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ING deixa o controle da SulAmérica

Fonte: Valor Econômico

Larragoiti: aporte de conhecimento pelo ING foi menor do que se esperava

O grupo holandês ING começou finalmente a se desfazer de sua participação na seguradora brasileira SulAmérica, cumprindo acordo com a Comissão Europeia de se desfazer de suas operações de seguros no mundo como contrapartida ao resgate recebido na crise de 2008.

A família Larragoiti, fundadora da SulAmérica, e o ING anunciaram ontem mudanças na estrutura do controle acionário da seguradora. Por meio de complexa operação, a família assume o controle da seguradora, antes compartilhado com o ING. Pelo desenho, os Larragoiti comprarão a participação do ING na holding de controle Sulasapar, que tem 32,8% do capital da seguradora. A família tinha 55% da holding e os holandeses, 45%. Com a compra, a família passa a deter 100% da Sulasapar.

Após a concretização do negócio, o ING terá sua participação no capital total da seguradora SulAmérica reduzida de 36% (composta por 21,2% de participação direta e a outra parte por meio da fatia de 45% na holding Sulasapar) para uma fatia direta de 28,8%. Já a família fundadora da seguradora aumentará sua participação direta e indireta na SulAmérica de 24,7% para 31,9%, agora com 100% do controle da Sulasapar.

O valor da transação não foi divulgado, mas o Valor PRO, serviço em tempo real do Valor, apurou que o ING receberá cerca de R$ 350 milhões da família pelo equivalente a 7,2% do capital da SulAmérica. Depois de longas negociações, os Larragoiti não aceitaram pagar um prêmio pela fatia de controle do ING. A compra será feita tomando como referência o valor de mercado da SulAmérica. Foi atribuído valor de R$ 19 por unit da SulAmérica, que reúne uma ação ON e duas PNs.

A maior parte do valor será financiado pelo Bradesco. A família pagará o empréstimo ao banco com o fluxo de dividendos da própria seguradora ao longo dos próximos anos.

Questionado, Patrick Larragoiti, presidente do conselho de administração da companhia e membro da família controladora, disse que o pagamento será feito com recursos próprios. Ele contou que desde 2008 tem tido reuniões com o ING para discutir a melhor forma da saída do sócio e que sempre se mostrou interessado em comprar a participação, mas que só no início deste ano se chegou a termos satisfatórios.

O ING tentou vender a totalidade de sua participação a outras seguradoras, sem sucesso. O maior entrave era o rigoroso acordo de acionistas, que seria herdado pelo eventual comprador. O acordo impunha uma série de restrições ao sócio dos Larragoiti como, por exemplo, a obrigatoriedade de integrar à SulAmérica qualquer outra operação de seguros que possuísse no Brasil. Depois de muito tentar, ficou claro que a família era a compradora natural das ações do grupo holandês. Mas, então, entrou em cena outro obstáculo. Os Larragoiti não tinham recursos para comprar toda a fatia de 36% do ING, avaliada em R$ 1,87 bilhão. A solução, então, foi negociar o pedaço que dava o controle à família e liberar o restante para o ING vender posteriormente.

O grupo holandês, agora, poderá vender seus papéis por meio de oferta pública, por meio de pequenas colocações privadas ou numa venda em bloco na bolsa. Pode fazer isso num prazo de dois a três anos.

Será celebrado um novo acordo de acionista, que vai assegurar ao ING o direito de indicar um membro para o conselho de administração enquanto os holandeses tiverem, no mínimo, 10% do capital social da companhia. Hoje o ING tem duas cadeiras no conselho.

Patrick Larragoiti disse que a família não pretende comprar a fatia direta de 28% que o ING manterá, por enquanto, em bolsa e nem buscar um novo sócio estratégico. "Nosso interesse era consolidar o controle da Sulasapar, que controla a companhia", disse.

Na reorganização societária, será feita a conversão de ações ordinárias em ações preferenciais (na proporção de um para um), visando a formação de novas units. A Sulasapar, que tem apenas ações ordinárias, converterá uma determinada quantidade de ações e entregará as respectivas units ao ING, mantendo a titularidade da maioria do capital votante da companhia. O número de ações a serem convertidas não foi informado.

Após ser socorrido pelo governo holandês na crise financeira, o ING anunciou no fim de 2009 que venderia suas operações de seguros como parte do acordo de reestruturação firmado com a Comissão Europeia. Na época, a companhia disse que as alienações seriam feitas até 2013 por meio de venda ou abertura de capital. No ano passado, porém, esse prazo foi estendido para 2015.

Segundo Larragoiti, a saída no ING do bloco de controle não impacta em nada a operação da seguradora. Apenas a associação com o ING será retirada da marca. "A maior contribuição que o ING trouxe foi a governança e a abertura de capital em 2007", afirma. "O aporte de conhecimento e expertise [de produtos] não foi tão relevante quanto podia se esperar no início."

As units da SulAmérica fecharam em queda de 3,13% ontem, cotadas a R$ 18,87, ante um alta do Ibovespa de 0,26%. Segundo Aloísio Lemos, analista da Ágora Corretora, os papéis foram pressionados pela falta de detalhamento de como se dará a conversão de ações e como será o novo acordo de acionistas. "O ING saiu do bloco de controle e agora está livre para vender as ações no mercado, que têm um valor superior a R$ 1 bilhão. É um montante muito expressivo e traz pressão de oferta para o papel", diz Lemos.

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