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Classe média busca complementar INSS

Fonte: Estado de Minas

Com benefício público encolhendo nos últimos anos, setor da previdência privada avança e já movimenta R$ 24,9 bi

Marinella Castro

Com a expansão do emprego formal, o brasileiro tem incluído a poupança para aposentadoria entre suas prioridades de investimento. Enquanto os benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) para quem recebe acima do salário mínimo perderam valor nos últimos 20 anos em relação ao salário mínimo, a poupança própria para a aposentadoria passou a pesar mais no bolso das classes de média e alta renda. Sistemas que reúnem a poupança a longo prazo, como o segmento de vida e previdência, vêm apresentando crescimento acelerado nos últimos cinco anos. De janeiro a junho, foram 25,6%, o que significa receita de R$ 24,9 bilhões, segundo a Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi).

Entre os brasileiros a ideia de que é preciso ter uma fonte alternativa ao sistema público está ganhando corpo, antes de que a propagada reforma da Previdência saia do papel e possa instituir alguma espécie de complementação. Desde 2001, a engenheira Cláudia Mendonça Castro investe em uma poupança pessoal que poderá utilizar a partir dos 60 anos. Também desde 1992, ela contribui com o INSS. "A impressão que tenho é que nunca vou poder parar de trabalhar. O rendimento da previdência pública não é bom. A alternativa é ter o sistema complementar." Ela também investe em previdência privada para o filho, Eduardo. "É uma segurança a mais para ele e, da mesma forma, para mim", garante.

Despesas, como o pagamento do plano de saúde e o desejo de manter o padrão de consumo próximo ao da vida ativa são motivos que empurram o brasileiro para o sistema privado. O vice-presidente da Fenaprevi, Renato Russo, diz que além do crescimento do mercado de trabalho, a visão do brasileiro de que a aposentadoria pública, sozinha, não fará frente a suas despesas tem contribuído para o crescimento do setor. Carolina Molla, diretora de Vida e Previdência da Sul América, aponta que entre 2005 e hoje a idade média do brasileiro que procura a seguradora caiu de 40 para 35 anos.

PACTO DE GERAÇÕES

Lásaro Cândido da Cunha, professor de direito previdenciário da PUC Minas, acompanhou o desempenho do valor das aposentadorias do brasileiro nos últimos 20 anos. Para quem se aposentou pelo teto em 1991, por exemplo, o valor do benefício em relação ao salário mínimo chegou a ser cortado em mais da metade. Para ele, o lado negativo do crescimento do processo privado é que ele pode representar a queda de confiança no sistema público. "O filho vai confiar no sistema se enxergar que ele foi bom para os pais." Para ele, a recomposição dos valores dos benefícios, ou pelo menos de parte deles, é saída para manter a segurança do sistema. "A Previdência não pode ser colocada como engodo, ela é um pacto entre gerações." O especialista em finanças públicas Amir Khair diz que grande parte da população brasileira vai estar garantida pela Previdência Social, que tem a seu favor o crescimento da economia, com a expansão do emprego formal. Ele aponta que o défict estimado para este ano em R$ 40 bilhões vem caindo em relação ao PIB. "Em 2006 era próximo a 1,6% do PIB, este ano o percentual vai para 1%. É preciso lembrar também que neste déficit há renúncias fiscais nas costas da Previdência."

Khair mostra uma conta favorável ao sistema público. Segundo ele, enquanto o estoque de pessoas acima de 65 anos cresce a pouco mais de 3% ao ano, atingindo 4% em 2020, a partir desta data, o percentual começa a cair fortemente ficando abaixo de 1% em 2050. "É preciso notar também que, enquanto as despesas crescem com os maiores de 60 anos, elas diminuem com os menores de 14 anos."

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