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Excesso de multas torna 'millennials' arriscados

Fonte: Valor Econômico

Por Jiane Carvalho | De São Paulo

Saint'Clair Pereira Lima, do Bradesco: rastreadores identificam bom cliente

Personalizar é a palavra de ordem quando o assunto é medir o risco para a emissão de uma apólice de seguro automotivo. A evolução dos modelos utilizados foi marcada por critérios hoje considerados grosseiros, até a inclusão do QAR (questionário de avaliação de risco) há mais de uma década. Além de o QAR passar por constantes melhorias, as seguradoras nos últimos anos incluíram uma quantidade enorme e diversificada de informações como parte do processo decisório. Novas tecnologias, como a telemetria, começam a ajudar no refinamento dos modelos de medição de risco e definição dos prêmios do seguro auto.

"A telemetria será fundamental por ser uma ferramenta que olha o comportamento individual, permitindo um processo ainda mais justo na aceitação do risco e definição do prêmio", comenta Claudio Pasqualin, diretor de produtos e desenvolvimento de negócios da TransUnion, empresa que dá suporte às seguradoras no processo de medição do risco, citando a necessidade de olhar mais de perto a geração chamada de millennials (de 18 a 35 anos).

Pesquisa da TransUnion nos EUA revela que os millennials são os mais "perigosos" para as seguradoras porque recebem mais multas relacionadas à distração ao volante do que qualquer outra geração: 1,8 vezes mais que a geração X (de 35 a 49 anos) e 2,4 mais que os baby boomers (de 50 a 64).


"Já tem aplicativo de olho neles, mas ainda falta um padrão", diz Pasqualini, destacando a necessidade de agregar outras informações no processo. "Além do que é declarado, via perfil, e da análise de crédito clássica, as seguradoras se abastecem de informações públicas como quem declara IR, se tem Bolsa Família e se teve punição no trânsito, por exemplo, para refinar o modelo". O peso das informações na avaliação de risco e definição do preço, diz o executivo, depende da estratégia de cada seguradora, como busca de market share, melhoria da rentabilidade ou redução de sinistros.

Na Porto Seguro, a telemetria é utilizada desde 2014 nos veículos dos segurados jovens, de 18 a 24 anos, que recebem um desconto de 30% no prêmio do seguro auto, desde que aceitem utilizar um rastreador. O equipamento mede duas métricas. Uma é o tempo rodado da meia-noite até as 5h30 da manhã: ficando por até 5% do tempo neste horário é um bom risco. A outra métrica é o tempo que ele circula dentro do limite de velocidade das vias, se em 95% do tempo circulando está no limite das vias é também um bom risco. "Os jovens são avaliados ao longo de 12 meses e na renovação podem manter os 30% de desconto ou reduzir. Na média, fica entre 18% e 20%, que é o esperado por nós", diz Jaime Soares, superintendente do Porto Seguro Auto. O projeto, na Grande São Paulo, já conta com 90% de adesão.

Na Bradesco Seguros, há três anos, parte da frota usa rastreadores não apenas para recuperar o veículo, em caso de roubo, mas também para abastecer a base de dados com informações sobre o comportamento do condutor. Hoje, 120 mil veículos têm rastreador, ou 8% da frota segurada. "Na maioria das vezes, exigimos o uso em locais de alto índice de roubo", diz Saint'Clair Pereira Lima, diretor-técnico de Auto/RE do Grupo Bradesco Seguros. O equipamento manda informações on-line sobre as áreas em que o veículo circula, distância média percorrida, velocidade e consumo, que passam a compor a avaliação de risco do segurado na renovação da apólice. "Não usamos para elevar preço, mas para identificar o bom cliente, calibrar o preço para retê-lo", explica. "É uma avaliação personalizada que pode revelar um motorista de 20 anos que pela idade seria risco elevado, mas com comportamento de baixo risco".

Já o processo de coleta de dados gerais do condutor ocorre de forma semelhante às demais seguradoras, via questionário declaratório e também colhidos no mercado. Mesmo quem nunca teve um seguro Bradesco, mas cotou nos últimos anos, entra para o banco de dados. "No momento em que ele cota o seguro conosco já temos acesso a dados como idade, região, se tem filhos, sinistros anteriores e vamos nos abastecendo de informações para montar um histórico e medir de forma mais precisa seu risco". Os dados declarados no questionário também são checados, cruzando com informações da Receita e de outros sites públicos. "Buscamos um match, é uma espécie de auditoria digital".

Na SulAmérica, a tentativa de conhecer melhor o segurado levou à criação de uma área específica para estudar as chamadas variáveis não estruturadas, o que inclui perfil em redes sociais, como Facebook ou Instagram. "São variáveis externas ao seguro que estamos olhando para ver qual o impacto na medição de risco. Tem variáveis sendo testadas para entrar no modelo e outras saindo", diz Eduardo Dal Ri, vice presidente de auto e massificados. Do lado das variáveis que perdem relevância, segundo o executivo, estão os dados de crédito tradicionais, como ter o nome negativado por cheque devolvido ou carnê em atraso, já que são cada vez menos usados.

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