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Proteção ao crédito tem elevação de 19%

Fonte: Valor Econômico


Por Danylo Martins | Para o Valor, de São Paulo


Cristina Salazar, da FenSeg: "É justamente na crise que as empresas pensam em contratar um seguro de crédito"

Em época de recessão econômica, o seguro de crédito é um dos segmentos que costumam ganhar mais visibilidade e maior apetite por parte das empresas. Não à toa, o mercado cresceu 19% em 2016, puxado pelo avanço de cerca de 25% nos prêmios emitidos em seguro de crédito doméstico. A deterioração da economia trouxe consigo o aumento da inadimplência das empresas, que não conseguiram vender estoques e atrasaram ou deixaram de pagar os fornecedores. Também contribuiu para a piora do cenário a disparada no número de pedidos de recuperação judicial - alta de 55% em 2015, ante 2014, e de 44,8% no ano passado, segundo dados da Serasa Experian.

"É justamente na crise que as empresas pensam em contratar um seguro de crédito", explica Cristina Salazar, vice-presidente da Comissão de Riscos de Crédito da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg) e presidente da seguradora Cesce Brasil. Ainda assim, o produto não é muito conhecido pelas companhias no país. Como um todo, o mercado de seguro de crédito tem em torno de 650 apólices e não chega a uma fatia de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB), destaca a executiva.

Ao mesmo tempo em que registrou expansão nos últimos anos, o segmento teve de enfrentar um desafio: controlar o forte avanço da sinistralidade que, em 2016, atingiu 109% sobre os prêmios emitidos. "As seguradoras reduziram a exposição a setores arriscados e foram mais cautelosas com novos negócios", observa César Mariozzi, executivo de crédito da Aon Brasil.


Na Coface, uma das principais seguradoras desse mercado, a estratégia foi reforçar o monitoramento dos contratos comerciais e a área de análise de crédito. Com maior seletividade e cautela em relação a alguns setores, como automotivo, siderúrgico e construção civil, a seguradora conseguiu reduzir a sinistralidade de 130% em 2015 para 63% em 2016. "Quando a sinistralidade fica em um patamar mais aceitável, é possível assumir mais riscos. A gente acredita em um bom ano", afirma Marcele Lemos, presidente da Coface.

Desde 2013, a Cesce aplica uma taxa de prêmio variável conforme o risco do devedor (o cliente da empresa segurada), em vez de cobrar uma taxa única para toda a carteira. A classificação vai de 0 a 7, sendo 7 o nível de risco mais elevado. Em 2016, a sinistralidade da seguradora também foi inferior à do mercado, situando-se abaixo de 80%, segundo Cristina Salazar.

A executiva lembra que, quando a inadimplência dispara, as seguradoras não arcam sozinhas com o risco. "A sinistralidade é pulverizada entre grandes seguradoras e resseguradoras", aponta. A relação entre a arrecadação de prêmios e o pagamento de indenizações costuma ficar, na média, em torno de 50%, patamar que vem sendo retomado neste ano.

A melhora do índice está ligada à recuperação dos créditos inadimplentes. Após o sinistro, as seguradoras vão atrás da empresa que deu o calote para fazer a cobrança. "Em 2017, o setor tende a se beneficiar do efeito de recuperação de crédito de sinistros que já foram indenizados antes", destaca Cristina.

Outro fator que justifica o otimismo em relação ao segmento é o potencial de crescimento do produto, em fase de amadurecimento no Brasil, na avaliação dos especialistas. "A penetração ainda é baixa porque os empresários deixam de proteger os ativos circulantes, como contas a receber de clientes", diz Eduardo Cruci, gerente de linhas de crédito da AIG Brasil, que aumentou em cerca de 70% o market share nesse segmento em 2016.

Na contramão do mercado, que recuou 11% de janeiro a abril em relação a igual período do ano passado, a seguradora exibiu crescimento de 25% em arrecadação de prêmios na mesma base de comparação, segundo dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep). Parte desse avanço tem a ver com a maior procura pelo produto com cobertura não cancelável. "O risco fica coberto durante toda a vigência o contrato. Com isso, há previsibilidade para as vendas da empresa e, num eventual atraso de clientes, a seguradora faz o processo de cobrança e a apólice cobre a inadimplência", diz Cruci.

Além da indenização devido a calotes, as empresas têm mais vantagens ao contratar um seguro de crédito. Entre elas, estão o monitoramento da carteira de clientes e a possibilidade de usar a apólice como garantia em operações bancárias, como antecipação de recebíveis, exemplifica Fernando Cirelli, superintendente de linhas financeiras da corretora BR Insurance.

No caso do seguro de crédito à exportação, dizem os especialistas, outro grande benefício é a sondagem de novos mercados, com a análise de crédito dos potenciais clientes feitas pelas seguradoras. "Prospectar novos clientes se torna uma ação menos desgastante para a área comercial, por exemplo, pois a seguradora tem uma série de fontes de informação", diz Cristina, da Cesce.

Hoje, o seguro de crédito à exportação representa entre 10% e 15% dos prêmios do segmento. Mas a tendência, segundo Cirelli, é que ganhe força à medida que os estímulos ao setor sejam retomados.

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