro, o que geralmente implica em custos maiores tanto do produto quanto do frete. "Nos dá mais trabalho, onera o custo de reparação e elimina os descontos que negociamos com as concessionárias", diz o diretor da Mapfre.

Além da superprodução de veículos, há um problema específico de São Paulo, que é a vistoria ambiental obrigatória, que está levando as pessoas a antecipar revisões e troca de itens que passarão por vistoria, atitude que é até estimulada pelas seguradoras. "Tudo isso faz aumentar a demanda das oficinas", afirma Freitas, da CNSeg.

Segundo o diretor da confederação das seguradoras, os interlocutores da Anfavea se mostraram receptivos ao problema. "Eles reconhecem e estão com planos de ampliação da oferta de peças, pressionando as indústrias fabricantes". "Mas isso é uma solução de médio prazo, no curtíssimo prazo é uma situação extremamente desconfortável tanto para a seguradora quanto para o segurado", afirmou Freitas.

Paliativamente, as seguradoras estão pedindo às oficinas que deem prioridade aos carros que estão há mais tempo na fila para reparos, explicando a situação aos clientes que reclamam. Por enquanto, segundo a CNSeg, houve duas reuniões informais com diretores da Anfavea, uma durante o evento de lançamento do novo Crossfox da VW e outra no lançamento do índice Car Group, ranking dos automóveis que mais oferecem facilidade de reparo, calculado pelo Centro de Experimentação e Segurança Viária (Cesvi).

O problema não atinge todas as seguradoras. Paulo Umeki, diretor da Liberty Seguros, disse que "tem observado essa questão no mercado", porém não tem sido afetado, "pois as parcerias que temos com oficinas e revendas têm se mostrado eficientes no fornecimento de peças."

Procurada pela reportagem do Valor, a Anfavea respondeu apenas que "não houve consultas formais" por parte das seguradoras e que, de qualquer forma, esse não seria um problema a ser resolvido em nível institucional, e sim por cada marca. O Sindipeças, entidade que reúne fabricantes de autopeças, afirmou, através de sua assessoria de imprensa, que não tem conhecimento de falta de autopeças no mercado de reposição independente (sem considerar as concessionárias das montadoras).

Mesmo assim, comprometeu-se a manter contato com seus associados para saber se há problemas e se estão concentrados em algum segmento. Segundo a entidade, a previsão de faturamento - indicador de produção mais utilizado pelo setor - dos 500 associados da entidade em 2010 é de R$ 75 bilhões, ainda inferior ao registrado em 2008, mesmo com investimentos da ordem de US$ 1 bilhão por ano. A produção nem sequer recuperou o ritmo de 2008, informou o Sindipeças.

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