Breaking News

Previdência em menor ritmo?

Fonte: Valor Econômico

Captação de PGBL e VGBL perde fôlego em abril, puxada por fuga de planos com ações, mas movimento tende a ser pontual.

Alessandra Bellotto

Em abril, pela primeira vez no ano, os fundos de previdência aberta registraram queda no ritmo de captação líquida em relação ao mesmo período de 2010. No mês passado, na comparação anual, o saldo de aplicações ficou 8% menor, ao registrar R$ 1,7 bilhão. Em relação a março, a captação cedeu cerca de 15%. Para os especialistas, trata-se apenas de um movimento pontual.

É cedo para falar de tendência, até porque no quadrimestre houve crescimento, afirma Marcelo Nazareth, sócio-diretor da consultoria NetQuant, responsável pelo levantamento que reuniu dados de 560 carteiras. Entre janeiro e abril, os fundos de previdência aberta atraíram R$ 7,2 bilhões, uma expansão de 18% se comparada ao mesmo período do ano passado.

O que continua chamando a atenção é que, apesar do maior comprometimento do investidor com a poupança para o futuro, seu comportamento segue pautado pelo curto prazo, destaca Mizael Vaz, gerente comercial da Icatu Seguros. A bolsa não está com uma performance boa e isso tem afugentado o investidor, muitas vezes levando-o a sair da aplicação em momento errado, explica.

Para Nazareth, da NetQuant, apesar do horizonte maior da aplicação, o indivíduo que tem previdência é conservador. Depois de o Ibovespa, principal índice de referência para o mercado de ações, ficar parado em 2010 e de engatar uma trajetória de queda neste ano - até abril, o índice amargava tombo de 4,58% -, o investidor começou a sair dos fundos com ações, diz.

Em abril, as carteiras que direcionam parcela dos recursos para a renda variável seguiram registrando mais resgates do que entradas, apesar da queda de 7% nos saques na comparação com março, para R$ 264,9 milhões. No mesmo período do ano passado, embaladas pela alta superior a 80% da bolsa em 2009, as carteiras com ações haviam captado R$ 1,2 bilhão.

Richard Seegerer, gerente-executivo de previdência do Santander Brasil, afirma que, como o segmento de previdência é concentrado em planos do tipo VGBL, com 75% de participação, o comportamento do mercado se assemelha muito ao dos fundos de investimentos tradicionais. No VGBL, indicado para quem é isento de imposto de renda, faz a declaração simplificada ou tem investimentos que superam os 12% da renda bruta anual, a tributação incide apenas no resgate sobre os rendimentos. O investidor consegue mudar de posição sem grandes penalidades, diz.

Já no PGBL, compara o executivo, o participante tende a privilegiar a visão de longo prazo para fazer jus ao incentivo fiscal. Nesse tipo de plano, as contribuições podem ser abatidas do IR até o limite de 12% da renda bruta anual, diminuindo a base tributável. Mas isso só vale para quem faz a declaração completa e trata-se, na verdade, de um diferimento (adiamento) do imposto a pagar, com o intuito de cair em uma alíquota menor.

Isso porque, no PGBL, no resgate, o investidor paga imposto sobre o total acumulado e não apenas sobre o rendimento como no VGBL. Se ele estiver mais de dez anos na aplicação, a alíquota pode chegar a 10% pela tabela regressiva, abaixo do teto de 27,5% de imposto de renda para pessoa física.

Seegerer destaca, contudo, que o investidor, mesmo quando incomodado pelo ambiente ruim de mercado, não deveria sair da previdência. Nem estando em um VGBL. Ele conta que tem muito investidor que pede resgate de fundo com ações, por não suportar o vaivém da bolsa, enquanto poderia pedir transferência para uma carteira mais conservadora sem perder prazos nem pagar imposto.

Mas vale ressaltar que em abril, dos dez fundos de previdência mais rentáveis, sete têm aplicação em renda variável, sendo seis dos mais agressivos, com até 49% em ações. Apesar da queda da bolsa, a performance desse grupo de carteiras, na maioria sob gestão de assets independentes, variou de 0,89% a 1,73% no mês.

Já os fundos 100% renda fixa, entre eles os multimercados sem ações, captaram R$ 1,9 bilhão em abril, volume 13,8% menor que o registrado em março, mas três vezes acima do verificado no mesmo mês do passado. No quadrimestre, a classe de renda fixa também liderou as entradas, com R$ 7,47 bilhões, um aumento de 324% na comparação com o mesmo período do ano passado. Já os fundos com ações perderam no acumulado do ano R$ 205,5 milhões, na contramão do movimento verificado em 2010, quando essa classe recebeu R$ 4,39 bilhões de aplicações.

No fim de abril, o patrimônio líquido do setor de fundos de previdência aberta chegou a R$ 193 bilhões, volume 25% maior do que o registrado um ano antes. O destaque de crescimento, ao contrário do que vinha ocorrendo, ficou com os fundos de renda fixa e multimercados sem ações, com expansão de 30% do patrimônio, para R$ 148,4 bilhões. Já as carteiras com ações tiveram alta de 11%, para R$ 45,5 bilhões.

Nenhum comentário

Escreva aqui seu comentario