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Sofisticação do investidor estimula a portabilidade

Fonte: Valor Econômico 


O crescimento da indústria de previdência privada, que viu os aportes somarem R$ 40,3 bilhões no acumulado de 2016 até maio, uma alta de 10,7% ante igual período do ano passado, foi acompanhado de um movimento que a cada ano cresce em popularidade junto aos investidores: a portabilidade dos planos. No acumulado até julho, foram computadas 41.504 operações de migração de reservas dos planos para outra instituição. Na prática, isso significou que R$ 5,99 bilhões mudaram de mãos, um recorde absoluto.

Segundo levantamento da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi), esses montantes representam alta de 9,51% na comparação com os volumes financeiros de portabilidade movimentados em igual período de 2015. Se confrontados com os dados dos sete primeiros meses de 2014, o crescimento é ainda maior: 39,95%. "Esse movimento é puxado pelo cliente de mais alta renda, multibancarizado e que passa a sofrer assédio de outras instituições", opina o superintendente de produto da Brasilprev, Sandro Bonfim.


O aumento na recorrência ao mecanismo da portabilidade sugere uma maior sofisticação por parte dos poupadores, que buscam no mercado planos com melhores condições de rentabilidade e, em muitos casos, custos menores (taxa de carregamento e de administração) na comparação com os planos atuais. "A previdência é uma indústria que cresceu nas entrelinhas e o investidor tinha, em muitos casos, pouca clareza sobre o que contratou. A popularização da portabilidade aponta para investidores mais bem informados, que buscam também migrar para um produto mais alinhado ao seu perfil", diz o sócio da XP Investimentos, Gustavo Pires.


A maior competitividade entre as instituições tradicionais e a estratégia de plataformas de investimento, gestoras independentes e butiques financeiras, que passaram a explorar com força esse segmento, também favorecem a desconcentração, ainda que pequena, desse mercado. Por tabela, reforçam o fenômeno da portabilidade.

Essa migração de planos, entretanto, não acontece apenas de uma instituição para outra. Os volumes financeiros de portabilidade computados pela Fenaprevi poderiam ser ainda maiores, já que consideram apenas a portabilidade efetuada entre instituições - migrações internas, que ocorrem quando o cliente efetua a troca do seu plano por outro na mesma instituição, não são captadas nas estatísticas.

"Como as diferenças de condições entre os planos de previdência oferecidos pelas instituições acabam sendo pequenas, os investidores migram internamente. Os consultores olham para as carteiras dos clientes de maneira constante em busca de oportunidades de readequação. Isso explica porque os valores de portabilidade interna, mesmo que não sejam captados nas estatísticas, são maiores do que os da portabilidade externa", diz o vice-presidente da Fenaprevi, Carlos Sanches.

A possibilidade de trocar de plano por um mais barato - ou rentável -, sem arcar com os custos incidentes sobre o resgate, é uma das maiores vantagens da portabilidade. Independentemente da opção pela portabilidade externa ou interna, existem algumas regras a seguir. A primeira é que só é possível portar os recursos para planos de mesma modalidade: PGBL para PGBL e VGBL para VGBL. É preciso atenção também para a tabela de tributação. O investidor que optou pela tributação regressiva só pode migrar para outro plano com as mesmas características.

A tributação regressiva é uma escolha definitiva. Já quem optou pela tributação progressiva pode migrar para outro de tributação progressiva ou regressiva. "Verifique também se há taxa de carregamento na saída. Há planos em que o cliente está isento de carregamento na entrada, mas não na saída. Ao fazer portabilidade em curto espaço de tempo, poderá ser cobrado", diz Sanches, da Fenaprevi.

O investidor pode fazer a portabilidade quantas vezes achar necessário, desde que seja observado o período de carência do seu plano. É recomendado ao investidor que decide trocar de plano comparar no mercado produtos com o mesmo tipo de risco. "No momento da portabilidade, também é importante realizar um novo suitability. O cliente pode ter feito uma avaliação de perfil no passado, mas esse perfil muda", diz Pires, da XP.

É quase consenso na indústria que, se a economia teve pouco impacto nas decisões de portabilidade em meses recentes, o aguardado anúncio do corte na taxa básica de juros (Selic) pelo Comitê de Políticas Monetárias deve levar muitos investidores a aumentar a exposição a riscos em busca de retornos mais atrativos. "A migração entre fundos vai crescer. O momento de conservadorismo está chegando ao fim", diz Bonfim.

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