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Dinâmica digital

Fonte: Valor Econômico
Por Denise Bueno | Para o Valor, de São Paulo

O uso da tecnologia chega aos poucos ao conservador mercado de seguros e começa a promover uma verdadeira revolução digital. Em julho, o mundo contava com mais de 1,6 mil insurtechs, empresas de tecnologia para seguros, segundo a consultoria CB Insights. Boa parte delas nos Estados Unidos, Ásia e Europa.

Nenhuma insurtech está no clube dos bilhões, como Netflix ou Airbnb em valor de mercado. Mas a nova-iorquina Limonade, a mais famosa entre elas, já rouba market share das três maiores seguradoras tradicionais e requisita a sua entrada no "Guinness Book" por ter pago uma indenização em apenas três minutos com o auxílio dos algoritmos.

O fato é que esse setor, com vendas anuais globais acima dos US$ 4,8 trilhões, está se reinventando para atender consumidores acostumados a pedir comida, fazer empréstimos ou aplicar recursos pelo aplicativo no celular. No Brasil há catalogadas 27 insurtechs. A maioria é de plataformas de corretores e tem como alvo disseminar a cultura de seguro, fazer a cotação de preço em várias companhias para o usuário e concretizar a venda.


Informalmente, o mercado estima que existam bem mais. Porém, elas só sairão do anonimato depois que a Superintendência de Seguros Privados (Susep) regulamentá-las, incluindo no bolo as cooperativas e associações que vendem proteção veicular pela metade do preço do seguro. E isso está na pauta do governo. A secretária-adjunta de Política Microeconômicas do Ministério da Fazenda, Priscila Grecov afirma: "Temos uma agenda focada em reduzir custos regulatórios, barreiras de entradas para agentes externos e ainda trazer para o ambiente regulatório setores à margem da lei como as cooperativas."

Para Carlos Alberto de Paula, coordenador do comitê da Comissão Especial de Inovação e Insurtech da Susep, as associações e cooperativas que vendem apólices de carro fazem parte de um mercado marginal de comercialização irregular de produtos similares a seguros. "As inovações são bem-vindas, mas precisam estar alinhadas às diretrizes do setor de seguros, que é um mercado regulado."

Os corretores inovam no atendimento para continuar sendo o principal elo de relacionamento entre consumidores e seguradoras. "A inovação nos beneficia à medida que somos especialistas e ajudamos os clientes a fazerem as melhores escolhas", diz Armando Vergílio, presidente da Federação dos Corretores, a Fenacor.


O desafio está em conquistar a geração millenium, que preza o consumo consciente e a cultura do compartilhamento. "As metas e métricas ambiciosas das empresas poderão não se confirmar, tendo em vista o desapego desta geração, que busca mais serviços do que proteção de bens que na verdade não almeja", afirma o sociólogo Sérgio Abranches.

"Como marketplace e startup, que conecta corretores, seguradoras e clientes, a thinkseg tem a missão de levar a cultura da inovação para esses diferentes públicos, inclusive o corretor. Queremos o avanço desse setor junto ao corretor", afirma André Gregori, CEO da insurtech que só interage com seu público através do mobile.

Para os corretores, a conectividade e big data são investimentos necessários para uma empresa de consultoria que se propõe a oferecer serviços diferenciados que ajudem empresas e pessoas a tomarem decisões. "E a tecnologia é um dos principais pilares para essa transformação", afirma Marcelo Homburger, vice-presidente da corretora Aon Brasil.

A Bradesco Seguros investe há mais de quatro anos na visão única do cliente. A plataforma integrada de seguros tem consumido mais recursos do que o próprio prédio sede do grupo inaugurado há pouco mais de um ano em Alphaville (SP). "A plataforma fará com que o grupo segurador desenvolva produtos combinados e orientados às necessidades de seus clientes. Muitos frutos disso serão mais percebidos em 2018", diz o presidente Octavio de Lazari Junior.

O grupo BB e Mapfre mergulhou há mais de quatro anos na inovação. "O ambiente digital está cada vez mais favorável ao cliente. O aviso de sinistro via web é uma realidade para os segurados de automóvel e para os produtores rurais", conta Mauricio Galian, diretor geral de tecnologia. "Uma novidade é que acabamos de fechar uma parceria com a Ace Aceleradora, que nos auxiliará na busca de startups, como provedoras de soluções inovadoras alinhadas a nossa estratégia."

A Porto Seguro, maior seguradora de carros do Brasil, já está no quarto ciclo de aceleração de startups. Até agora 19 novatas receberam investimentos, com as quais o grupo fez 80 projetos. "Paralelamente, atualizamos os sistemas da informação e de nossa infraestrutura de hardware e bancos de dados, com adoção chatbots, inteligência cognitiva e big data em alguns produtos e processos da companhia. Virtualizamos nossos servidores e migramos, seletivamente, alguns serviços para a nuvem (cloud computing)", conta Italo Flammia, CIO da Porto Seguro.

A Liberty Seguros, que acaba de lançar a marca Aliro, voltada para clientes que buscam produtos acessíveis, foi pioneira no uso de telemetria, que mede o comportamento do motorista. Se o cliente concordar em compartilhar informações, coletadas pelo sensor do celular, pode pagar até 30% menos e ainda receber ajuda para gerenciar riscos, como desviar de uma rota com alto índice de assalto, por exemplo. "A estratégia é ter precificação justa para o usuário com foco no comportamento de cada indivíduo", diz José Mello, superintendente de inovação.

Gabriel Portella, presidente da SulAmérica, afirma que a companhia iniciou uma verdadeira jornada de transformação digital dentro de casa, no que chama de garagem de inovação. "Temos observado grande receptividade dos clientes e corretores aos canais digitais, especialmente quando são utilizados para disponibilizar serviços e funcionalidades que facilitam o uso cotidiano do seguro." Entre as novidades, basta enviar uma foto do recibo do médico para solicitar o reembolso. O resto é feito por algoritmos, que em poucos dias concluem o processo.

A alemã HDI implementou o Go Digital, que busca melhorar processos e economizar custos de R$ 100 milhões em 2018 e de R$ 140 milhões em 2019. "O segurado manda foto da avaria no carro e em apenas quatro minutos temos o pedido de indenização para o conserto acionado com base nas fotos e algoritmos, metade do tempo necessário na forma anterior", conta o vice-presidente Fábio Leme. Um processo que agiliza os 25 mil sinistros processados mensalmente pelo grupo.

O CEO Luciano Snel conta que a Icatu constrói essa jornada há mais de dois anos, buscando envolver toda a companhia em várias frentes. "Não adianta implementar tecnologia de ponta sem antes mudar a cabeça da equipe para o digital." Uma forma de acelerar tal aprendizado foi exigir que todos os departamentos contratem startups para entender a dinâmica ágil e pró-cliente. Com isso já reduziu em 90% os formulários usados nas vendas.

"Temos um mercado tradicional rentável. Mas até quando?", questiona Ismael Tessari Grandi, superintendente executivo da BB Seguridade. "Se não fizermos a transformação digital, empresas como Amazon e Google vão conquistar nossos segurados."

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