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Efeito tsunami ainda não afeta o Brasil

Fonte: Valor Econômico

Apólices ficarão mais caras, na mesma medida em que o mercado global for impactado

A menos de 15 dias do terremoto e do tsunami que traumatizaram o Japão, ainda é prematuro tentar dimensionar o pleno impacto que a tragédia produzirá no segmento segurador como um todo. Muito menos ainda sobre o ramo conhecido como o de grandes riscos, dependente do resseguro. Trata-se de uma modalidade complexa que cobre a construção de aeroportos, portos, rodovias e gigantescas plantas industriais. A primeira dificuldade para se dimensionar os efeitos dos dois eventos e da ameaça nuclear sobre o mercado e as novas apólices resulta do fato de que as perdas ainda nem começaram a ser avaliadas. As estimativas de indenizações são imprecisas e sequer se conhece a responsabilidade de cada fenômeno isoladamente.

O Brasil será afetado na proporção em que o mercado global sofrer as sequelas do tremor nipônico.

Para o diretor de Comercial Lines da Liberty, Luciano Calheiros, não há dúvida de que os preços de seguro irão subir em consequência da tragédia. "Em bora ainda não se tenha o tamanho dos prejuízos, o apetite do mercado global por risco ficará bem menor", diz. Como as perdas reduzem a capacidade financeira de conceder seguro, a tendência é de as companhias cobrarem mais por ele. E o Brasil não será exceção. "Todo mundo vai pagar a conta", diz Alexandre Malucelli, presidente da Malucel li Resseguradora.

Para Eduardo Takahashi, diretor de grandes riscos da Marsh, uma das maiores corretoras do mundo, ainda não dá para se afirmar que a tendência de queda nos preços dos seguros de grandes riscos será revertida radicalmente por causa da tragédia japonesa. No ano passado, os preços deste ramo, que movimenta prêmios da ordem de R$ 9 bilhões, recuaram em média 10%. O diretor-executivo de Grandes Riscos da Allianz, Angelo Colombo, levanta a hipótese de o mercado global poupar o Brasil do repasse dos aumentos, já que o país não configura um "risco catastrófico". É o único lugar no mundo onde há boas notícias (PAC, pré-sal, Copa, Olimpíadas).

"A visão é de não perder mercado aqui", diz.

Para Luciano Calheiros, da Liberty, a baixa de preços de 2010 decorreu da falta de grandes obras para serem seguradas. Ao contrário de 2009, quando as hidrelétricas do rio Madeira demandaram o setor, em 2010 foram adiados o início do trem bala Rio-São Paulo e as obras em Belo Monte. Internamente, a oferta desse tipo de seguro se expandiu acima da demanda em função do ingresso no país, a partir da quebra do monopólio ressegurador, feita em 2008, de cerca de 90 companhias estrangeiras.

O quadro no Brasil hoje é bem diverso do exibido há quatro anos.

A crise financeira global de 2008, ao abalar a solvência de supergrupos mundiais de seguros, provocou uma expansão de preço da cobertura de grandes obras de cerca de 20%. Esse efeito foi mitigado pelo fim do monopólio exercido até então pelo IRB Brasil Re, ajudando a trazer mais empresas para o país.

A entrada de capital externo cresceu em sintonia com a consolidação da posição do Brasil no conjunto dos Brics e com a perspectiva de grandes negócios necessários para a organização da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016. Os preços caíram, mas a queda foi compensada, no resultado das companhias, pela ampliação da demanda. Ou seja, os preços das apólices recuaram, mas o volume de prêmios se expandiu.

O diretor comercial corporativo da Bradesco Auto\/RE Companhia de Seguros, Humberto Marques Siqueira da Silva, acredita que as expectativas para o segmento de grandes riscos são muito positivas devido à necessidade de investimentos gerados pelos megaeventos esportivos previstos para 2014 e 2016. A melhora da infraestrutura das cidades brasileiras para atender de forma ampla a esses compromissos passa necessariamente por investimentos pesados em vários setores: transportes (aeroportos, metrô, ferrovias), reforma e construção de estádios e ampliação de rede hoteleira. "Em função do cumprimento de prazos estabelecidos tanto pela FIFA como pelo Comitê Olímpico Internacional, as ações que precisam ser implementadas já começaram a movimentar o mercado de seguros", diz Siqueira da Silva. O país passa também por período de investimentos do setor industrial, em particular o de óleo e gás, com ampliação de fábricas e criação de novos complexos produtivos, gerando necessidade de mais oferta de energia elétrica.

Para atender a esta demanda, o setor energético está sendo ampliado com a construção de hidrelétricas, usinas eólicas e termelétricas.

"Todos esses investimentos estarão amparados por apólices de seguro", observa.

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