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Fundos avançam em patrimônio

Fonte: Valor Econômico

Por Luiz Sérgio Guimarães
Regis Filho/Valor
Marcelo Mello: menor flexibilidade visa proteger investidor de longo prazo

Os fundos de previdência privada já são a terceira maior categoria da indústria em patrimônio líquido. Com patrimônio de R$ 463,69 bilhões, detêm 15,61% do PL total da indústria, vindo logo depois das carteiras de renda fixa, com 47,43%, e dos multimercados, com 19,73%. A preferência pela renda fixa, natural face à elevada taxa básica de juros, se reproduz também dentro da categoria dedicada à formação de um patrimônio financeiro destinado a prover renda para o momento da aposentadoria.

Mas a diversificação e a sofisticação vêm aumentando entre as carteiras de previdência. Como os fundos balanceados, que aplicam parte da captação em ativos de renda variável, e os de ações sofrem os efeitos da crise enfrentada pela bolsa de valores, as opções na estratégia de diversificação se deslocam para os fundos multimercados e os de crédito privado, os que compram títulos de dívida corporativa como as debêntures.

Os fundos de previdência multimercados conseguem ser, este ano, até mais rentáveis que os fundos de renda fixa puros. Enquanto no ano passado a rentabilidade deles foi inferior à paga pelos de renda fixa (de 9,80% ante 11,02%), em 2015 o quadro muda de figura. Até setembro, os multimercados renderam, segundo dados da Anbima, 9,19%, um pouco acima do ganho de 9,13% proporcionado pelas carteiras de renda fixa. Esta vantagem ocorre apesar da legislação mais restritiva imposta aos multimercados de previdência comparativamente aos multimercados em geral.

De acordo com o vice-presidente de investimentos e previdência da SulAmérica, Marcelo Mello, os multimercados de previdência sofrem limitações de alavancagem, não podem operar com moedas internacionais nem alocar aplicações em ativos externos - três restrições às quais não estão sujeitos os demais multimercados. "A menor flexibilidade visa a proteger o investidor de longo prazo como é o de previdência", diz Mello.

O gestor Luiz Eduardo Portella, sócio da Modal Asset Management, considera que as carteiras multimercado e as compostas majoritariamente por ações são hoje as mais indicadas para a diversificação do portfólio constituído para fins de aposentadoria. Os multimercados vêm se beneficiando com a elevada taxa real de juros oferecida pelos títulos públicos federais. Há papéis de emissão do Tesouro que prometem um ganho entre 7% e 7,5% acima da inflação. E, como são títulos de maturação longa, acima de cinco anos, irão se manter atrativos mesmo depois de iniciado um movimento de declínio do juro básico da economia.

Os fundos de ações também são recomendados porque o persistente declínio dos índices da Bovespa barateou o preço dos ativos. "Antes da atual fase de incertezas, o preço das ações permanecia em patamares muito elevados. Era difícil entrar no mercado. O ciclo deve hoje ser aproveitado como oportunidade de ingresso. As ações ainda não estão baratas, mas os seus preços não se mostram mais proibitivos", diz Portella.

Para o gestor, o momento mais propício à entrada em fundos de crédito privado ainda não chegou. Os preços dos mercados de juro, câmbio e ações já se ajustaram à crise econômica, mas o segmento de crédito ainda não. Como o mercado de crédito é pequeno e sua liquidez, estreita, ainda não foi afetado pela desaceleração da economia. Isso deve acontecer no primeiro trimestre do ano que vem. No início de cada ano ocorre a rolagem de títulos corporativos, como as debêntures, emitidos em exercícios anteriores, e também novas captações. Ou seja, as empresas voltarão ao mercado e encontrarão condições diferentes, bem piores do que as existentes em anos anteriores. Para rolar os seus papéis ou efetuar novas emissões, terão de remunerar melhor os investidores, já que o risco geral cresceu. Nesse contexto, os fundos que adquirem papéis privados terão um expressivo acréscimo de rentabilidade.

O ajuste do mercado corporativo à realidade da economia poderá ser mais intenso dependendo da conjuntura internacional vigente no início do ano que vem. "O crédito internacional vem se apertando este ano em preparação ao prometido movimento de alta da taxa básica de juros dos EUA. Quando isso ocorrer, e pode ser que aconteça no primeiro trimestre de 2016, as linhas externas ficarão mais escassas e caras, empurrando as empresas para um mercado doméstico já em contração", diz Portella.

Apesar de os fundos de crédito privado desenhados para a previdência, sob o guarda-chuva das duas categorias maiores de PGBL e VGBL, ainda não estarem exibindo "preços de crise", merecem hoje um grande destaque por evitarem um dos problemas principais da indústria de fundos neste contexto de intranquilidade e incerteza: a volatilidade.

O gerente de previdência da Icatu Seguros, Felipe Bottino, explica que as carteiras que carregam debêntures raramente sofrem o fenômeno da "marcação a mercado" - o dispositivo que, ao incorporar à cota diária as variações da taxa de juros, provocam muitas vezes sustos desagradáveis em investidores de renda fixa avessos ao risco. Nos fundos de renda fixa prefixados, toda vez que os juros sobem no mercado futuro da BM&F o ajuste dos papéis em carteira provoca uma desvalorização das cotas.

Nos fundos de crédito privado, essa circunstância não é frequente, pois os títulos têm baixa liquidez, não costumam ser transacionados em mercado secundário com assiduidade. "Esses fundos que pagam o CDI mais o risco de crédito da empresa emissora do papel são um reloginho: todo mês a rentabilidade é creditada à cota independentemente do que aconteça no mercado de renda fixa", diz.


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