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Previdência: Elas estão de olho no dia de amanhã

Fonte: Valor Econômico

Por Katia Simões | Para o Valor, de São Paulo
 
 

Aura Rebelo, da Icatu Seguros: "O público feminino adere aos planos de previdência dois anos antes que o masculino".

Aos 54 anos, a empresária paulista Dirce Mitico Kita, sócia da Gallette Chocolates, está prestes a usufruir das primeiras retiradas de um plano de previdência privada iniciado há 13 anos, quando trabalhava no antigo Banco Real. "Naquela época, eu pouco pensava em poupar para a aposentadoria", afirma. "Mas, como era o banco que respondia pelo maior volume de aporte mensal, fui adiante". Aposentada pelo INSS, Dirce afirma que se pudesse voltar atrás não só adquiriria um plano mais cedo, como também faria depósitos maiores.

O pensamento defendido pela empresária paulista Dirce vem se tornando cada vez mais comum entre o público feminino. Segundo dados da Federação Nacional da Previdência Privada e Vida (FenaPrevi), o interesse das mulheres em planejar o futuro cresce a cada dia. Atualmente, 44% dos cerca de 13 milhões de planos ativos no país pertencem a elas. Em 2000, quando Dirce fez seus primeiros depósitos, essa parcela era de apenas 35%.

Não é errado afirmar que as mulheres foram responsáveis diretas pelo mercado de seguros para pessoas movimentar R$ 2,049 bilhões em setembro último, um crescimento de 12,09% em relação ao mesmo período do ano passado ou um avanço de 18,6% em aportes nos primeiros nove meses de 2013, somando R$ 19,056 bilhões em prêmios.

A explicação para tamanha disposição das mulheres em investir em previdência privada está na mudança da posição feminina na sociedade e no próprio mercado de trabalho. Há 13 anos, cerca de 22,2% das famílias brasileiras eram chefiadas por mulheres, de acordo com o IBGE. Em 2010, esse índice chegou a 37,3%. Em uma década, quase dobrou o número de famílias brasileiras sob o comando feminino.

"Soma-se a esses fatores o crescimento ano a ano da massa de profissionais bem sucedidas, solteiras, que também representam parte importante da população economicamente ativa preocupada com o próprio futuro", afirma Gustavo Lindimuth, superintendente de produtos de previdência do Santander. "São essas as principais razões que levam a mulher a ter papel cada vez mais relevante em toda a indústria financeira".

Disposta a conhecer melhor esse público, responsável por 42,4% de sua carteira de clientes, com um acúmulo de reservas da ordem de R$ 7 bilhões, a Brasilprev Seguros e Previdência realizou um estudo sobre o perfil dessas investidoras. Constatou que elas têm preferência pelos planos VGBL (Vida Gerador de Benefício Livre), que respondem por 45% das escolhas e optam pela tabela regressiva do Imposto de Renda ao escolher a tributação (35% contra 30,5% dos homens). O levantamento revelou, ainda, que muitos dos planos adquiridos tinham por alvo os filhos e não necessariamente a própria mulher.

 
 
."Nossos planos são comercializados nas agências do Banco do Brasil, onde conquistamos uma boa clientela da nova classe média, fatia da população na qual as mulheres vêm ganhando espaço na chefia da casa e no mercado de trabalho", afirma Soraia Fidalgo, gerente de inteligência de negócios da seguradora. "Assim, no Norte e no Nordeste vemos uma adesão muito grande dos planos de previdência para menores. As mulheres estão muito preocupadas com a educação dos filhos e enxergam na previdência privada uma ótima ferramenta para aumentar as possibilidades educacionais futuras dos pequenos".

Ainda de acordo com o levantamento, entre as 480 mil mulheres que possuem planos de previdência da Brasilprev, 43,9% têm até 30 anos de idade e 45,2% são solteiras, o que reforça uma tendência apontada pelos especialistas da área de que as mulheres estão planejando o futuro cada vez mais cedo.

"Em média, o público feminino adere aos planos de previdência privada dois anos antes do que o masculino", diz Aura Rebelo, diretora de produtos e marketing da Icatu Seguros. "Uma fatia significativa da nossa carteira de clientes é composta por mulheres abaixo dos 30 anos". Há uma década, as mulheres respondiam por menos de 40% da clientela de previdência privada da Icatu. Hoje, elas ultrapassam os 45%.

Por conta disso, a seguradora dispõe de uma família de planos mais ou menos agressivos por ciclo de vida, com proposta de gestão do fundo. "Ao contrário dos homens, elas gostam de delegar a tarefa de administração para um profissional".

À frente ou não da gestão dos próprios fundos, o certo é que, segundo estudo feito pela Icatu, as mulheres dobraram as reservas em previdência privada em quatro anos, saltando de R$ 770 milhões para R$ 1,4 bilhão na carteira da seguradora. Apesar de manterem uma contribuição mensal sem grandes oscilações - cerca de R$ 300 por mês -, as mulheres aumentaram consideravelmente o valor de aporte esporádico no ano passado, 95% maior que em 2011.

"Ao olhar o perfil de investimentos ao longo dos anos, nota-se que as mulheres têm deixado o rótulo de conservadoras e se exposto mais ao risco", observa Aura. Em 2009 e 2010, a maioria contratou planos de previdência com investimentos em fundos multimercados. Em 2011, elas optaram pela renda fixa. Em 2012, os fundos multimercados tiveram preferência, comprovando que as mulheres já não são mais tão conservadoras quanto num passado recente.

"Acreditamos que mais do que criar planos sob medida para as mulheres, o importante é oferecer uma boa educação financeira, que as oriente para um planejamento bem feito que considere os objetivos, necessidades e sonhos de curto, médio e longo prazo", diz.
 
 

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