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Modelos de subscrição de risco ficam mais precisos

Fonte: Valor Econômico

Por Jiane Carvalho | Para o Valor, de São Paulo

Os últimos dois anos foram marcados por uma estratégia mais conservadora das seguradoras na avaliação de risco das empresas para a emissão das apólices. Como a saúde financeira das companhias é o principal item avaliado, o ambiente macroeconômico desfavorável pesou nos modelos de subscrição de risco. Para evitar um mau risco na carteira, além de um olhar atento aos números, as seguradoras também vêm incorporando novas tecnologias no processo decisório.

A Tokio Marine, que no ano passado unificou as equipes de avaliação de risco de produtos diferentes em uma única central, está promovendo outras mudanças na área. "Começaremos a usar drones como parte do processo de medição do risco em complemento ao trabalho do vistoriador, primeiro no seguro de property e depois no de garantia de obras", explica Felipe Smith, diretor executivo de produto pessoa jurídica da Tokio Marine.

A visão global proporcionada pelo drone aponta riscos no entorno das unidades seguradas. Outra novidade é um serviço de avaliação patrimonial das empresas que está sendo estruturado na Tokio. "Hoje, o seguro é feito em cima de uma avaliação do corretor e do segurado, mas para que o risco seja medido da forma mais precisa, com emissão adequada da apólice, precisamos melhorar esta avaliação", comenta Smith.


As mudanças na Tokio ocorrem como parte da adaptação para as novas regras do seguro garantia que, segundo o executivo, forçarão mudanças na forma de olhar o risco dos projetos. "A atenção especial para a avaliação financeira das companhias continua, mas a capacitação das empresas para aquela obra precisa ser mais bem avaliada para evitar erros", diz Smith, se referindo ao Projeto de Lei 6814, em tramitação na Câmara.

Pela proposta, o seguro garantia será emitido para cobrir até 30% das obras de grande vulto, contra os 10% atuais, além de as seguradoras terem se assumir os direitos e obrigações do contrato em caso de descumprimento. "Já tivemos uma piora macro e nos balanços, que nos fizeram mais cautelosos em relação à subscrição de risco, agora a nova regra exige ainda mais assertividade nos modelos. "

O gerente de produtos financeiros da corretora e consultora de riscos Aon Brasil, Maurício Bandeira, também destaca a evolução dos processos de medição de risco graças a novas tecnologias. "No caso do seguro de property, em que é necessário conhecer a estrutura da empresa, saber qual o tamanho da planta ou se está próxima de um rio, o trabalho foi facilitado pelo Google Maps", exemplifica.

O gerente também destaca a maior preocupação das seguradoras em subscrever um risco por conta da piora nos balanços. "É um trade off entre a análise de risco, o resultado da carteira e da seguradora como um todo", diz Bandeira, referindo-se aos pesos diferentes que são dados aos inúmeros itens analisados. "Pode ocorrer tanto de as seguradoras reduzirem os níveis de exigência para manter a carteira, quanto elevar os preços e reduzir disponibilidade de produtos. "

Na Austral Seguradora, que trabalha com seguro garantia, risco industrial e risco de petróleo, a opção foi por majorar os preços. Dos principais itens utilizados no processo de medição de risco - risco moral/caráter, balanço financeiro; e capacidade de fazer/know how - nos dois primeiros houve piora no quadro avaliado. "O risco subiu muito nos últimos anos, várias empresas entraram em recuperação judicial, o que cria dificuldade para as seguradoras, uma incerteza sobre os contratos", comenta Calos Frederico Ferreira, CEO da Austral.

No produto garantia voltado para obras de infraestrutura, a mudança no perfil das empresas licitantes também causou dificuldade na medição de risco. "Nos leilões de Linhas de Transmissão (LT), saíram construtoras, envolvidas em escândalos, e entraram institucionais como fundos de private equity e outros investidores, com dinheiro, mas sem a expertise naqueles projetos", comenta.

"Podíamos reduzir a exposição com menos apólices emitidas ou pedir novas garantias, mas entendemos que compensar o risco com a reprecificação é o melhor caminho, em alguns casos a majoração chegou a 50% ou mais", diz o CEO.

Na direção contrária foi a Pottencial Seguradora, que optou por uma postura mais cautelosa em relação ao risco no seguro garantia.

Segundo Ricardo Nassif Gregorio, diretor de operações de seguros, algumas empresas "foram mais afetadas pela crise econômica e a operação Lava-Jato, demandando maior rigor na análise e aceitação dos riscos tanto pela dificuldade financeira quanto pela imagem afetada." Na Pottencial, houve aumento de mais de 100% nas recusas de seguro garantia nos últimos 12 meses, informa Gregório.

Na J Malucelli, em que o seguro garantia responde por 95% das vendas, o vice-presidente Gustavo Henrich destaca a necessidade de os critérios de avaliação de risco incluírem análises setoriais. "Procuramos traçar uma previsão do cenário futuro para os setores dos quais nossos clientes fazem parte."

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