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Prêmios de seguro de crédito sobem 25% com crise econômica

Fonte: Valor Econômico

Se para o mercado de seguros a percepção de riscos é o combustível que pode levar à adoção de medidas de proteção, para a área de crédito, são as crises econômicas que, em geral, tornam o produto mais conhecido e procurado.

Os resultados desse segmento mostram que esse cenário não foi diferente quando o país atravessou por dois anos seguidos uma forte desaceleração econômica. Em 2016, os prêmios emitidos em seguro de crédito interno tiveram uma expansão de cerca de 25%, segundo estimativa da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg). Um movimento que também levou as seguradoras a aumentarem o monitoramento dos contratos comerciais de seus clientes e serem mais cautelosas nas análises.

"Apesar de existir há 15 anos no Brasil, muitos empresários ainda desconhecem as vantagens do seguro de crédito", comentou Cristina Rocco Salazar, vice-presidente da Comissão de Crédito da FenSeg.


Mesmo com a expansão, ela diz que esse segmento ainda tem pouca representatividade quando comparado ao PIB brasileiro, não passando de uma participação de 0,4%. Segundo dados da Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNSeg) de janeiro a novembro, esse segmento teve expansão de 8,9%.

De acordo com a executiva, em 2016 a sinistralidade foi elevada, de 109% sobre os prêmios emitidos. "O setor siderúrgico/aço foi um dos mais afetados, por fornecer matéria-prima para várias indústrias de bens de consumo duráveis que enfrentaram queda de consumo. Muitas não conseguiram vender seus estoques, atrasaram ou deixaram de pagar seus fornecedores, gerando um efeito em cadeia", ressaltou.

Para Cristina, além da indenização no caso de inadimplência, há mais vantagens para o cliente do seguro de crédito. Entre elas, o gerenciamento e monitoramento dos riscos. "As seguradoras mantêm um cadastro atualizado de todos os clientes do segurado e os monitora constantemente."

Já entre os obstáculos, Cristina relacionou o desconhecimento sobre o produto e a cultura de algumas empresas, que acreditam podem gerenciar os próprios riscos e que não terão perdas inesperadas. "Na crise de 2015, percebemos que os que possuíam seguro de crédito conseguiram enfrentar melhor as turbulências, apesar na queda das vendas, e ganharam fôlego para se reestruturar", afirmou.

Para a executiva, os empresários negligenciam o principal ativo das empresas, que é o circulante (contas a receber de clientes) e não o protegem como fazem com os ativos fixos.

Mas a crise pode trazer oportunidades para as seguradoras. Esse foi, por exemplo, o caso da AIG, que ampliou sua participação e conquistou uma cota de mercado de 23%. "De 2015 para 2016 crescemos 76% em valores de prêmios emitidos, passando de R$ 37 milhões para R$ 65 milhões", afirmou Hugo Carson, gerente de seguro de crédito da companhia.

Na sua opinião, grande parte dessa expansão ocorreu por conta de uma maior procura por produtos com o compromisso de crédito não cancelável, como os que são oferecidos pela AIG. "Percebemos uma maior migração de contratos para essa categoria em detrimento daqueles que preveem a redução do risco da seguradora quando uma crise é detectada mais seriamente em algum setor", afirmou.

Carson também chamou a atenção para a participação dos bancos, como clientes, no mercado de seguros de créditos. "As instituições financeiras aumentaram a compra de carteira de recebíveis e procuraram uma maneira de se resguardar do risco que isso pode oferecer."

O executivo da AIG reforçou que está "cautelosamente" otimista para 2017. Na sua avaliação, poderá ocorrer uma retomada modesta da economia e acredita que o mercado de seguros de crédito, nesse cenário, continuará em expansão.

Marcele Lemos, CEO da Coface, está ainda mais otimista para este ano. Tanto que considera que 2017 vai marcar a retomada da expansão da empresa depois de um período no qual "colocou o pé no freio". Esse cuidado maior ocorreu em função do aumento da sinistralidade na sua base de clientes e uma deterioração acelerada do mercado. "A procura pelo seguro não se deu mais por preço, mas por quanto de empréstimos poderiam ser garantidos", disse.

Ao atingir um pico de 139% de sinistralidade em 2015, a Coface resolveu tomar algumas medidas preventivas. Entre elas, ampliou significativamente sua área de análise e monitoramento dos contratos de seus clientes. Se antes esses relatórios eram gerados a cada três meses, passaram a ser mensais. A empresa adotou uma postura mais conservadora e resolveu preservar sua base e não estimular novos contratos. Entre as áreas que identificou como de maior risco estavam as de construção civil, informática e automotiva.

Marcele considera que os resultados dessa estratégia foram positivos e a sinistralidade registrada na sua base em caiu para 54% no ano passado e a empresa se fortaleceu. "Agora é o tempo de retomada", garante a executiva.

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