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Com a telemetria, preço vai variar por uso do veículo

Fonte: Valor Econômico

Por Denise Bueno | Para o Valor, de São Paulo


André Gregori, CEO da thinkseg, startup de seguros para produtos por mobile: "É a tecnologia a favor do cliente"

Uma boa notícia para quem acha o seguro de carro caro pelo pouco tempo que usa o veículo. Em breve, será possível pagar apenas quando o carro está rodando. Graças à telemetria, tecnologia que permite a transmissão remota de dados, o segurado acionará um aplicativo no celular como se fosse o taxímetro de um táxi. "É a tecnologia a favor do cliente", diz André Gregori, CEO da thinkseg, startup de seguros criada para a venda de produtos somente por mobile.

Esse "taxímetro", na verdade, é um aplicativo bem sofisticado. Mede várias coisas, como velocidade, frenagem, curvas e até o grau de ansiedade do motorista. Por meio de sensores, identifica se o celular é usado enquanto o carro está em movimento. Gregori explica que esse produto, conhecido como "pay as you use", deve entrar em cena no final do ano por ser necessário ainda um aculturamento da população.

"Quando o celular chegou no Brasil, o índice de reclamação das contas era alto, pois os brasileiros achavam que tinham usado muito menos do que estava na fatura da empresa de telefonia. Levou um tempo para todos entenderem o custo das ligações e como poderiam economizar com planos sob medida. O mesmo acontece com seguros. O bom motorista paga menos pois representa menor risco de se envolver em um acidente", explica, afirmando que mais de 70% dos clientes são considerados bons motoristas.


Por enquanto, o uso da telemetria em teste premia o motorista pelo modo de condução do veículo com desconto de até 40% no valor de seguro na thinkseg. Cada pessoa paga conforme o jeito de dirigir (pay as you drive). Os bons motoristas são premiados com descontos. Já os maus recebem, por enquanto, um aviso estimulando bons hábitos na condução do veículo. Mais para frente, além do aviso, a imprudência vai pesar também no bolso.

A Liberty Seguros foi a primeira a colocar em prática a telemetria a favor dos segurados e já colhe os frutos do investimento de R$ 1 milhão nos últimos três anos no programa Direção em Conta, informa José Mello, superintendente de pesquisa e inovação. Em 2017, o programa foi aprimorado e a seguradora lançou uma nova versão que dispensa o uso de qualquer dispositivo instalado no veículo e funciona 100% usando dados capturados por meio do smartphone do usuário.

"Esse modelo permite que a Liberty Seguros libere o acesso do aplicativo para qualquer pessoa, e não só para clientes Liberty. Ao final de 60 dias de direção, o usuário receberá um desconto que pode chegar a até 30% do valor de seu seguro, de acordo com sua pontuação de direção", explica. Mello diz que o consumo de bateria é muito baixo e o cliente pode escolher se quer ou não sincronizar os dados via plano de internet ou somente via wi-fi.

Na Porto Seguro, líder na venda de seguro de carro no Brasil, a telemetria está em compasso de laboratório, conta o diretor geral Luiz Pomarole. Segundo ele, há dois problemas básicos. "Temos o desafio de melhorar a tecnologia que garanta que o aparelho seja seguro", diz. O outro é um risco de mercado para quem ganha dinheiro com o seguro anual, como é o caso da Porto. "A ideia é que os produtos de telemetria atraiam novos consumidores para o mercado, sem prejudicar a apólice anual", diz ele, convicto de que o cliente tradicional manterá o hábito de ter um carro e de comprar um seguro completo.

A boa notícia é que as startups se movimentam rápido, dando poder de escolha ao consumidor. Para Pomarole, o cliente que mudou de hábitos, como usar menos o carro por estar agora em home office, já é beneficiado com a redução do preço ao informar no questionário de perfil sobre a redução da quilometragem rodada. No entanto, esse desconto é seguido de aumentos sucessivos no preço do seguro, justificado pelo crescente índice de roubo e furto nas grandes capitais, escalada do custo de reposição de peças e menor taxa de recuperação dos veículos roubados.

Marcelo Blay, CEO da corretora Minuto Seguros, pondera os prós e contras do uso da telemetria. "O volume de dados gerados é colossal e a necessidade de armazenamento é proporcional. No entanto, o custo para este fim caiu bruscamente nos últimos anos e o principal desafio reside na seleção e interpretação eficaz dessa massa de dados", afirma. O grande diferencial, acrescenta, reside na capacidade do uso inteligente e criativo dessas informações para melhorar os modelos estatísticos de precificação, sinistros, bem como a criação de produtos inovadores.

Já entre os "contras", Blay alerta para o debate que já ocorre nos Estados Unidos e que certamente chegará ao Brasil com a popularização de captura de dados através de telemática. "Muitos segurados têm entrado com ações contra seguradoras pelo uso indevido ou sem autorização de seus dados. Uma questão correlata é a da privacidade: não são poucos os segurados que não querem ser monitorados 24 horas por dia", pondera.

Outro ponto negativo é que, com a venda massiva de produtos do tipo "pay as you use" e "pay as you drive", as seguradoras terão uma queda significativa de receita, como teme a Porto Seguros, dado que os clientes passarão a pagar apenas quando estiverem com o carro em uso ou com a forma como usam. "Apenas clientes que são bons motoristas optarão por essa modalidade, pois sabem a priori que pelo fato de serem mais cuidadosos, pagarão menos".

Carlos Eduardo Mazon, COO da Capgemini Brasil, afirma que a telemetria, uma das vertentes da Internet das Coisas (IoT), é um novo mundo para as seguradoras. A recepção dos dados pode inverter o processo de acionamento de sinistros, que podem ser então iniciados pela seguradora ao invés do segurado, o que permite uma maior proatividade no atendimento de situações de emergência em que o usuário necessite de auxílio. "Essa é uma grande mudança para as seguradoras que até então sempre foram passivas ao acionamento do segurado e as empresas que melhor aproveitarem essas facilidades tendem a diferenciar seus produtos em customização e precificação", afirma.

Além disso, acrescenta, as seguradoras que implementaram produtos baseados no comportamento do segurado (no inglês UBI - User Based Insurance) terão uma infinidade de novas possibilidades e de consequente geração de novos negócios. A tecnologia está lançada e quem decidirá a partir de agora é o consumidor.

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