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Previdência: Longevidade pede políticas específicas

Fonte: Valor Econômico

População de países em desenvolvimento envelhece mais rápido que a de países desenvolvidos

Guilherme Meirelles

Quem viver, verá. Em 2050 o planeta terá 9 bilhões de habitantes, dos quais mais de 2 bilhões terão 60 anos ou mais. Será a primeira vez na história da humanidade que haverá mais idosos do que crianças e jovens (0-14 anos) na população. Os dados fazem parte de estudo do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais da Organização das Nações Unidas. O documento aponta ainda que os países em desenvolvimento estão envelhecendo a uma velocidade maior que a dos países desenvolvidos. Dentro de cinco décadas, pouco mais de 80% dos idosos viverão nos países em desenvolvimento. Em 2005, esse contingente era de 60%. Diante desse quadro, será que o Brasil está preparado para atender as necessidades dessa nova população?

Para o médico e pesquisador em saúde pública, Alexandre Kalache, ainda há muito que se fazer em melhorias dos serviços de saúde, no desenvolvimento de cuidados domiciliares e na criação de redes de qualidade de instituições para os idosos que não conseguem sobreviver nas próprias casas. "Mas o copo está meio cheio, e não meio vazio", afirma.

Considerado uma das maiores autoridades mundiais em políticas para a longevidade, Kalache foi dos primeiros especialistas a alertar para a necessidade de adoção de políticas específicas para os idosos nos países em desenvolvimento. Hoje, segundo o Censo de 2010, o Brasil conta com 190 milhões de habitantes, sendo que 21 milhões estão na faixa acima dos 60 anos. Com o decréscimo registrado na taxa de natalidade, hoje em 1,8 filho por família, e aumento da expectativa de vida para 74 anos, as perspectivas apontam para uma população brasileira de 63 milhões de idosos em 2050. Isso vai representar 29% da população, que é o atual índice do Japão, país mais longevo do planeta. "Isso é um fato sem precedentes, nenhum país passou por essa experiência e deveríamos já pensar quais políticas deverão estar disponíveis para esse cenário bastante provável."

Kalache considera que o Brasil tem avançado em políticas para idosos. Ele cita a Constituição de 1988, que ampliou direitos para a saúde, a implantação do SUS e a inserção nos conceitos de Atenção Primária à Saúde, preconizados pela Organização Mundial da Saúde, entidade na qual Kalache atuou durante 13 anos, dirigindo o Programa Global de Envelhecimento e Saúde. Além disso, há as políticas sociais que asseguram renda mínima aos mais carentes, que abrangem cerca de 9 milhões de pessoas acima de 60 anos.

Uma questão fundamental é a inserção do idoso nos debates sobre o tema. No mês passado, em Brasília, a 3ª Conferência Nacional dos Idosos foi a etapa final de um processo que vem desde o início do ano, com mais de mil conferências municipais envolvendo a participação de 60 mil idosos. Durante o evento, foram debatidas centenas de resoluções que posteriormente serão encaminhadas ao Legislativo para discussão. "Discussões como essa dão credibilidade internacional ao Brasil, que é um dos cinco países (ao lado de Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai) a reivindicar junto à ONU a realização de uma Convenção dos Direitos das Pessoas Idosas, a exemplo das que existem para crianças, incapacitados e indígenas."

Mas o desafio não cabe apenas ao poder público. "É imperativa a participação do poder privado no processo", diz Kalache. Essa participação pode vir na prestação de serviços essenciais (como transporte, maior acessibilidade e acesso à informação) como também em iniciativas que apoiem práticas saudáveis. Aos 71 anos, a montadora industrial aposentada Maria Madalena Serafim Camargo pratica regulamente natação e hidroginástica e busca alimentar-se de forma saudável. No início deste mês, participou de sua primeira caminhada de 3 km no Circuito de Corrida e Caminhada da Longevidade, promovida pelo Bradesco, em São Paulo. No evento, segundo dados da organização, cerca de 15% dos participantes tinha idade superior a 60 anos. Segundo Lúcio Flávio de Oliveira, presidente da Bradesco Vida e Previdência, cada etapa do circuito tem um custo em torno de R$ 1,2 milhão. "É um evento que reúne famílias e motiva as pessoas. É um investimento que vale a pena", afirma.

Embora o conceito de qualidade de vida esteja associado às opções de cada um, Kalache recomenda a todos que tenham como linha mestra a vontade de estar sempre adquirindo novos conhecimentos. Ele cita como exemplo o pianista polonês Arthur Rubinstein (1887-1982), que ao ser indagado, aos 87 anos, como conseguia tocar com tamanha maestria, respondeu que tinha um repertório mais reduzido, que não exigia muito esforço físico, mas no qual era possível ensaiar por mais tempo. "São estratégias de compensação que fazem com que se passe a usar com eficácia recursos pessoais que já não são tão grandes como anteriormente", diz o médico.

E não devem ser esquecidos cuidados básicos com a saúde, principalmente com alimentação. Já há consenso na medicina quanto aos quatro grandes fatores de risco - tabagismo, dieta pouco saudável, sedentarismo e ingestão excessiva de álcool - todos eles associados às doenças comumente encontradas no envelhecimento, como hipertensão, diabetes e problemas cardiovasculares.

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