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Paraná Banco muda perfil dos negócios e ações se recuperam

Fonte: Valor Econômico

Área de seguros avança na instituição e, após oito recompras de papéis, cotações sobem.

Em mais de três anos na bolsa - da estreia, em junho de 2007, até outubro de 2010 - as ações do Paraná Banco foram negociadas abaixo do preço da oferta inicial.

Nesse período, na tentativa de mostrar aos investidores que suas ações não estavam sendo adequadamente precificadas no mercado, o banco lançou oito programas de recompra de ações. A estratégia de sinalizar que encarava seus próprios papéis como o melhor investimento disponível, resultou na retirada da bolsa de metade das ações vendidas na abertura de capital.

No entanto, a cotação só começou a reagir no último trimestre do ano passado, quando o Paraná anunciou um negócio que sela a mudança de seu rumo. Investidores passaram a enxergar que, a cada dia, ele se transforma de um banco que possui uma seguradora para uma seguradora que possui um banco.

Em novembro, o Paraná associouse à seguradora Tr av e l e r s Brasil, que é controlada pela americana Travelers Companies, líder em seguros de ramos elementares.

Na operação, a área de seguros do Paraná foi avaliada em R$ 925 milhões, enquanto o valor de mercado do Paraná Banco é de cerca de R$ 1,2 bilhão. Ou seja, um de seus ativos, que em tese não seria o principal, responderia por 77% de seu valor.

Foi então que o mercado, aparentemente, acordou para as modificações na empresa desde sua chegada à bolsa. Em 2007, os recursos foram captados para que o banco médio fortalecesse sua área de crédito, com foco no segmento de consignado. De lá para cá, muita coisa mudou.

Cristiano Malucelli, diretor de relações com investidores e vicepresidente do Paraná Banco, reconhece que os negócios com seguros têm crescido muito mais do que o crédito consignado.

Em 2007, o banco acessou a bolsa para captar recursos para fortalecer esse segmento. Naquela época, a área de seguros respondia 15% do lucro líquido consolidado do grupo. Hoje, essa fatia está em 50,2%.

E Malucelli acredita que a proporção poderá, a médio prazo , se inverter: "Nos últimos três anos, a seguradora cresceu a taxas mais elevadas do que o banco.

Não será difícil que a médio e longo prazos responda por cerca de 80% do resultado".

Ele atribui o comportamento dos negócios, distinto do que esperavam à época da abertura de capital, às características de momento de cada um deles.

No segmento bancário, avalia, o mercado é mais desenvolvido e caracterizado pela concentração.

Na área de crédito, a gestão do Paraná sempre foi conservadora e preocupada com um crescimento sustentável e diversificado.

Já a área de seguros é ainda fragmentada e está em expansão mais acelerada. Ele destaca, inclusive, atividades que se fortaleceram recentemente, como resseguros e o seguro garantia de obras, que o Paraná tem focado.

Essa modalidade é uma alternativa mais barata do que as cartas de fiança concedidas por bancos.

Malucelli ressalta que, à época da oferta, eles acreditavam que o crédito consignado possuía demanda acelerada e oferta ainda insuficiente, o que puxaria os negócios.

No entanto, o incremento das atividades em seguros surpreendeu e tomou a liderança.

O executivo não faz comentários sobre a precificação das ações no mercado nos últimos anos. Mas concorda que o recado foi dado nos oito programas de recompra que reduziram para 20,70% a quantidade de ações da companhia em circulação no mercado. O preço médio dos programas foi ao redor de R$ 7,16 - na segunda-feira, os papéis fecharam a R$ 13,69.

As ações recompradas foram canceladas, o que equivale dizer que a participação proporcional de cada acionista no banco aumentou e eles receberam, portanto, mais proventos. Por outro lado, ficou prejudicada a liquidez da companhia - em 2010, a média diária e de negócios com o papel foi de R$ 1,15 milhão.

Ou seja, fica difícil comprar ações do banco no mercado, pois apenas uma pequena quantidade fica disponível para a negociação.

Ainda mais porque alguns fundos montaram posições de longo prazo, caso do Credit Suisse Hedging G r i f f o, com 5% das ações preferenciais (sem direito a voto) do banco que circulam na bolsa, e Deutsche Bank, com 1,90% também das preferenciais.

Com ações pouco líquidas e a preços baixos, na avaliação do banco, Malucelli também admite que a hipótese de fechamento de capital foi estudada.

"Na época da crise global de crédito em 2008, da irracionalidade dos mercados, as ações chegaram a valer um terço do valor patrimonial e analisamos essa operação", conta.

A medida não foi levada adiante porque não havia garantia de que, uma vez lançada uma oferta pública para comprar as ações dos demais acionistas e fechar o capital do banco, nada garantia que eles entregariam os papéis ao preço da bolsa naquele momento. "Ou seja, existia dúvidas sobre qual a quantidade real de recursos necessária para concluir a operação", diz.

Além disso, o banco avaliou que manter a companhia aberta seria importante porque existem outras empresas do grupo, nos ramos de construção, agronegócio e telecomunicações, que podem optar pela listagem em bolsa.

"E se essa a opção se confirmar, poderia haver questionamento de investidores, por termos permanecido poucos anos abertos e em seguida fecharmos o capital", afirma.

Malucelli diz que, se o crescimento em seguros se confirmar no ritmo esperado e muito além dos negócios do banco, poderá ser listado separadamente.

"Existe um limite máximo que um banco pode ter de exposição à outra companhia, que é de 50%.

Hoje estamos em 35%", diz.

Uma outra opção já na mesa dos executivos e que pode ser implementada no longo prazo é a criação de uma nova holding que controle o banco e a seguradora.

A associação com a Travelers deverá receber a aprovação da Superintendência de Seguros Privados (Susep) nos próximos dias. A Travelers pagou R$ 625 milhões por 43,4% das ações e tem a opção de aumentar esse percentual para 49,9% em um prazo de 18 meses. A americana vai pagar outros R$ 110 milhões aos controladores por meio da distribuição de dividendos aos acionistas do Paraná, que mantém os 56,6% do capital da holding de seguros e resseguros.

Alexandre Malucelli, presidente da seguradora J. Malucelli, explica que a parceria dará experiência para que o grupo, além de se internacionalizar, explore novos segmentos, como responsabilidade civil profissional (D&O), riscos de engenharia e automóveis, no futuro.

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