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Por falta de resseguro, pequenos negócios ficam sem cobertura

Fonte: Valor Econômico

A empolgação com o ambiente de vantagens proporcionado pela quebra do monopólio no mercado de resseguros, como maior flexibilidade nas negociações, produtos novos e preços menores, não deixou que vários agentes do setor segurador prestassem atenção a uma contrapartida prenunciada e que, dois anos depois, viria se transformar em um dos mais graves problemas para a atividade. Trata-se dos chamados riscos declináveis, que são a recusa de cobertura por parte das seguradoras para bens com elevado risco de sinistralidade. Está incluída hoje nessa categoria uma grande lista de atividades características dos negócios de pequeno e médio porte, como fábricas de colchão, supermercados, farmácias, bancas de revistas, lojas de bijuterias e borracharias.

Empresas dessas atividades não conseguem mais um seguro e as seguradoras culpam as empresas de resseguro, que não aceitam esses riscos, segundo o Sindicato dos Corretores de Seguros, de Empresas Corretoras de Seguros, Resseguros, de Saúde, de Vida, de Capitalização, de Previdência Privada no Estado de São Paulo (Sincor-SP). Na verdade, descobrir a contribuição de cada um para que o problema chegasse a esse ponto não é tarefa fácil. Tanto que o Sincor-SP patrocinou um fórum sobre o assunto, em fevereiro, com representantes de todos os segmentos.

Uma comissão vai analisar as saídas possíveis. "Estamos chamando todo o mercado para discutir.

Nosso objetivo é encontrar uma solução que harmonize os interesses dos consumidores, corretores de seguros, companhias seguradoras e resseguradoras, para buscar uma solução", diz Mario Sergio de Almeida Santos, presidente do sindicato.

Boris Ber, proprietário da As teca Corretora, relata o caso de um depósito de uma importadora de presentes, no centro de São Paulo, seu cliente há 10 anos que, de uma hora para outra, a seguradora deixou de cobrir. "O depósito tem extintores, hidrantes e porta contra-fogo. A seguradora recusa por causa da ativid a d e", diz. Sua empresa está negociando ainda a cobertura de duas tecelagens, clientes há 25 anos, sem sinistralidade nesse período e com todas as proteções de segurança.

"O nome riscos declináveis não reflete bem o que está acontecend o", diz Carlos Almeida, diretor da Marsh Corretora de Seguros e Consultoria de Benefícios. Ele prefere a expressão riscos agravados, definidos como aqueles que têm exposição a sinistralidade acima da média normal das carteiras formadas por danos patrimoniais (popularmente conhecidos como seguro incêndio) de pequenas e médias empresas e condomínios. Segundo ele, é uma fatia nem um pouco desprezível, de R$ 1,63 bilhão de um total de R$ 4,3 bilhões em prêmios recebidos com danos patrimoniais .

"Para a Marsh, um percentual de riscos agravados é desejável para que se possa atender à amplitude da demanda do mercad o", diz Almeida. "A solução é ter volume de segurados, para se chegar a um equilíbrio financeir o", afirma. A seu ver, não faz sentido a alegação das seguradoras de que têm de eliminar os riscos agravados para alcançar esse equilíbrio. O executivo também considera que as seguradoras não dispõem de uma tecnologia apurada de aferição do preço do seguro. "Em vez de tratar melhor a aceitação do risco, a seguradora prefere a recusa, excluindo assim grande massa potencial de segurados", diz. Essa sofisticação na subscrição, marca dos mercados desenvolvidos, em sua opinião, é o caminho para a inclusão dos riscos que hoje são declinados.

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