Seguro grátis e falcatruas de mãos dadas

Fonte: Jornal NH

Golpe de R$ 1 milhão já lesou 45 donos de veículos no Vale do Sinos Estelionatários agiram em pelo menos sete cidades da região com ofertas tentadoras

Um golpe que já soma cifra milionária envolvendo a compra de veículos novos já lesou pelo menos 45 moradores de Campo Bom, Novo Hamburgo, São Leopoldo, Sapiranga, Dois Irmãos, Ivoti e Lindolfo Collor. Acabou com o sonho de condutores que queriam adquirir um carro zero-quilômetro ou trocar por um modelo mais novo.

A expectativa era obter o bem com vantagens atraentes. Uma empresa registrada em junho de 2010, mas sem endereço físico, apenas com site na Internet registrado há menos de dois meses, atuava como intermediária na compra e locação de veículos novos. É apurada pela Polícia Civil de Campo Bom por crimes de estelionato. Segundo o chefe de Investigação, inspetor André Garcia Miranda, o suposto mentor já tinha antecedentes pelo mesmo delito.

Segundo as vítimas e as informações obtidas no próprio site da empresa, a suposta golpista oferecia desconto de 25% no valor de um veículo novo, carência de nove meses para começar a pagar e seguro grátis por um ano. Para tantos benefícios exigia uma entrada de R$ 8 mil ou o veículo usado como entrada de um novo. Segundo o advogado Davi Müller, a média perdida é de R$ 15 mil a 20 mil reais por vítima, o que totalizaria aproximadamente R$ 1 milhão.

PROPOSTA ATRAENTE

“Você escolhe o carro dos seus sonhos e a (nome da empresa investigada) ajuda você a realizar. Seu carro usado vale como entrada na compra de um carro novo. Desconto de até 25% no valor financiado. Carência de 9 meses para começar a pagar. Seguro grátis. Fique tranquilo. O primeiro ano é por nossa conta.” Esta oferta, que parece muito atrativa para quem tema o sonho de trocar de veículo ou adquirir um novo, fazia parte do marketing de uma empresa virtual e acabou se tornando um pesadelo para moradores do Vale do Sinos.

A INVESTIGAÇÃO

Após a descoberta do golpe, os acusados teriam deixado a região. Conforme o inspetor André Miranda, pelo menos três suspeitos são investigados, um morador de Campo Bom, um morador de Campinas (SP) e sua namorada, que também reside em uma cidade do Vale do Sinos.

Somente na delegacia de Campo Bom foram registrados 33 casos. Os demais foram em Dois Irmãos (10) e Ivoti (2). Uma das supostas vítimas, que também registrou ocorrência policial, é o proprietário da empresa investigada, que se diz enganado pelo sócio.

O advogado dele, Antenobre Cordeiro, se colocou à disposição da Polícia para esclarecimentos e informou que o seu cliente está sendo ameaçado por telefone. “Segundo o meu cliente, ele disse que foi lesado por uma pessoa que usou de má-fé em seu nome e também registrou ocorrência”.

O delegado Ernesto Clasen, que responde pela delegacia de Campo Bom, deve tentar localizar os suspeitos e intimá-los para prestar depoimento. Caso não compareçam, pode pedir a prisão preventiva dos envolvidos.

De acordo com Miranda, um dos suspeitos, que seria o mentor do golpe, já foi processado pelo mesmo tipo de crime cometido em Valinhos, interior de São Paulo, em 2007. O acusado utilizaria laranjas para receber valores dos veículos negociados.

Vítimas contraíram dívidas

Muitas vítimas perderam economias de toda uma vida. Como o caso do encarregado de operação de uma empresa de serviços de transporte, morador de Dois Irmãos, 35 anos, que perdeu R$ 14 mil. Ele entregou o seu Palio na esperança de adquirir um carro zero. O financiamento foi aprovado, mas não teve coragem de retirar o automóvel após saber que é vítima por não ter condições de quitá-lo. “Soube que o meu carro foi parar numa revenda em Novo Hamburgo e estava lá até a última quinta, mas já foi negociado”, lamenta. Outra vítima, uma vendedora de 26 anos, adquiriu um Fox novo no início de dezembro, mas foi surpreendida com um boleto de financiamento ainda não quitado, contrariando a proposta de carência de nove meses.

Primeiro caso em novembro

Conforme o inspetor André Miranda, o primeiro caso foi registrado no final de novembro de 2011, quando uma concessionária de Novo Hamburgo prestou queixa na Polícia após receber a denúncia de uma mulher que teria sido vítima de estelionatários. Os criminosos teriam usado jalecos da concessionária, informando que a negociação seria feita em nome da empresa, e abordavam as vítimas após cultos de uma igreja em Campo Bom. Eles usavam um veículo Fiat Uno com placa de Campinas e com o nome de outra empresa, que hoje é investigada pela Polícia.

O ESQUEMA

Segundo os advogados de pelo menos oito vítimas, Aline Betim e Davi Müller, todas as pessoas lesadas eram convencidas pelos estelionatários a comprar veículos novos. Para a retirada do carro, era necessária uma entrada de R$ 8 mil. Como benefício teriam desconto de 25% no valor de um veículo novo, carência de nove meses para começar a pagar e seguro grátis por um ano. E, na assinatura do contrato, se comprometiam a não repassar o veículo no intervalo de nove meses.

A maioria oferecia o veículo usado e, se o valor do automóvel semi-novo ultrapassasse os R$ 8 mil, a empresa investigada prometia a devolução do valor. Na maioria dos casos, os golpistas faziam a transação em um caixa eletrônico, onde depositavam envelope vazio na conta da vítima.

Quando recebiam o veículo da vítima na troca, repassavam os automóveis para outras revendas e sem reembolso para os antigos proprietários. Conforme a advogada Aline Betim, em alguns casos, as revendas ainda não renegociaram os veículos. “Vamos entrar com uma medida preventiva e cautelatória para impedir a transferência e com processo para anular o negócio.”